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“Como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão!” (i) Nicolau Maquiavel
Ponto de Vista

“Como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão!” (i) Nicolau Maquiavel

É uma série de dois ou três artigos de opinião com os quais vou “conversar” com o célebre escritor e pensador Nicolau Maquiavel, quando ele escreveu o quão “perigoso é libertar um povo que prefere a escravidão”.

Os fundamentos desta prosa com Maquiavel baseiam-se:

1.       Nos quinhentos anos de dominação colonial portuguesa que deixou no DNA e no subconsciente do povo cabo-verdiano o medo e a opressão;

2.       Quase cinquenta anos de Cabo Verde como estado soberano capturado pela corrupção e pelo domínio de uma oligarquia avarenta e egoísta, que despreza o equilíbrio social e que, por isso, incrementa as desigualdades sociais, a pobreza, o desemprego, a violência urbana e a privatização dos serviços públicos básicos, como a saúde e a educação, tudo em benefício dos seus interesses, das suas empresas e dos seus lucros.

Assim, sendo, é verdade, Nicolau!

Verdade, Nicolau, como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão e que, por isso, está conformado com um salário mínimo de treze mil escudos, que não chega nem para alimentação e muito menos para as outras de despesas mínimas de existência.

Que vive enganado por uma teoria da pobreza que alimenta a riqueza desta oligarquia dominante e que defende, em nome da defesa dos seus interesses egoístas, que o país é pobre e que não pode oferecer uma vida digna aos cabo-verdianos.

Sim, Nicolau, um povo que vive no desemprego alarmante, porque é vantajoso para quem vive da exploração da mão-de-obra escrava cabo-verdiana, que é enganado nas campanhas eleitorais por um Primeiro-ministro que antes de aceder o poder, promete atualização salarial anual, mas que ao ser eleito e face à crescente perda do poder de compra do salário, arranja desculpas esfarrapadas para incrementar a miséria do trabalhador e aumentar o lucro da oligarquia que suportou financeiramente as suas campanhas eleitorais desleais e ilegais para com os seus concorrentes.

Verdade, Nicolau, como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão e devemos lembrar o Primeiro-ministro que o rendimento de um país (PIB) está distribuído nestas quatro vertentes: (1) salário, (2) lucro, (3) aluguer e (4) juros e estes três últimos rendimentos derivam do capital da oligarquia que este Primeiro-ministro defende;

Nicolau, o Primeiro-ministro sabe que se reduzir os ganhos da oligarquia que ele representa, reduzir lucro dos empresários, se reduzir os ganhos relacionados com o aluguer e se reduzir os ganhos dos Bancos, os juros, sobra espaço para o aumento do salário, é assim, Nicolau, que dou-lhe razão quando diz como é perigoso libertar um povo que prefere viver na escravidão!

Verdade, Nicolau, como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão e que está conformado com um sistema de saúde precário, que, em vez de ser um direito cujos custos são assumidos pelo erário público, o sistema nacional da saúde é cada vez mais tido como um mercado, no qual a oligarquia faz o lucro sobre a desgraça do cidadão, excluindo os que não podem assumir os custos da saúde.

Verdade, Nicolau, como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão e que está conformado com um sistema de justiça seletivo que fecha os olhos a quem enriquece à custa da opacidade dos negócios públicos, porque é a oligarquia dominante que beneficia com a corrupção dos terrenos e outros negócios públicos no campo dos transportes marítimos e aéreos.

Verdade, Nicolau, como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão e que está conformado com um sistema de justiça sobre o qual impendem duvidas de lisura dos seus agentes, mas que mantem preso, o DR. AMADEU OLIVEIRA, que denunciou as mazelas do sistema judicial cabo-verdiano e que, face a uma brecha, é mantido preso preventivamente em jeito de vingança e represália em consequência das denúncias que fez.

Verdade, Nicolau, como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão, pelo que, para não enfardar os leitores do Santiago Magazine, continuaremos a conversa num próximo artigo!

Praia, 9 de outubro de 2021 

Amândio Barbosa Vicente

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