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A retoma do turismo em CV: momento de problematizar os conceitos e a prática
Ponto de Vista

A retoma do turismo em CV: momento de problematizar os conceitos e a prática

A Ilha de Santiago é a maior de Cabo Verde e constitui-se de quase uma dezena de municípios. Possui excelentes condições geofísicas e rica diversidade cultural. Por conseguinte, entendo que detém um terreno fértil para ganhar uma outra dimensão em termos de turismo. Daí, em meu entender, o eixo estratégico de relacionamento e promoção do turismo deve continuar a ser uma aposta mais assertiva dos poderes públicos e privados.Assim, custa me acreditar a razão porque os Municípios de Cabo Verde e de Santiago, em particular, não conseguem realizar uma única conferência nacional ou regional de Turismo, evento esse que deveria contar com palestrantes/apresentadores, representantes da comunidade geral de profissionais de turismo e pensadores criativos para debaterem e produzirem um documento orientador daquilo que se pretende para o nosso turismo.

Hoje, o dia começou com notícias sobre o retomar do turismo em Cabo Verde e a chegada ao Porto da Praia prevista para amanhã, dia 04, do primeiro dos muitos navios cruzeiros esperados para o ano de 2023. Percebi, na notícia e da entrevista de um dos responsáveis do setor, uma mescla de tristeza ao anunciar a boa nova, porquanto afirma que muitos agentes e operadores de turismo parecem estar à margem dessa retoma e da possibilidade de tirarem melhor proveito das oportunidades que o turismo oferece.

Ao tentarmos sair de uma situação de multipla crise, com alta taxa de desemprego e incertezas,  precisa-se perceber que esse movimento de pessoas que chegam a Cabo Verde deve oxigenar as economias nacionais, dos estados e, principalmente, das cidades que recebem esses viajantes.

Constato com alguma apreensão que, em Cabo Verde, virou moda para os políticos, executivos e altos funcionários falarem sobre o turismo e atribuindo a este a possibilidade de se conhecer locais diferentes, de diversão e para a economia, relegando as academias para um segundo plano. Parece que se esquecem do papel que as academias podem e devem desempenhar na revolução do pensamento da relação entre o turismo e a economia através de reorientação e atenção sobre a natureza coletiva e relacional da prática turística, onde se arrolam: pensamentos divergentes, transdisciplinaridade, co-propriedade, produção de conhecimento heterogêneo, limite de abrangência, tecnologia-intermediação, colaboração, diálogo e reflexividade enquanto características importantes.

As academias devem ensinar aos agentes e operadores turísticos das cidades que recebem esses viajantes como é que, em seu destino, o turista consome os mais variados serviços, como hotéis, restaurantes, transporte, comércio, espaços culturais, de lazer, entre tantos outros. A academia deve ainda identificar o tipo de turismo que se deve proporcionar, e como se dá esse processo interativo e relacional entre ações/reações de produção/consumo para que o turista tenha uma interação educativa, emocional, social e participativa com o lugar, sua cultura e seus residentes de modo a que todos se sentem nesses destinos como cidadãos.

Nenhum cabo-verdiano deve sentir-se feliz com a retoma do turismo quando sabe que agentes e operadores não estão tirando melhores proveitos dessas visitas. Os nossos operadores não são estáticos. Precisam ser mais capacitados para que sejam bem-sucedidos, multidimensionais e diversificados na prestação de serviços.

A Ilha de Santiago é a maior de Cabo Verde e constitui-se de quase uma dezena de municípios. Possui excelentes condições geofísicas e rica diversidade cultural. Por conseguinte, entendo que detém um terreno fértil para ganhar uma outra dimensão em termos de turismo. Daí, em meu entender, o eixo estratégico de relacionamento e promoção do turismo deve continuar a ser uma aposta mais assertiva dos poderes públicos e privados.

Assim, custa me acreditar a razão porque os Municípios de Cabo Verde e de Santiago, em particular, não conseguem realizar uma única conferência nacional ou regional de Turismo, evento esse que deveria contar com palestrantes/apresentadores, representantes da comunidade geral de profissionais de turismo e pensadores criativos  para debaterem e produzirem um documento orientador daquilo que se pretende para o nosso turismo.

Vários académicos e personalidades outras têm defendido que já é o momento de se repensar o Turismo em Cabo Verde. E, a notícia de hoje remete-nos para a necessidade de uma reflexão urgente sobre o necessário dinamismo e diversificação da atividade turística que contrapõe à ideia da passividade dos nossos agentes e operadores e da mera contemplação dos atrativos turísticos na ilha de Santiago da parte dos visitantes.

Determinante para os agentes e operadores turísticos, assim como para o próprio turista, seria acrescentar o aprendizado às atividades turísticas e a vivência do dia a dia, o autoconhecimento, o desenvolvimento pessoal, as experiências memoráveis e movimentar a economia do país. Neste quesito, não se deve ignorar as academias.

Sei que pesquisas e estudos sobre a “nova geração de turismo” em Cabo Verde é ainda incipiente. O desafio parece passar por pesquisas que possam apontar alguma visão sistémica da gestão estratégica e propostas que visem formas e desafios para a implantação de um programa no novíssimo segmento chamado de turismo criativo, invertendo assim as dificuldades de realizar avultados investimentos em promoção e marketing seguindo as fórmulas tradicionais.

Cabo Verde e a Ilha de Santiago em particular, devido às suas condições geofísicas e rica diversidade cultural parece possuir um terreno fértil para ganhar alguma dimensão em turismo, particularmente o criativo.  Daí penso que a aposta no eixo estratégico de relacionamento e promoção do turismo deve continuar a ser a aposta dos poderes públicos e privados.

Entendo que o poder público deveria articular a cadeia de novas estruturas e serviços e disponibilizar alguns espaços como por exemplo o Parque “5 de Julho” na Cidade da Praia, que pode ser transformado em um espaço criativo e que ali se forme o núcleo criativo de empresas que forneçam cadeias de serviços interativos para os turistas, como por exemplo: aulas de dança do folclore nacional e regional, oficina de artes visuais ou artesanato, aulas de dialetos locais, oficinas de gastronomia nacional e regional, palestras várias, participação dos turistas de forma ativa de movimentos e festivais criativos e outras manifestações culturais.  Uma integração que possibilitaria uma nova oportunidade de geração de renda e emprego em especial para pequenos empreendedores e microempresas, contribuindo cada vez mais para a diminuição do desemprego. Se assim for, estou convicto que o Parque “5 de julho” poderia conquistar uma outra identidade, uma outra linguagem, uma nova valorização e resignificação do espaço urbano e ajudaria na consolidação do turismo contemplando-o nos circuitos oficiais de visitação da Cidade da Praia e ponto de referência para a cultura, gastronomia e compras de quem visita a Ilha de Santiago e a Cidade da Praia. Mas, para que isso aconteça, é necessário o incentivo das autoridades.

Apelo, assim, a uma visão homeótropa dos presidentes das câmaras municipais de Santiago em sentarem à mesa para discutirem uma nova forma do turismo nesta Ilha, dada às potencialidades e diversidade dos concelhos, transformando a ilha no seu todo em um roteiro obrigatório e de excelência para os visitantes estrangeiros e nacionais.

Um bom ano novo a tod@s!

 

Luís de Pina

- Mestre em Administração -

BIBLIOGRAFIA

EREZ, M.; NOURI, R. (2010). Creativity: The Influence of Cultural, Social, and Work Contexts. Management and Organization Review, v.6, n.3, p.351–370.

FLORIDA, R. (2003). Cities and the Creative Class. City and Community. v.1, n.2, p.3-19.

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