O analista e poliglótico Vlademiro Furtado considerou hoje que as eleições de domingo resultaram em “grande vitória” do MpD, que em Dezembro de 2020, tanto o partido e como o seu líder, tinham uma “aprovação negativa do eleitorado.
O analista, que fazia um ponto de situação sobre as eleições legislativas à Inforpress, ressaltou que com os resultados provisórios das eleições pode-se concluir que o MpD e o seu líder conseguiram de Dezembro de 2020 a Abril de 2021 recuperar a confiança do eleitorado cabo-verdiano.
“Os dados provisórios indicam que obtiveram a maioria absoluta. Neste momento, só faltam dois círculos eleitorais para serem apurados, mas tudo aponta para uma maioria absoluta no parlamento, o que dará a Ulisses Correia e Silva uma margem confortável para governar nos próximos cinco anos”, sintetizou a mesma fonte.
Comparando o primeiro mandato de Ulisses Correia e Silva, que foi “negativa a volta de 34%”, com o de José Maria Neves, “muito positivo”, segundo Vlademiro Furtado, a vitória do MpD e do seu líder deve-se a preparação da base do partido e dos militantes que conseguiram dar volta à situação e do mandato, que “ficou marcado por polémicas”.
“Ulisses Correia e Silva soube disso, tanto que na sua primeira aparição agradeceu aos militantes e a base do partido, pois, sem esse apoio ele não conseguiria a reeleição”, disse, lembrando que a governação de Ulisses Correia e Silva aconteceu sobre vários problemas, começando pela seca e pandemia, pelos conflitos entre os ministros e a polémica pela aproximação ao partido Chega, de Portugal.
As eleições que ditaram a perda do PAICV e da sua líder, Janira Hopffer Almada, deve-se, segundo o analista, a problemas no seio do partido e com “o factor candidata mulher”, que “pesou” numa sociedade “patriarcal e machista”.
“Apesar disso, não podemos buscar a explicação da derrota do PAICV com o facto que as mulheres não votam na mulher, a explicação reside em outro aspecto, o que faltou ao PAICV foi uma certa coesão e unidade interna dos militantes”, sublinhou, lembrando que no parlamento, na maioria das vezes, os discursos políticos dos deputados do partido não alinhavam com a líder, sem esquecer, prosseguiu, a divisão provocada aquando da elaboração da lista para as eleições.
Ainda segundo o Doutor em Ciências Políticas, as eleições legislativas de 2021 saldaram-se em triunfo de alguns partidos, como o caso da UCID, que conseguiu aumentar o número de deputados e a sua consolidação político eleitoral em São Vicente, aumentando o seu eleitorado.
Da mesma forma, analisou, o PTS, que surgiu às vésperas das eleições, recrutando dois jovens activistas, os quais pautaram por um discurso “claro e objectivo”, tocando em “aspectos centrais” da governação e propondo alternativas.
Em relação aos demais partidos PP e PSD, o analista avançou que o primeiro, apesar de ser um partido que tem debatido os problemas do País, com o seu discurso “radical e de muita crítica”, não conseguiu os resultados preconizados e ficou atrás do PTS que, até às vésperas das eleições, estava “hibernando”.
“Nesse ponto de vista e apesar de alguma notoriedade do PP na imprensa, com balanço quinzenal sobre temas críticos do país, não conseguiu alcançar um resultado melhor. O eleitorado não avaliou positivamente as mensagens passadas pelo partido”, realçou.
Para o analista, a situação do PSD “é mais complexa”, já que se trata de um partido político que vem participando nas eleições desde os anos 90.
O PSD, segundo Vlademiro Furtado, assim como os outros partidos tem pautado pela “hibernação”, parecendo apenas nas épocas de eleições.
A abstenção de 42 por cento (%) foi considerada pelo analista “de muito significativa”, visto tratar-se de uma percentagem “muito elevada” dos eleitores que não compareceram no dia das eleições.
“Vários factores podem ter contribuído para esta taxa, que tem aumentado de eleições para eleições”, declarou Vlademiro Furtado, lembrando que em 2016 a abstenção fixou-se em 34% e, em 2021, em 42%, o que “demonstra afastamento do eleitor” em relação à política, mas também em relação aos políticos que “teimam em não se renovar e estreitar” as relações com a população e eleitores.
Tendo em consideração a taxa de abstenção, Vlademiro Furtado recomenda aos partidos políticos a se aproximarem do eleitorado sempre, auscultando as suas preocupações e não apenas nas vésperas das eleições e nos períodos eleitorais.
Os dados provisórios da Comissão Nacional de Eleições (CNE) indicam ainda que dos 379.615 eleitores inscritos, 220.368 não se dirigiram às urnas, fixando-se abstenção em 42,2%.
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