Para Emanuel Barbosa, o post de Miguel Monteiro contra o casamento gay “foi inoportuno, levando à polemização de um assunto que nem o Governo, nem o partido que o suporta tinham em pauta”.
Em vésperas da silly season, o casamento gay, ou melhor, o polémico post no facebook do deputado e secretário-geral do MpD, Miguel Monteiro, a afirmar ser “200% contra” a ideia, tende a tornar-se no folhetim deste verão para animar a malta.
Depois de o presidente do MpD e primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, vir ontem, 11, a público defender Monteiro, o deputado do seu partido, Emanuel Barbosa, entrou no terreiro para mostrar a sua insatisfação pela forma como o assunto foi ou vem sendo gerido pela direcção ventoinha.
Num post publicado ao final da noite de ontem, Barbosa, deputado eleito nas listas do MpD pela Europa, começa por dizer que está “0% preocupado com post dos 200% contra” e sim, que o interessa “versar sobre outra vertente, isto é, analisar as consequências para o MpD deste post, tendo em conta o facto de o seu autor ser o seu Secretário-Geral”.
“Pensar que a opinião do cidadão Miguel Monteiro vincula o MpD, é subestimar o que representa este nosso grande partido cujo quadro de valores e princípios foi conformado na sua fundação através da síntese de muitos pensamentos, reflexões, opiniões, etc., muitas vezes contrárias, e que se foi apurando com a incorporação de outros posicionamentos no decorrer da sua história”, introduz, para logo a seguir entrar no cerne da questão, indo, na prática, contra seu colega de bancada e contra o próprio líder do seu partido.
“Ocupar cargos de relevo no partido, como Secretário-Geral, apesar de nunca dever significar prescindir do direito da livre expressão e de coibir quem quer que seja de emitir as suas opiniões, deve levar a ter algum comedimento na exposição mediática, a refrear o efeito foguete de querer estar a brilhar no céu mesmo sabendo que de imediato irá cair no chão, a mostrar algum recato e responsabilidade para que se possa consolidar a percepção de que a pessoa está à altura do cargo que ocupa e que está em condições de bem representar uma instituição como o MpD. Mas, aqui, a responsabilidade é repartida entre o escolhido e quem escolheu… e mais não digo porque teria de escrever muito e muito mais e, quiçá, ser muito inconveniente”, observa Emanuel Barbosa.
O deputado ventoinha pelo círculo da Europa acaba por admitir que a declaração de Miguel Monteiro afecta directamente quer o MpD, quer o Governo. “O post em apreço, quanto a mim, foi inoportuno e precipitado, levando à polemização de um assunto que nem o Governo, nem o partido que o suporta tinham em pauta. E agora que este assunto veio à liça o Governo e o MpD vão assobiar para o lado e fingir que nada está acontecendo na esperança de que as coisas se amainem?”, questiona.
A seu ver, “o governo precisa de calmaria para executar o seu programa e já chegam as atribulações que aqui e ali, com certeza, irá encontrar em consequência das acções dos partidos da oposição, dos movimentos da sociedade civil, etc…, pelo que dispensa as provindas do próprio partido, ademais criadas pelos seus altos dirigentes. Com certeza, que o Presidente do MpD, Dr. Ulisses Correia e Silva, também, Primeiro-ministro de Cabo Verde, dispensa fogo amigo. Contar até três e respirar fundo antes de carregar na tecla e publicar, às vezes funciona e livra-nos de alguns dissabores”, conclui.
Esta não é a primeira vez que Barbosa segue uma linha diferente da do presidente do seu partido. Em Fevereiro deste ano, aquando da Convenção do MpD, o deputado pela Europa liderou um grupo de reflexão, o "Mais MpD", que obrigou o partido a adiar a aprovação dos novos estatutos por defender a separação entre cargos partidários e cargos de chefia na administração pública, coisa que Barbosa era contra. Já antes, publicara um post onde assumia o seu papel de eleito nacional afirmando que, sendo seu o mandato, não estava preso a ideias do partido que não lhe agradavam ou que punham em causa o bem-estar dos cabo-verdianos. Há poucos meses, criticou a embaixada de Cabo Verde em Portugal, já com Eurico Monteiro como embaixador, por, no seu entender, permitir que a Câmara de Lisboa demolisse muitas casas de cabo-verdianos em Santa Filomena. E faz isso tudo, disse-o na altura, porque foi "eleito para servir o povo".
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