Nos dias que correm, raros são os dias em que o Governo, o MpD e a sua trupe não atacam pessoas nas redes sociais apenas por criticarem a postura governamental (ou a falta dela) em diversas matérias de interesse nacional.
É de todo cristalino que o Governo começa, aos poucos, a pôr o comboio nos trilhos, isto é, o Executivo já dá sinais de que, com anos que já lá está no poder, acabou por aprender com os erros e comete menos falhas. Mas não é esse o problema, o que se passa é que, apesar de alguma maturidade governativa ganha em três anos de poder, todo o sistema está impregnado de um sintoma chamado populismo. E grassa no país de uma forma nunca vista.
Influência externa? Sede do poder, após 15 anos na oposição? As perguntas são várias e as respostas ainda mais diversas. O certo é que Cabo Verde não se blindou desse fenómeno: nem o Governo e o partido que o sustenta se precaveram desta onda de choque externa negativa, nem a sociedade civil se vergou perante este período da pós-verdade.
Eu vivo fora do país, mas acompanho sempre o dia-a-dia do meu arquipélago. E pelas informações que me chegam, noto por exemplo que as manifestações de jovens, um pouco por todo o país, com destaque para o Sokols, em São Vicente, e mais recentemente a de São Nicolau, evidenciam o grau de insatisfação vigente. Porém sem sucesso, porque logo rebatido pelo Governo alegando manipulação da oposição.
Dito de outro modo, nada que se critique hoje tem aceitação do Governo, que insiste em agir com demagogia e arrogância, baseado numa nova narrativa de comunicação que prima pela indiferença, às vezes, e, amiúde, pela política acusatória contra a oposição.
O Governo se escusa de se defender ou justificar, ataca apenas; se abdica de esclarecer, acusa somente. E, pior, mete tudo no mesmo saco, isto é, acredita que é mais fácil gerir quem o critica se os colocar no mesmo sítio. Qualquer manifestação ou reivindicação social é suficiente para o Governo e seus soldados das redes sociais apontarem ao PAICV, numa política óbvia de “quem não é por mim é contra mim”, mesmo que não sejamos militantes, simpatizantes ou amigos do PAICV.
Fica claro que o MpD e o seu Governo pretendem destruir pela raiz quem se lhe opõe com outras ideias, mas falha quando vê tudo amarelo. É o modelo Trump a vigorar em Cabo Verde: são todos iguais.
Há quem, por exemplo, que não sendo militante ou simpatizante de nenhum partido político, se tenha recuado nas suas convicções por puro medo. Há uns tempos Humberto Cardoso, director do expresso das Ilhas e ex-deputado pelo MpD, escreveu: muitas pessoas “por falta de confiança nos seus governos optaram por apoiar extremistas e demagogos seduzidos pelas promessas de soluções fáceis e rápidas para problemas complexos do país e da sociedade. No caso de países como Cabo Verde o desencanto com a democracia pode também vir do facto de os cidadãos e eleitores não se reverem nos partidos do arco da governação”.
E é verdade. Isto incomoda tanto o MpD, que através dos seus cabos, tenta desacreditar a imprensa, os críticos, as igrejas e a sociedade civil no geral com o argumento de que tudo que se está a dizer é fruto da manipulação do PAICV. Esta é a arte do populismo e da demagogia, que cheira a tirania em determinados casos. Em vez daquela máxima tirana “dividir para reinar”, o actual Governo prefere juntar para exterminar.
Esta é uma situação já tão enraizada que mesmo militantes de base do MpD se deixam levar nesta cantiga e contrapõem os reparos feitos ao executivo com truques baixos da oposição. Pois, o PAICV precisa crescer de facto e ser oposição de facto. Mas achar que todos nós somos manietados por Janira ou José Maria ou seja quem for é tratar cada cabo-verdiano por estúpido. E se o Governo e o MpD assim pensam é porque, efectivamente, é disso que vivem.
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