Entrelinhas

Todo o problema do Veiga nasceu da seguinte forma:

- Ganhou uma popularidade brutal na década de 90 que o levou a endeusar-se, a ponto de ter respondido a um dirigente do seu partido, ele apontando dedo para si: "Com este homem, o MpD nunca está em crise".

Então senhor absoluto, Carlos Veiga, tornou-se um torcionário e moveu uma perseguição feroz quer contra a oposição, quer contra vozes discordantes dentro do seu próprio partido. Estes, os mandou todos para fogueira.

Cabo-verdiano é um povo sui generis: não suporta ver o seu conterrâneo a ser maltratado. E começou a haver descontentamento pelas atitudes de vingança e maltratos ao seu semelhante. E na primeira oportunidade, derrotou o MpD e Veiga nas urnas.

É aí que nasce a obsessão do Carlinhos em ser, a viva força - no crioulo: "divina força" - Presidente da República de Cabo Verde.

Porquê:

- Veiga perdeu com Pedro Pires, alguém que ele derrotara, humilhantemente, nas urnas e cujos partidários, enterraram em vida, num desfile de funeral pela capital. Sentiu isso como humilhação e ofensa á honra de um homem disfrutando, a nível nacional, de popularidade acima do seu partido.

E encarou tirar desforra e recuperar a imagem.

E foi assim que, depois de duas tentativas falhadas em eleições para PR, resolveu regressar á liderança do partido para preparar a máquina de guerra para novo embate.

Tendo perdido as legislativas de 2011, quis candidatar-se, segundo informações, ao cargo de Presidente da República, mas no partido se opuseram, devido à derrota anterior e avançaram com Zona.

Mas Veiga nunca tirou esta obsessão da sua cabeça.

Com o regresso do MpD ao poder, 2016, renasceu-lhe a esperança de concretizar o seu objetivo, de mostrar que a sua "bandeira" ninguém havia tomado. A renovação do mandato do partido, em 2021, cristalizou o objetivo, e proclamou: "sou candidato com ou sem apoio do MpD". Embora reticente, este, feudo do Veiga, só teve que acatar os anseios do antigo líder. Quando tinha uma grande oportunidade para se desenvencilhar dele de vez.

E ontem, 17 de outubro de 2021, Carlos Veiga teve uma grande derrota nas eleições presidenciais, que lhe emitiu passaporte para viagem à eternidade onde jazem os defuntos políticos.