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José Maria Neves é o Presidente necessário  *
Ponto de Vista

José Maria Neves é o Presidente necessário *

JMN é naturalmente Líder. Tem por si uma sólida Cultura Geral e formação académica, uma longamente sedimentada Formação Política, um invulgar percurso de Formador e de Gestor Público e, acima de tudo, um engajamento sem intervalos com as grandes Causas de Cabo Verde. Dito de outra forma, um permanente sentido do bem público nacional, da defesa intransigente dos interesses do Estado, dentro e fora das ilhas, e do imperativo que é, num país pobre que nem o nosso, servir as Pessoas. Queira-se ou não, ele é um dos Fazedores desta República – imperfeita, sobretudo na forma trapalhona como ainda (não) realiza certos dos seus encargos fundamentais, mas nossa! Ele corporiza um valor decisivo nos dias de hoje, qual seja o da confiabilidade.

Já o escrevi algures, os anos posteriores à Independência Nacional marcaram, de forma única, quem os tenha vivido. Historicamente, uma etapa única e irrepetível.

Foi nesses idos que conheci José Maria Neves. 1978. Corria o mês de Agosto. No contexto da Militância Política Juvenil, ele, estudante do ‘Liceu Domingos Ramos’, fora ao Mindelo para uma jornada de intercâmbio com os colegas, ou os camaradas, como se dizia então (e eu ainda digo, aliás), do ‘Liceu Ludgero Lima’. De resto, a luzente placa com o nome de Ludgero Lima ainda estava relativamente fresca na fachada do edifício e alguns com certeza ainda nos lembramos das peripécias na preparação do acto de descerramento.

O transporte da placa, desde a Fonte Filipe, fora uma odisseia! O Director do Liceu era o mui distinto Dr. José Augusto Monteiro Pinto, Professor de Filosofia, um dos animadores do ‘Suplemento Cultural’ em cuja edição singular, de 1958, ele publicara um ensaio sobre a escravatura negra em Portugal. Anos depois, e muito justamente, o nome dele seria atribuído ao novo Liceu, construído ao lado, na Torrada.

Mas no ano a que faço referência, o LLL e o LDR eram ainda os únicos liceus existentes no país e ambos acabaram por albergar acções várias no quadro da intensa agenda nacional nos planos político, social, cultural e desportivo. E desportivo, insisto! Não foram poucas as caravanas de jovens que sulcaram os mares do arquipélago para intercâmbios em diferentes modalidades. Tempos de descoberta e enriquecimento mútuo, mas igualmente sob um bem explicito desígnio de unidade nacional. Dessa época o arranque dos famosos Jogos Escolares.

No plano cultural, e a mero título de exemplo, no ano de 79, o LLL acolhera o histórico ‘Colóquio Linguístico sobre o Crioulo de Cabo Verde’, organizado pelo então Ministério da Educação, Cultura, Juventude e Desportos, e os jovens, então politicamente enquadrados e culturalmente curiosos e sedentos, estiveram fortemente envolvidos na logística de tal evento, tendo inclusivamente assumido a alta responsabilidade pela gravação das sessões.

A meu ver, um conceito ainda por explorar na leitura, com o necessário distanciamento crítico, desses tempos de todas as rincadas é o da generosidade.

Adiante! Lembro-me que fomos ao Aeroporto de São Pedro acolher o JMN e o António (Tonecas) Évora. Ficaram instalados na emblemática ‘Chave de Ouro’. Logo no dia seguinte começámos a cumprir o programa da estadia, tendo sempre o LLL como tecto. Foram escassos mas intensos dias de debate sobre temas diversos, do Trabalho Político à Cultura, à Comunicação, à compreensão partilhada dos ingentes desafios que se colocavam ao país ainda recém independente... Tempos de generosidade, de conversa franca, de um desejo genuíno de discernir e ser parte. Tempos de crescimento e afirmação e que são recordados com soltura de alma e a serenidade de quem está bem consigo mesmo e com o seu percurso. Mas, na jornada de que falo, houve igualmente espaço para convívio, para visitas de contacto. Penso que ainda fomos à Salamansa, que então ficava muito mais distante (entenda-se...), ver o trabalho aí desenvolvido e apreciar um jeito muito afável de receber. De algum modo, JMN cativou e foi instintivamente ‘adoptado’. Depois, com afecto dizia-se ‘Camarada Zé Maria’ e já se sabia que era ele.

