Cabo Verde a saque!
Ponto de Vista

Cabo Verde a saque!

Povo de Cabo Verde. De Santo Antão a ilha Brava. Residente nas ilhas e na Diáspora. Em especial, filhos e amigos, de Santiago e Cabo Verde. O nosso país está a saque:

1. Territorialmente, as ilhas, todas, estão a ser "esquartejadas" e vendidas, publicamente nos vários mercados negros dos respetivos municípios, não importa se de domínio público marítimo ou, se património do Estado e do povo de Cabo Verde; As praias, especialmente aqui na ilha de Santiago e município da capital, estão a desaparecer (construções nascem, como cogumelos dentro do mar de Prainha e kebra kanela) numa mistura levedante em que encontrar linhas que divisem os gestores do município e empresas imobiliárias promotoras, em que não se consegue saber se o gestor municipal age enquanto tal, ou se enquanto gestor do seu negócio pessoal, porém, às contas do erário público (central e local). E as Autoridades centrais e locais? A Direção Geral do Património do Estado, e do Ordenamento do Território, a Autoridade Marítima e Portuária, a Provedoria da Justiça e em Ultima instância os poderes judiciais (neste particular, as minhas certezas de outrora, quase que ingenuamente inabalável, de que Magistrado algum seria capaz de fazer o uso do traje e título, em proveito de seus interesses pessoais e familiares, estão se esvaindo, e a caminhar para uma incredulidade jamais sonhada - que o tempo confirme o meu engano!);

2. Demograficamente, as famílias estão assoladas, nos campos e nas cidades, atingimos um nível tal, que nem mesmo as n/crianças são poupadas: i) mãe e sua filha desperecem, como fumos na cidade, há mais de três meses. E das autoridades seculares (executivas, legislativas, judiciais e locais?), NADA! Ao invés, sucede outro desaparecimento, a menina de Eug. Lima, e as autoridades, outra vez, NADA, nem mesmo diante de uma comovente manifestação da cidade; ao invés, sucedem assassinatos, como eventos normalíssimos: de agente de autoridade (da Policia Nacional); do jovem em Pedra Badejo, antecedido de um outro jovem no Tarrafal de Santiago e do cidadão da G. Bissau residente na capital; não nos esqueçamos de que a menina desaparecida é filha de um militar); ii) As nossas crianças, os n/adolescentes e jovens expostos a perigos mil. Em cada esquina e ruelas (bermas de estradas e caminhos e até nas de caminhos vicinais) mais esquecidos, plantam-se bares e quiosques de venda e distribuição de toda espécie de bebidas alcoólicas (importadas e as de lavras domésticas) com barulhos de sons (chamados de músicas) à mistura, em decibéis que envergonham os de qualquer festival, e muitos desses quiosques estão instalados às portas de escolas e liceus e, mesmo às das Universidades (a isso é chamado auto emprego ou empreendedorismo...). E das autoridades seculares e eclesiais? Ao costume, NADA!

3. Economicamente verifica-se um absoluto e acelerado desengajamento na edificação do país e um medonho empenho na desconstrução/destruição de todo um património construído pelo povo, do povo e Para o povo: i) Todas as obras em curso, principalmente as da ilha de Santiago, foram SUSPENSAS (ex: prédios por acabar de «casa para todos», transformados em depósitos de lixo pontos de encontro para esconsas e indesejáveis práticas); e, 2. Desmobilizados os investimentos em curso. E para o POVO? Sobram-se as dívidas resultantes desses investimentos abandonados pelo Executivo, a meio caminho (pior ki ka simia ê simia ka monda, dexa simentera perdi, pa faita di kudado) na txon di morgadu, renda ku simenti nu tem ki paga = juros e capital dos empréstimos investidos nessas obras, ora suspensas e abandonadas, o povo tem de os pagar.

