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Estatísticas do mercado de trabalho são feitas para ludibriar ainda mais os desatentos
Ponto de Vista

Estatísticas do mercado de trabalho são feitas para ludibriar ainda mais os desatentos

Debrucemos sobre o DESEMPREGO JOVEM, mais propriamente sobre a INATIVIDADE JOVEM:

Segundo técnicas do INE, população economicamente ativa é aquela constituída por indivíduos aptos para trabalhar e população economicamente inativa é aquela constituída por indivíduos que, por um motivo ou outro, não procuraram emprego nas últimas 4 semanas anteriores a um inquérito.

A população jovem ativa encontra-se dividida em duas faixas etárias: 15 a 24 anos e 25 a 34 anos. Neste caso, é considerado jovem ativo aquele que tiver idade compreendida entre 15 e 34 anos inclusive.

Em 2018 o número de inativos nas faixas etárias 15-24 e 25-34 anos foi de 66.769 e 28.161 respetivamente. Isto é, o número de jovens inativos foi de 94.930, mais do que o quadruplo do número de desempregados nestas faixas etárias.

Digamos que o cálculo da INATIVIDADE é a forma que se tem usado para ludibriar os mais desatentos sobre o DESEMPREGO JOVEM. Vejamos quais são os motivos (respostas mais frequentes) que levaram os jovens com idade compreendida entre os 15 e os 34 anos a não procurarem emprego em 2018.

Motivos/respostas considerados claros e aceitáveis nas contas da inatividade:

  • A frequentar aulas - De facto, quem esteja a frequentar aulas tem que dedicar o seu tempo aos estudos. A frequência de aulas foi a razão de 41241 jovens (43,4% de inativos) não estarem a trabalhar em 2018;

  • Invalidez, doença, acidente ou gravidez – naturalmente que um jovem numa situação de invalidez, ou que esteja doente, acidentado, ou ainda grávida, no momento de um inquérito sobre emprego não se encontra apto para trabalhar. Embora muitos dos casos se configuram passageiros. Em 2018, 5147 jovens (5,4%) se encontravam nesta situação e por isso não se encontravam a trabalhar;

  • Responsabilidades pessoais ou familiares – aceita-se este motivo embora com alguma limitação, pois os critérios de inclusão das respostas nesta categoria não são claros. Em 2018, 8524 jovens (9,0%) alegaram ser esta a razão de não estarem a trabalhar;

  • Não tem idade – é evidente que jovens de 15 aos 17 anos não atingiram a maioridade que lhes permite procurar emprego. Em 2018, 1346 jovens (1,4%) consideraram ser muito novos ou muito idosos para trabalhar;

  • Reformado – obviamente que um jovem reformado não se encontra apto a trabalhar. Somente 99 jovens (0,1%) se encontravam nesta situação em 2018; e

  • Proprietário – aceita-se este critério, embora não se encontra clarificado. Presume-se que se trata de jovens que apesar de serem donos das suas propriedades, não auferem rendimentos do trabalho daí provenientes. Vivem dos dividendos. Somente 19 jovens (0,02%) deram este motivo de não estarem a trabalhar em 2018.

Motivos/respostas considerados pouco ou nada claros e não aceitáveis nas contas de inatividade:

  • Não há qualquer emprego – ao se perguntar a um jovem o motivo de não estar a trabalhar e ele responde que não há emprego, o que quer dizer isso? Quer dizer que ele já procurou demais e já desistiu de procurar. Mas, isto não é desemprego porquê? Em 2018, 18802 jovens (19,8% dos inativos) tiveram isto como motivo de não estarem a trabalhar;

  • À espera de respostas de empregadores e de concursos – um jovem parado e a espera, muitas vezes por o quê não vem, não se encontra desempregado porquê? Como sabemos, os concursos não são confiáveis, e a resposta esperada tem mais probabilidade de ser negativa do que ser positiva. Temos quase 100% de certeza de que se se perguntar a qualquer jovem se acredita nos concursos ele vai dizer que não. Em 2018, 1256 jovens (1,3%) se encontravam a espera de respostas positivas de empregadores e de passarem nos concursos de emprego para se poder ter um emprego, por isso não procuraram emprego;