Penso que ele soube manter amizade com todos quantos conheceu nessa altura. Teve sempre um carinho especial por Mindelo. Sobre isto tive, aliás, o ensejo de registar testemunho quando, há já alguns anos, coube-me a honra e o gosto de ser apresentador, em São Vicente, mais exactamente em cerimónia no pátio da Réplica, do livro de JMN ‘Uma Agenda de Transformação para Cabo Verde’.

No meu caso, as curvas da vida foram-nos permitindo estar juntos em vários combates, sempre cultivando a amizade, o companheirismo e um constante sentido de Causas. De modo particular, foi para mim honra enorme ter sido por ele, em 2001, chamado para servir no Governo da República, o que me proporcionou a oportunidade de ser parte de uma etapa marcante na História da Governação em Cabo Verde e, também nesse contexto, apreciar o forte sentido de modernização que motiva JMN.

JMN é naturalmente Líder. Tem por si uma sólida Cultura Geral e formação académica, uma longamente sedimentada Formação Política, um invulgar percurso de Formador e de Gestor Público e, acima de tudo, um engajamento sem intervalos com as grandes Causas de Cabo Verde. Dito de outra forma, um permanente sentido do bem público nacional, da defesa intransigente dos interesses do Estado, dentro e fora das ilhas, e do imperativo que é, num país pobre que nem o nosso, servir as Pessoas. Queira-se ou não, ele é um dos Fazedores desta República – imperfeita, sobretudo na forma trapalhona como ainda (não) realiza certos dos seus encargos fundamentais, mas nossa! Ele corporiza um valor decisivo nos dias de hoje, qual seja o da confiabilidade.

E é evidente que, em matéria de gestão das coisas do Estado, nada se alcança sem trabalho sério ou por decisão repentista apenas. Não há Estadista sem percurso. Quem, neste Outubro que já está ao virar da esquina, é chamado a exercer o direito de escolha democrática entre vários candidatos presidenciais tem de poder ler os percursos e encontrar neles razões para crer nas motivações e propostas que conduziram à decisão de concorrer ao mais alto Leme da República. Vêm aí, por conseguinte, debates acalorados e necessariamente com elevação e substância. Muito mal estaríamos se os candidatos presidenciais não contribuíssem para subir a fasquia na conversação política nacional! Ou seja, os ‘debates presidenciais’, em sentido amplo, têm de ser momentos de enriquecimento da República, de valorização do cargo em disputa e de reforço da auto-apreciação colectiva.

Em escritos de diversa natureza, tenho, ao longo dos anos, procurado contribuir para a análise, a um tempo sustentada e crítica, do quanto a Governação JMN e o seu compromisso com os desígnios nacionais significaram de transformação do país. Vou procurar ir dizendo algo mais nos dias mais próximos.

Com Germano Almeida, também acredito que JMN é o ‘Candidato Necessário’ nas eleições presidenciais que se avizinham. Cabo Verde precisa dessa confluência, que ele incarna, de vastíssima experiência, de profunda compreensão dos desafios e oportunidades que se apresentam ao país, de aptidão para exercer, com equilíbrio e elevação, o papel de Árbitro e Moderador do sistema político, de lucidez para desenvolver o manancial de diálogo e influenciação que a Magistratura Suprema contém, de abertura de espírito para ouvir e estar com todos, congregar e abraçar, de frescura intelectual e uma imensa, contagiante também com certeza, vontade de levar Cabo Verde a patamares muito mais elevados. A Chefia do Estado de Cabo Verde precisa de um Momento JMN!

 * Título escolhido pela redação

** Artigo original publicado pelo autor no facebook

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