Transporte aéreo:  Os últimos 5 anos e o Pós-Governo do MPD
Entrelinhas

Transporte aéreo:  Os últimos 5 anos e o Pós-Governo do MPD

Privatizaram TACV por nada. Apesar de todos os seus ativos, venderam 51% do TACV por menos do que o valor de 2 a 3 casas em Prainha sabendo que somente os direitos de voo para os EUA são mais do que o valor pelo qual venderam a companhia aérea. Não sabemos até à data se o governo recebeu algum dinheiro da venda porque o processo foi marcado com uma certa intransparência. O que sabemos são as promessas: 5 aviões imediatamente e 11 aviões alguns meses depois. Não tínhamos COVID-19 até 2020!? Alegaram que a privatização era o melhor negócio para Cabo Verde. Afirmaram ter resolvido os problemas TACV para sempre. Foi simplesmente uma ilusão! Hoje em dia, TACV ou Cabo Verde Airlines não voa em nenhum lugar e não tem aviões no solo de Cabo Verde.

As ilusões de 2016

O sector dos transportes aéreos é um exemplo de como o governo liderado pelo MpD tem demonstrado a sua incompetência nos últimos cinco anos. De alguma forma, conseguiram tomar as decisões erradas em quase tudo o que fizeram até agora. Fizeram acreditar aos cabo-verdianos o mito de TACV com 11 aviões e de um Hub internacional no Sal. Para isto transferiram famílias inteiras de Praia para Sal dando assim uso aos prédios vazios construídos por uma empresa “amiga”. Hoje, como tudo o resto que falhou nos últimos 5 anos, culpam o COVID-19, um bodo expiatório para justificar todos os erros deste Governo.

A imagem dos TACV vendida pelo governo liderado pelo MpD sob a liderança de Ulisses Correia e Silva e Olavo Correia em 2016, é que esta companhia não tinha aviões e que o MPD tinha uma solução para salvar os TACV e evitar a Nação uma vergonha internacional ao perder a companhia de bandeira

Este mito de TACV falida produziu talvez um estimulante psicológico para eles e ganhos políticos de curto duração. No entanto, se estão a dizer a si próprios mentiras, como irão tomar as decisões certas? Os Governos do PAICV sabem que as decisões e a formulação de políticas têm de ser baseadas em verdade de factos.

Sim, foi apreendido um avião alugado dos TACV em circunstâncias a elucidar, mas os TACV continuaram a dispor de aviões para voos domésticos, regionais e internacionais. O mais importante é que até 2016 os TACV estavam a voar. Voava regularmente entre os sete aeroportos de Cabo Verde, de São Vicente a Santiago, ao Sal, a São Nicolau, ao Fogo, à Boa Vista e ao Maio. TACV estava a voar. Recordamos também que TACV voava para os EUA, Brasil, Portugal, França, Senegal, etc.

Em suma, apesar das dificuldades, TACV não se encontrava na situação que está hoje. As decisões do governo liderado pelo MpD levaram à imobilização da companhia aérea; a detenção dos aviões como reféns primeiro nos EUA e agora na Islândia. A chantagem constante a nossa Nação por parte das companhias de transporte aéreo e os elevados custos desta para a nossa economia e sociedade são todos resultados da intervenção do Governo a partir de 2016.

Um plano de recuperação dos TACV em execução em 2016

TACV em 2016 tinha problemas. Mas estes estavam a ser tratados. Estava em curso um plano para reestruturar e recapitalizar a companhia aérea; criar duas companhias (mau TACV para assumir toda a dívida e um bom TACV limpo de dívidas), atrair um parceiro em busca de um hub no Atlântico médio para ligar África, América do Sul, América do Norte e Europa. O anterior governo liderado pelo PAICV já estava em conversações com um banco de desenvolvimento regional para recapitalização que trará uma injeção de capital de 15 milhões de dólares americanos sob a forma de investimentos de capital e empréstimos no bom TACV. O mau TACV manterá todas as dívidas a renegociar e parte do rendimento do bom TACV será utilizado para pagar ao longo prazo a dívida da antiga TACV. O plano foi formulado com contribuição dos melhores consultores internacionais de Inglaterra, Abu Dhabi e Escócia. O governo também tinha trazido peritos com longa experiência para se integrarem nos TACV e trabalharem com a equipa local para melhorar a sua gestão e, ao mesmo tempo, reforçar a capacidade interna.

A ideia de um hub também estava a ser desenvolvida. TACV expandiu-se em três cidades no nordeste do Brasil para ligar a América do Sul à América do Norte, Europa e África. De facto, os primeiros voos estavam completamente lotados e as operações tinham começado. A apreensão do avião em Amesterdão foi um golpe; mas houve depois negociações que levaram à prorrogação do aluguer dos ATR até 2024 para reduzir os custos e a um plano para recuperar a Boeing apreendida. O plano de construção de um hub duplo - Praia e Sal - estava em curso.

A nível do transporte aéreo interno o processo de fazer com que uma segunda companhia aérea fornecesse concorrência aos TACV já tinha sido aprovado. Entretanto, outras companhias aéreas internacionais estavam a explorar a possibilidade de acrescentar Cabo Verde às suas rotas. A nível das infraestruturas, o governo também tinha feito investimentos significativos em Aeroportos. O aeroporto de Sal tinha sido expandido e o plano para o futuro hub estava em desenvolvimento. Os aeroportos da Praia encontravam-se em construção. O plano para melhorar os aeroportos da Boa Vista e Maio também tinha sido desenvolvido, enquanto São Nicolau e Fogo já estavam a ser melhorados. CV Handling tinha sido criada a partir do TACV no aguardo da sua privatização a ser gerido por uma companhia nacional e estava a funcionar bem. Havia um plano integrado. O processo estava a evoluir e os progressos eram contínuos.

