Sobre o caso “Apoio a Israel” Ulisses Correia e Silva atira a toalha ao chão e chama quem tiver leituras diferentes de “desavisados e boiada de serviço”. Imagine, caro leitor, o que pensa o primeiro-ministro de todos os cabo-verdianos!
A partir de agora, qualquer cabo-verdiano que, por uma razão ou outra, manifestar alguma reserva ou discordância em relação à gestão do país, vai logo para o clube dos “desavisados e boiada de serviço”. É assim que o Governo de Ulisses Correia e Silva, suportado pelo partido considerado mais democrático de Cabo Verde, entendeu classificar o cabo-verdiano que teima em ler pela sua cartilha própria.
É preocupante o rumo das coisas públicas entre nós. Ulisses Correia e Silva fez circular esta tarde uma nota de imprensa relacionada com um suposto apoio de Cabo Verde a Israel, eventualmente prometido pelo mais alto magistrado da nação, Jorge Carlos Fonseca, que deixa todas as pessoas de boa vontade de cabelos em pé. Pela sua incongruência, insensatez e violação dos princípios da ética e moral que devem nortear as relações do governador com o governado, do líder com o liderado.
A culpa normalmente não gosta de morrer solteira. Mas, por amor de Deus, senhor primeiro-ministro, não culpe o cabo-verdiano pelas trapalhadas que vêm surgindo lá pelas bandas dos palácios da Várzea e do Plateau.
Veja caro leitor. Se Jorge Carlos Fonseca prometeu apoio ao primeiro-ministro israelita, nenhum cabo-verdiano - escriba, politico, escolarizado, iletrado - o mandou fazer. Se não prometeu, tem uma única opção, que é desmentir o homem.
E se Jorge Carlos Fonseca não tiver coragem de desmentir o primeiro-ministro Israelita, o problema é dele e só dele. E nenhum cabo-verdiano deve ser culpabilizado pelas hipotéticas cobardias do PR.
Se o Governo não estiver de acordo com a posição do PR, o Governo tem apenas um caminho – falar com o homem do Palácio do Plateau. Até porque, a política externa é da responsabilidade exclusiva do Governo, como determina a Constituição da República de Cabo Verde, e que, diz-se, Jorge Carlos Fonseca domina como ninguém entre nós.
De todo o modo, se o Governo não tiver a coragem de chamar o PR a capítulo por ter eventualmente urinado fora do penico – usurpando uma competência que não é dele – nenhum cabo-verdiano é culpado disso.
Nestes termos, em vez de vomitar todo esse fel sobre o pobre do cabo-verdiano, que mais não quer do que ver o seu país bem governado e bem relacionado com o mundo todo, o Governo devia era fazer uma análise profunda dos seus discursos e atitudes perante o funcionamento das instituições democráticas e accionar medidas para pôr ordem nisto.
Porque o cabo-verdiano é um povo avisado. Considerar as suas preocupações, sugestões e opiniões sobre a gestão do seu país como sendo “coléricas especulações”, pode ser perigosa para saúde da nação e para o bem-estar social.
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