“Meu balanço na presidência da UCID não é positivo” – António Monteiro
Política

“Meu balanço na presidência da UCID não é positivo” – António Monteiro

O presidente cessante da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID), António Monteiro, considerou hoje que o balanço da sua presidência “não é positivo”, porque não conseguiu atingir objectivos como “romper com as maiorias absolutas”.

Em entrevista à Inforpress, António Delgado Monteiro, 60 anos, a poucas horas de deixar a presidência do partido que liderou por 16 anos, em períodos intercalados de 1997-2001 e 2009-2022, disse que abraçou a causa da UCID “ainda bem novo” e especialmente quando se tornou militante em 1992.  

Hoje, com todo este historial, admitiu que a presidência “não foi positiva”, uma vez que ficaram pelo caminho alguns objectivos, especialmente, nomeou, o de romper com as maiorias absolutas no parlamento cabo-verdiano e dar ao partido uma bancada parlamentar.  

Entretanto, considerou que deixa “uma UCID diferente” daquela que encontrou em 1997 e “muito diferente” da de 2009.  

“Temos conseguido, em cada eleição, aumentar o escore eleitoral sensivelmente em 50 por cento (%) e, portanto, em todo esse tempo o partido ganhou uma boa representatividade”, sublinhou o líder da UCID, com a consciência de que os ganhos foram acima de tudo em São Vicente, onde estão as bases partidárias.  

A nível das restantes ilhas, o partido, segundo a mesma fonte, não conseguiu atingir as metas como a de eleger deputados, por exemplo, em Santiago e Santo Antão.  

Daí, acreditar que a UCID é actualmente um partido diferente, mas não o suficiente para que possa sentir que fez “um excelente trabalho”.  

Questionado se houve alguma culpa do eleitorado no falhanço aos objectivos, António Monteiro voltou a assumir-se culpado, porque, como disse, poderá “não ter tido a pujança político-partidária para passar a mensagem da melhor maneira”.

“Considero ser uma pessoa muito sensível, e procuro ter entendimento e utilizo muito a diplomacia em muitas situações e pode ser que essa forma de fazer política poderá não ter dado garantias ao eleitorado, que poderá ter-me considerado uma pessoa branda”, precisou.  

O percurso como presidente também se fez com algumas celeumas dentro do partido, inclusive com o fundador Lídio Silva, que acusou Monteiro por várias vezes de “meter a UCID no bolso”.

António Monteiro garantiu ver essas críticas com “toda a naturalidade” e sem mencionar o caso específico de Lídio Silva, fez uma retrospectiva dos ganhos conseguidos pela direcção em São Vicente, até “de impedir que o partido morresse” em 2005, quando os então dirigentes o “abandonaram”.

“Criticar por criticar, todas as pessoas criticam, mas há pessoas que não me preocupam”, respondeu, admitindo ter um “grande respeito” por Lídio Silva, até “por causa da idade”.

Outras das questões com vozes discordantes também no seu do partido, foi a escolha de apoiar o candidato Carlos Veiga nas últimas eleições presidenciais, decisão que o líder da UCID assegurou que manteria se fosse hoje.  

“Na política há decisões que devem ser tomadas e as decisões não são tomadas de ânimo leve. Qualquer decisão tem que ter por base um objectivo e o que se quer para o País”, lançou, lembrando que em 2001 apoiou Pedro Pires contra Carlos Veiga, mas agora “ninguém fala nisso”.

 O apoio a Carlos Veiga desta vez “não foi unânime”, mas foi feita por “aquilo que interessava ao País”. Contudo, advogou, “foi mais uma derrota” que “apanhou” o partido e a sua pessoa.  

Mesmo assim, o líder cessante disse que não se sente frustrado com a sua postura como presidente, uma vez que não poupou esforços, “ultrapassando limites pessoais, quer a nível financeiro, quer a nível familiar”. 

“Sentir-me-ia frustrado caso não tivesse empregado a fundo as minhas capacidades e tivesse pura e simplesmente feito um passeio pela UCID, e não foi o caso. A entrega foi total, mais de cem por cento”, assegurou.  

António Monteiro espera agora que o seu trabalho possa ter continuidade, por ser a UCID um partido que “deixa muita falta ao panorama político e no parlamento cabo-verdianos” e augura que a nova direcção saída do XVIII Congresso, que se inicia hoje, corrija alguns erros que tenha cometido pessoalmente.  

Disse acreditar ainda que a lista única, liderada pelo colega João Santos Luís, com toda a sua equipa “dará uma maior garantia para o crescimento do partido”. 

“Por outro lado, não estou a abandonar a UCID e a minha experiência política adquirida até hoje vou continuar a dar”, sustentou António Monteiro, acrescentando que permanecerá como conselheiro do partido.  

Como projectos futuros pessoais, assegurou que quer retomar a sua profissão como engenheiro electromecânico e reassumir o lugar como quadro da Electra, um ensaio que já fez por duas vezes, mas que espera concretizar nesta terceira.  

O XVIII congresso da UCID inicia-se hoje, em São Vicente, e termina domingo, 27, com a participação de cerca de 200 congressistas, dos quais 90 de São Vicente, 41 de Santiago, 15 de Santo Antão, 13 do Sal, cinco do Fogo e os restantes das outras ilhas, além da diáspora.  

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