  • À espera para retomar o emprego anterior – pode-se dizer que enquanto a espera se perdure o jovem está desempregado. E se esperar 1 ano ou mais? Portanto, caricato não! Somente 694 jovens (0,7%) deram este motivo de não estarem a trabalhar em 2018;

  • Ausência de requisitos para trabalhar – mas, quais requisitos? Falta de braços que não é, porque se fosse, não seria enquadrado nesta categoria. Se for falta das competências necessárias, o motivo do jovem não trabalhar, porquê que esta situação não é de desemprego? Em 2018, 736 jovens (0,8%) alegaram ausência de requisitos como motivo de não estarem a trabalhar;

  • Irá iniciar um negócio – ao nosso ver até o negócio iniciar o jovem é desempregado. Muitos jovens respondem assim pelo motivo de estarem esperançosos por causa das várias promessas de facilidades de financiamento de iniciativas jovens que muitas vezes não passam disto. Muitos deles na realidade encontram-se numa situação de espera de decisões de financiamento que na realidade não saiam por conta dos riscos elevados que os bancos detetam nos projetos muitas vezes mal elaborados e/ou inviáveis. Em 2018, 119 jovens (0,1%) deram esse motivo de não estarem a trabalhar;

  • Não declarado – é duvidoso o enquadramento de respostas nesta categoria. Percebe-se que as respostas evidenciam não declaração dos jovens se estão ou não empregados. Pergunta-se, vivem do que? Portanto, estão mais para desempregados do que outra coisa. Em 2018, 10165 jovens (10,7%) não deram motivo nenhum de não estarem a trabalhar;

  • Outras – como se nota, pode-se configurar o que se quiser nesta categoria. Os critérios não são claros. Os jovens que dão respostas diversas todas desenquadradas das categorias acima, só podem estar no desemprego. Em 2018, 5852 jovens (6,2%) deram motivos diversos de não estarem a trabalhar;

  • Não sabe/não responde – se o jovem não sabe porque motivo não procurou trabalho é porque naquele momento não quis responder. Mas, isto não implica automaticamente que ele não é desempregado. Em 2018, 930 jovens (1%) não responderam ou não souberam responder qual era a razão de não estarem a trabalhar.

Em fim, são várias as razões infundadas e facilmente manipuláveis que servem para retirar da categoria de desempregado um jovem. É uma tática no sentido de aproveitar a desatenção de quem fica somente por um ouvir dizer do assunto e de quem tira conclusões só por uma análise superficial das estatísticas que são produzidas.

Pela nossa análise crítica ao sistema estatístico da inatividade, dos 94930 jovens considerados inativos pelo INE, somente 59,4% (56376) são efetivamente inativos. Os outros 40,6% (38554) são na realidade, desempregados que, por estratégias manipuladoras dos índices de desemprego, fizeram-se contar no número de inativos.

Uma correção ao número de jovens inativos, implica extrair os que na realidade, são desempregados e fazê-los contar na população jovem desempregada. O quadro seguinte ilustra as correções à taxa de desemprego jovem, motivadas pela nossa análise:

Nota-se que se todos aqueles jovens que foram contados como inativos por aquelas razões consideradas inaceitáveis, fossem contados como desempregados, a taxa de desemprego jovem (faixa etária 15-34 anos) seria de 53,6%. Esta taxa evidenciaria tudo aquilo que realmente a população jovem tem sentido no dia-a-dia e que têm reivindicado. O desalento é evidente. Em toda a parte o desemprego está na ponta da língua quando se queira referir os problemas que afligem os jovens.

Digamos que é preciso rever as estatísticas da INATIVIDADE. É necessário dissipar toda e qualquer margem de manipulação da informação estatística, que pode acontecer tanto na colheita de dados, como na sua introdução e análise. Assim sendo, a medição da taxa de desemprego jovem ficaria muito mais fiável e a inatividade deixaria de ser uma forma de maquiar o desempenho de nenhum governo em matéria de criação de emprego e, obrigatoriamente, os jovens ganhariam uma atenção muito mais especial em matéria de políticas do seu interesse.

Enquanto isso não acontecer, cabe a cada um esmiuçar as estatísticas e tirar as suas próprias conclusões. Como se sabe os governantes fazem sempre uma leitura de evolução positivíssima dos indicadores para informar aos desatentos e dar matéria aos seguidores para esses viralizarem nos medias.

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Redação