Linguagem simples, “terra à terra”, para uma sociedade livre e segura 
Ponto de Vista

Linguagem simples, “terra à terra”, para uma sociedade livre e segura 

Se não houver medidas sustentáveis de combate contra a miséria em Cabo Verde, a insegurança aumentará ainda mais, principalmente na cidade da Praia que tem servido de âncora aos deslocados das outras ilhas e do interior de Santiago, das periferias do país, que procuram na capital o que não conseguem nas suas origens…

A polícia pode, mas não consegue tudo e nem se deve empurra-la para um “jogo de tudo ou nada” ou de “mata mata” como dizia um experiente e célebre treinador de futebol, que queria ganhar tudo…

Se não houver medidas sustentáveis de combate contra a miséria em Cabo Verde, a insegurança aumentará ainda mais, principalmente na cidade da Praia que tem servido de âncora aos deslocados das outras ilhas e do interior de Santiago, das periferias do país, que procuram na capital o que não conseguem nas suas origens…

O problema se resolve com o emprego, a habitação, a educação, a saúde, o “empoderamento” das famílias empobrecidas, a proteção das camadas sociais vulneráveis (crianças, mulheres, idosos), agindo sobre os factores de risco…

As causas da insegurança são eminentemente sociais e devem ser contrariadas com medidas prioritariamente sociais…

Paralelamente ao aumento da criminalidade, a prostituição, que não se discute e nem se justifica com as estatísticas, está a crescer impiedosamente, indiscutivelmente… Isso faz parte do submundo da miséria…

O governo pode instalar mais 10.000 câmeras de vídeo-vigilância, aumentar mais 1.000 polícias, realizar “operações especiais de prevenção” de todo tipo e qualidade, aumentar as cadeias, agravar as penas, não conseguirá resolver o problema da insegurança que se tende a agravar, se não houver uma luta sustentável contra a miséria… Ao contrário, a solução do problema ficará adiado…

Fazem sentido políticas públicas ajustadas à realidade do país, com prioridades definidas em função da satisfação das necessidades das pessoas, de modo que cada centavo do erário público surta efeito na resolução dos problemas candentes da sociedade…

Uma coisa é combater a miséria, a pobreza extrema/estressante/desgastante… Outra coisa é o policiamento… Uma não exclui a outra… Tudo se conflui, tudo se complementa…

É sempre indispensável uma fiscalização policial, preferencialmente, eficiente e eficaz, como uma das medidas primárias de prevenção do crime e, consequentemente, um dos factores da garantia da ordem, segurança e tranquilidade públicas… “@s” policiais têm feito muito… Poderiam fazer mais e melhor, se tivessem melhores condições humanas e materiais… Há escassez de tudo…

A cidade da Praia carece de grandes investimentos em todos os bairros da periferia, de modo a melhorar as condições habitacionais (casas, electricidade, água, saneamento, etc.), promover o emprego, melhorar a saúde e a educação da população, mediante uma presença mais efetiva do Estado nas comunidades (escolas, descentralização de serviços, unidades territoriais de polícia e de saúde, etc.)… Tudo isso agrega valores para a promoção da paz social e, consequente, do bem-estar da população…

Na Praia, uma nova forma de organização da polícia pode provocar mudanças no ambiente comunitário e melhorar a fiscalização e a vigilância policial, mesmo sem que se aumente os efetivos policiais…

O que se tem de fazer, é uma melhor distribuição dos efectivos, abrindo pelo menos mais quatro esquadras, sendo uma nas distantes localidades de São Pedro/Latada, incluindo o bairro de casas para todos; uma que abrange as localidades de Bela Vista/Alto da Glória, Terra Branca e zonas contíguas; uma que inclui as localidades de Achada Mato, Achada Limpo (casas para todos), Jamaica, Paiol e zonas contíguas; por último, uma que inclui todas as localidades de Achada Grande Frente e Trás, incluindo o Porto e o Aeroporto… Com essa nova distribuição a polícia estará nas comunidades, mais próxima das pessoas… As outras actuais esquadras continuarão…

Deve-se ter em conta que a cidade da Praia cresceu muito nos últimos 20 anos, sem o devido planeamento e previsão, com muitos bairros desestruturados e sem as mínimas infraestruturas sociais…

Apenas uma nova distribuição de meios e de territórios… Isso implica uma certa desburocratização da polícia, reciclagem e treinamento do pessoal, colocando foco na função fundamental da polícia, distinguindo o subsidiário do fundamental, o auxiliar do principal, de tal forma que pelo menos 75% d@s polícias estejam na fiscalização/vigilância/investigação policiais, executando um ciclo completo de polícia, típico da função da PN…

Todos os polícias deviam ou devem ser bons polícias, indiscriminadamente, agindo proativamente, inteligentemente, com o mínimo de esforço, com menos trabalho!… É possível!…

A par disso, deve-se pensar na implementação de uma adequada frota de patrulha auto, com pessoal bem treinado e mentalizado, que atua de forma integrada e interativa, tanto na prevenção como na reação, o que reduzirá substancialmente as ações reativas das equipas de piquete… Haverá uma melhor prestação de serviço, menos desgaste fisico e mental do pessoal, menos violência policial, menos desgaste das viaturas, menos gasto de combustível nas deslocações de piquete e, acima de tudo, maior satisfação da população.

Se polícia é artista, o seu palco é o terreno nas comunidades, junto das pessoas que devem ser os seus fãs!!!

Miami, 11 de Maio de 2022.

P.S.:

Aos que não sabem, desde outubro de 2019, tudo que eu publiquei na rede social, fi-lo com absoluta liberdade, a partir dos Estados Unidos da América.

Antes de eu vir para USA, tudo que eu escrevi na rede social, em Cabo Verde, fi-lo no ativo, antes de me aposentar, com absoluta liberdade.

Eu gosto de escrever. Eu vou continuar a escrever à minha maneira, ao meu estilo, tirando o máximo proveito da liberdade e do sossego que Deus me deu. Haja vida e saúde!

*Artigo publicado pelo autor no facebook

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