A ilha da Boa Vista tem atravessado um dos períodos mais críticos em termos de desenvolvimento, tanto os seus habitantes como os visitantes estão unanimemente de acordo que a ilha tem o potencial para se tornar um grande destino turístico. No entanto, não compreendem porque até ao momento permanece estagnada – é a terceira ilha em dimensão no arquipélago, sem dúvida a que apresenta maior potencial para o desenvolvimento do turismo de "sol e mar" que atualmente Cabo Verde mais vende enquanto proposta turística, com a sua costa litoral circundada de praias de areia branca com boas condições balneares e para a prática dos desportos náuticos para além de oferecer uma riquíssima biodiversidade de flora e fauna marinha para os amantes de snorkeling e mergulho.
O desenvolvimento do turismo começou no curso destes últimos vinte a trinta anos, desde então houve uma falta de comprometimento político no acompanhamento do sector. Os primeiros investimentos foram feitos exclusivamente por iniciativa de alguns investidores externos na construção de resorts onde supostamente o Estado deveria ter complementado com a criação de requisitos mínimos; a construção das vias de acesso em estradas asfaltadas ou tanto menos calcetadas em vez de terra batida, a implementação de infraestruturas sanitárias de base, servicos de seguranca funcional entre outras atividades em falta. Com o passar do tempo aconteceu a transição política do delegado do governo ao sistema das autarquias, ainda assim as políticas para o sector permaneceram inalteradas.
Infelizmente não houve entre estes uma política de compromisso à altura dos desafios que a ilha apresenta, sucederam-se presidentes de diferentes cores políticas até chegarmos à atual Câmara do Presidente Cláudio Mendonca.
Certamente, o desenvolvimento infraestrutural da ilha não ficou a depender somente das condições económicas; até porque, com parte da entrada de receitas provenientes do turismo na ilha, poderia-se ter realizado esse projeto sem castigo.
Uma aprofundada observação das práticas políticas aplicadas ao sector no intento de identificar o ponto onde corrigir as falhas que levaram a este estado de estagnação e encontrar os pressupostos para uma superação política deste condicionamento
A introdução da Sociedade de Desenvolvimento Turístico de Boa Vista e Maio por um governo do PAICV e agora suportado pelo atual governo do MpD mudou o paradigma da política na ilha. Esta sociedade foi pensada para dar resposta política às necessidades do desenvolvimento turístico, foi dotada de um estatuto que permitia a intervenção directa em todas as obras de grandes ou pequenas dimensões a realizar na ilha.
A Câmara Municipal dispõe de um seu estatuto e de um gabinete técnico com capacidade para realizar qualquer obra autonomamente, porém, aos poucos a Sociedade tem assumido um papel preponderante em matéria de decisões que muitas das vezes são de legítima competência da câmara municipal. Na situação atual a SDTBM é a ente que gere as relações entre o governo e a Câmara Municipal, que tem a faculdade de gestão dos financiamentos previstos para o município caso único em Cabo verde. Os outros municípios mantêm uma gestão direta desses financiamentos, o único inconveniente é que a SDTIBM está em dívida com os bancos, todo o dinheiro que entra vai automaticamente transferido para cobertura da dívida.
Do seu lado, a atual gestão camarária se tivesse como desfazer-se desta aliança forçada certamente já tinha feito. O governo diz-se insatisfeito com este estado de situação mas ninguém toma a iniciativa de buscar soluções para por cobro de imediato a este desastre que tem agravado ulteriormente a condição dos munícipes e o município da Boa Vista. No entender de muitos, a solução passa por uma definitiva restituição das competências ao município concomitante com restrição das atividades da sociedade especificamente ligadas ao turismo e que haja una boa base de cooperação sem ingerências nos domínios de recíproca competência .
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