O Movimento para a Democracia (MpD, poder) considerou hoje que não há fome em Cabo Verde, mas situação de carência e o PAICV (oposição) entendeu que a bancada do partido que sustenta o Governo tem sido “hipócrita”.
No ponto das questões gerais da segunda sessão plenária de Fevereiro, que se iniciou hoje, a deputada do MpD Maria Trigueiro afirmou que mesmo com a pandemia a incidência da pobreza ficou 3.6 pontos percentuais abaixo da taxa registado em 2015.
Isto porque, considerou, “medidas atempadas e assertivas” foram tomadas pelo Governo para conter o “agravamento despoletado pela crise”.
No caso de São Vicente, continuou a mesma fonte, havia, em 2015, 20.129 pessoas em situação de pobreza extrema, baixou para 15.689, em 2019, e voltou a subir para 21 mil, em 2020.
“Ninguém está a negar a existência de situações de extrema carência em Cabo Verde, com muitas pessoas a viver no limiar da pobreza ou na pobreza extrema”, concretizou a deputada, pois “a situação não é nova, vem de há muitos anos”.
“Mas, melhorou consideravelmente a partir de 2016 em que a taxa de incidência da pobreza era de 35,2%, tendo baixado para 26% em 2019 e voltado a subir para 31,6% em 2020, como consequência directa e devastadora da pandemia da covid-19 e dos sucessivos anos de seca severa”, frisou.
Para a deputada, o Governo sustentado pelo MpD tem feito tudo para debelar a crise sanitária, económica e social, com “medidas emergenciais e excepcionais para salvar vidas, proteger as famílias e as empresas, salvar a economia e manter o país funcional”.
“Medidas importantes foram e vem sendo adoptadas para mitigar os efeitos da crise e acentuada perda de rendimento ou de emprego com efeitos nefastos na vida das famílias, na sua segurança alimentar e no seu equilíbrio psicológico e emocional”, disse, sublinhando que a sua bancada “não que minimizar o sofrimento das pessoas” e que ela é “sensível e solidária” para com o povo de Cabo Verde.
Por usa vez, a deputado do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição) Josina Freitas observou que não se está a falar de “mortandade, mas sim de fome” e que “as pessoas estão com fome, estão sem comer, não estão a morrer, graças a Deus, graças a todos os governos até então e à solidariedade de todos os cabo-verdianos”.
“Vamos deixar os partidos de lado e ver a realidade. Não vamos desrespeitar o que os cabo-verdianos estão a passar neste momento, que é um momento super difícil. Não é a oposição em São Vicente que já se despertou, é a população que sente-se desesperada e não sabem a onde ir, não saber onde recorrer (…). A verdade é só uma. É só dirigirmos aos bairros e veremos a realidade nua e crua que o Governo não quer ver e que a bancada que suporta o Governo fica na hipocrisia”, acusou Josina Freitas.
Nesta óptica, a deputada a União Cabo-verdiana independente e Democrática (UCID, oposição) Dora Pires entendeu que a fome é um fenómeno social, e que mesmo não sendo visível, a insegurança alimentar, ou seja, quando a pessoa não tem acesso regular e permanente a alimentos em quantidade e qualidade suficiente para a sua sobrevivência, “acaba por ser fome”.
“Quando a família é numerosa, quando não há trabalho, quando os jovens estão desempregados, quando o salário mínimo não ajuda as famílias a ter tudo aquilo que necessita, quando a pensão social também é baixa e com o aumento de tudo, realmente temos fome individual e temos fome na família”, concretizou.
Neste sentido, a UCID apelou ao Governo a analisar a situação, porque as instituições religiosas, privadas ou mesmo do Estado que tentam ajudar as pessoas, não estão a conseguir.
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