Contudo, nas eleições de 2016, o MpD fez do TACV o inimigo que envergonhava a Nação e que estava a drenar o dinheiro dos cabo-verdianos. Prometeram de privatizar e que o Estado irá parar de colocar dinheiro na companhia aérea.

As deceções pós 2016

Mas agora temos um TACV ou, aquilo a que chamam Cabo Verde Airlines, em pior situação do que em 2016 e não é por causa da pandemia. O sector dos transportes aéreos está em pior situação. A Nação cabo-verdiana está em pior situação e nós, o povo, estamos mais pobres devido à sua incompetente tomada de decisões. Por vezes temos de nos perguntar para quem trabalham: o povo de Cabo Verde ou alguma potência ou capital estrangeiro. É difícil dizer, dado que todos os custos parecem vir até nós e os benefícios para os outros.

Todos os projetos de infraestruturas que não tenham sido iniciados antes do PAICV deixar o poder em 2016 ainda não começaram. E, não é devido à COVID-19; tiveram quatro anos antes da COVID. A extensão do aeroporto de Boa Vista e Maio está apenas no papel. Em 2016, eles prometeram aeroportos em Santo Antão e Brava. Simplificando, foi um golpe para conseguir votos. Não se tratou de um plano pensado. Devido à crítica, apressaram-se a lançar a ideia de um estudo antes desta eleição. A quem eles estão a enganar: Os cabo-verdianos ou eles próprios? Será que isto se deveu também à COVID-19?

Temos agora um monopólio privado no transporte aéreo doméstico por causa da incompetência deste Governo. Para isso tiveram que devolver os aviões ATR mediante pagamento de mais de 7 milhões de dólares americanos a companhia de leasing. O preço pago pelos cabo-verdianos em dinheiro, tempo e desenvolvimento é incalculável. Hoje, viajar do Mindelo para a ilha vizinha de São Nicolau exige a compra de dois bilhetes: Mindelo-Praia-Mindelo e Praia-São Nicolau-Praia. O mesmo para Boa Vista. Os voos diretos do Mindelo para Lisboa terminaram abruptamente, criando graves problemas económicos para o sector privado em São Vicente. Muitos são os custos ainda por contabilizar e alguns não podem ser contabilizados em dinheiro. Qual é o preço das vidas perdidas porque não puderam ser evacuadas de uma ilha para outra? Ou aqueles que têm de renunciar a viajar porque é demasiado caro?

O Governo abriu o mercado interno em troca de 30% da nova empresa privada criada. Até à data, ninguém tem acesso ao contrato e possivelmente isto não existe. Nós, o público, não sabemos qual é o valor destes 30% sobretudo que a nova companhia criada não tem ativo já que todos os aviões pertencem a Binter. Amanha se temos um problema, herdaremos de uma companhia sem aviões.

Privatizaram TACV por nada. Apesar de todos os seus ativos, venderam 51% do TACV por menos do que o valor de 2 a 3 casas em Prainha sabendo que somente os direitos de voo para os EUA são mais do que o valor pelo qual venderam a companhia aérea. Não sabemos até à data se o governo recebeu algum dinheiro da venda porque o processo foi marcado com uma certa intransparência. O que sabemos são as promessas: 5 aviões imediatamente e 11 aviões alguns meses depois. Não tínhamos COVID-19 até 2020!? Alegaram que a privatização era o melhor negócio para Cabo Verde. Afirmaram ter resolvido os problemas TACV para sempre. Foi simplesmente uma ilusão! Hoje em dia, TACV ou Cabo Verde Airlines não voa em nenhum lugar e não tem aviões no solo de Cabo Verde.

Transformar o sector aéreo, o plano do PAICV

Chegou o momento de uma mudança. O MpD está a empobrecer a nossa Nação. Para por fim a esta situação, não há outra opção a não ser proceder a uma revisão completa e estratégica da confusão que o MpD criou no sector dos transportes aéreos. Isto tem de ser seguido com uma avaliação de onde estamos como nação no transporte aéreo e onde está o mundo e o que podemos fazer para mudar a situação atual e atingir os nossos objetivos nacionais para o sector. É claro: queremos ser o hub para o Médio-Atlântico. Isto irá exigir reformas.

Iremos renegociar o contrato dos TACV e caso necessário, não teremos qualquer problema em retomar o controlo da nossa companhia aérea e encontrar um novo parceiro com as mesmas ambições e interesses que Cabo Verde.

Iremos também reiniciar as viagens aéreas domésticas. Alias, os problemas encontrados pelos TACV eram mais para as rotas internacionais do que as viagens domésticas. Iremos reformar as operações domésticas para pôr fim ao monopólio no sector e promover a concorrência. Reforçaremos a autoridade reguladora e devolver-lhes-emos a sua independência para defender o consumidor e o interesse nacional. O ganho deve ser a eficiência e melhores serviços para os cabo-verdianos.

A nível das rotas internacionais, vamos implementar rapidamente o acordo de céu aberto e liberalizar o sector das companhias aéreas em Cabo Verde para permitir que as empresas que queiram utilizar Cabo Verde como um hub venham e se instalem aqui. Daremos incentivos e tornaremos fácil a operação tendo em conta a segurança e a protecção do nosso povo e o desejo de crescer e transformar a nossa economia.

Pela sua importância para a nossa economia e a unificação do território, iremos dedicar uma atenção especial ao sector. O trabalho que foi feito pelo último governo liderado pelo PAICV será reforçado e estratégias adaptadas a nova evolução do setor serão formuladas para que possamos acabar com o atual pesadelo trazido pela incompetência do governo MpD.

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