Ponto de Vista

É imperativo que os governantes de Cabo Verde deixem de ver a agricultura como um resquício de um passado rural. A visão míope que privilegia o turismo e os serviços em detrimento do setor primário está a comprometer a segurança alimentar e a dignidade do povo. A terra não é apenas um adereço pitoresco para as fotografias; é o alicerce da nação.

A chamada de atenção é direta: é preciso um compromisso real e não apenas retórico. Investir em tecnologias de rega eficientes, garantir o acesso a sementes de qualidade e criar mercados que ofereçam preços justos para os produtos locais é o mínimo que se pode fazer. A falta de apoio digno ao agricultor é uma traição, e o êxodo rural é a prova mais dolorosa disso. A terra grita por uma política que a valorize e que a torne uma opção de vida viável, não uma sentença de miséria.

A Mulher na Agricultura: A Coluna Vertebral Silenciosa

Neste cenário de crise, a mulher agricultora é a heroína esquecida. Ela é a coluna vertebral que sustenta o campo. Enquanto os homens emigram em busca de oportunidades, é ela quem permanece, assumindo o peso duplo de trabalhar na terra e de cuidar da casa e dos filhos. É a mulher que, muitas vezes sem acesso à propriedade da terra ou ao crédito, arregaça as mangas para garantir que a família não morre de fome.

​A sua luta é invisível, mas a sua presença é fundamental. O abandono do campo é um problema, mas o abandono da mulher no campo é uma calamidade. As políticas públicas devem reconhecer a sua centralidade e garantir o seu acesso a recursos, formação e direitos. A sustentabilidade da agricultura em Cabo Verde está intrinsecamente ligada à dignidade e ao empoderamento da mulher que a trabalha.

​O futuro de Cabo Verde não pode ser construído apenas com prédios e hotéis de luxo. Ele será edificado nos campos, nos vales e nas encostas. Mas para que isso aconteça, é preciso que a nação olhe para a sua terra e, acima de tudo, para o seu povo, com o respeito e a seriedade que merecem.