O ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente, recebe esta terça-feira, 29, o embaixador da Guiné Bissau em Cabo Verde, M´Bala Alfredo Fernandes. Em cima de mesa estará a questão da transferência, da preservação e da divulgação do espólio de Amílcar Cabral.
É na Fundação Mário Soares (FMS), com sede em Lisboa, que está depositado o espólio do fundador da nacional cabo-verdiana e guineense. Depois da morte do seu fundador, o ex-presidente da República portuguesa, Mário Soares, em 2017, a instituição enfrenta neste momento uma crise financeira que põe em causa inclusive a conservação de todo o espólio lá depositado.
Recentemente, por ocasião de uma visita à Fundação Amílcar Cabral, no âmbito da celebração do 20 de Janeiro, a presidente do PAICV, Janira Hopffer Almada, exortou o Estado de Cabo Verde a resgatar esse espólio, corroborando assim Pedro Pires, que antes manifestara muita preocupação com o destino a ser dado aos escritos do ilustre líder independentista africano.
O embaixador da Guiné Bissau na cidade da Praia, M´Bala Alfredo Fernandes, defendeu por sua vez, em entrevista à TCV que o espólio do líder independentista deve ser devolvidos à Guiné Bissau, de onde foram retirados por altura da guerra colonial, estando neste momento o representante diplomático do país em Portugal a negociar a sua devolução com a FMS.
Entretanto, em Portugal, tanto o Arquivo Nacional da Torre do Tombo como o Museu do Neo-Realismo já mostraram disponibilidade para receber os espólios que estão depositados na FMS, inclusive os que dizem respeito aos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, nomeadamente sobre o processo da sua tomada de independência.
Em declarações ao Diário de Notícias, Silvestre Lacerda, chamou a atenção para o facto de haver "muita documentação que não é propriedade da própria FMS e está [lá] em depósito", nomeadamente o de Amílcar Cabral. Ora, em declarações à rádio DW, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, propôs a transferência, por doação, do acervo documental de Amílcar Cabral para o Arquivo Histórico Cabo Verde.
Rebelo de Sousa defende que ainda que “tudo que é património de um povo deve estar entregue a esse Estado", o que, de certa forma, vai ao encontro do que defende o embaixador da Guiné Bissau na cidade da Praia, M´Bala Alfredo Fernandes. Coloca-se portanto,a questão: a quem pertence esse espólio? E a quem deve ser devolvido? Cabo Verde ou Guiné Bissau se Amílcar Cabral tem ligações profundas aos países e lutou pela independência de ambos?
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