3.1. Os investimentos até aqui feitos nas infraestruturas portuárias e aeroportuárias, especialmente os da Ilha de Santiago, são agora postos em causa, por interesses de alguns: i) o nosso sector dos transportes aéreo está a ser desmantelado prepotente e abusivamente. Em poucos meses os TACV - Cabo Verde Airlines, foi desmantelado, num processo manifestamente contra os interesses de Cabo Verde e dos santiaguenses, em particular (que a todos os títulos se saldam em maiores prejudicados); a parte doméstica ou nacional foi entregue a Binter- uma companhia estrangeira, que se diz de direto cabo-verdiano, porém, o centro das suas operações e decisões situa – se em canárias; e, de outra sorte, nem poderia ser. As 330mil ações que compõem (oficialmente o capital social da Binter) pertencem exclusivamente à Binter CV – Sociedade Unipessoal, SA, que embora, diz-se, de direitos cabo-verdiano (e na forma o é), o centro do seu comando é Canária, e os órgãos de gestão da Binter CV, curiosamente, são nomeados, em representação de outras sociedades, cuja legitimidade e termos em que participam numa sociedade unipessoal não são conhecidos. Onde param os nossos ATRs? Os da TACV?.

3.2. A TACV Internacional que operava com 2 boeings 757 e voava os céus do mundo, da Europa África e Américas, em pé de igualdade com as grandes companhias dos grandes países e, céus cruzavam que esses grandes não podiam cruzar (o que representa uma valiosa infraestrutura de movimento aéreo, invejada por muitos, cobiçada por todos e desconhecida do povo – seu dono, e, negada e destruída pelos dirigentes e lideres, enquanto depositários e guardiões do interesse e da esperança do povo que os legitimou); por quanto foi avaliado esse ativo que é nacional, de todos cabo-verdianos?

3.3. Os dois boeings, dados por velhos, um deles, tinha/tem 16 anos. Em seus lugares foram alugados dois boeings de 28 anos (quase dobro da idade dos que a TACV tinha antes). E a quem foram alugadas? À uma filial da Icelandair (especializada em aluguer de aviões) a quem, por sua vez, a Icelandair, enquanto gestora da TACV (contratada pelo Governo) recorre para alugar dois boeings com dobro da idade dos da TACV (dados pelo Governo, por velhos e inoperante) pela modica quantia de 574 mil dólares por quinzena (ECV 53.820.300), o que perfaz um total de 1.148 mil dólares (um milhão, cento e quarenta e oito mil dólares)= (ECV107.641.000)/mês;

3.4. Os trabalhadores (Pilotos, PNC, o Pessoal da manutenção e outras classes) que outrora, altivos, orgulhosos e livres, desfilavam ombro a ombro com os das concorrências nas pistas e corredores dos aeroportos do mundo, ostentando em visíveis hastes as bandeiras de Cabo Verde, agora são transformados em súbditos e vassalos de companhias que, até agora, ninguém sabe quem é, e que garantias/valia trás ao país e seu povo – os cabo-verdianos;

4. Cabo Verde nunca conheceu inimigo mais feroz e contra o seu povo, como nos dias atuais. Como é possível contratar a própria companhia interessada no negócio, para preparar os TACV para privatização? Que anestesia é essa que ao povo foi ministrada que não consegue reagir diante de tão manifesto e ostensivo assalto ao património nacional e ao erário publico? Por onde andam os homens pátrios (valentes e honestos) desta terra que me inspiraram a deixar as enxadas e empunhar lápis e cadernos, para aos 20 anos voltar ao Liceu de Santa Catarina, na manhã de 7 de Janeiro de 1986 (inicio do segundo trimestre) para estudar 7 ano de escolaridade (antigo 1 Ano do CG)? Onde estão os que comigo dividimos a luz dos postes público na cidade da Praia, para estudar, porque nas nossas mansões (inicialmente, obras em construção, para quem não sabe) não havia luz? Muitos dos quais, hoje a desempenhar importantes funções e até mesmo lideres municipais? Para que tanto sacrificamos, e os nossos pais connosco, se capazes não somos de construir trincheiras de saber e pontes de agir, para defesa dos interesses da nossa NACÃO? Te desafiamos (a ti aos Presidentes dos Município da Ilha de Santiago, das Organizações da Sociedade Civil, e não só) a mobilizarmos, como se, um só, fossemos, para uma posição, a da defesa dos interesses da n/nação e da Ilha de Santiago, a começar pelos TACV.

Silvino Fernandes –  Presidente da Direção da VdS

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