Há um ano apareciam os primeiros casos da Dengue na cidade da Praia, e ninguém viu ou ouviu o primeiro-ministro de Cabo Verde a falar da doença, como se a saúde e a vida dos cabo-verdianos não lhe merecem qualquer atenção e respeito. Esta atitude define e bem o caráter deste primeiro-ministro, que se move por objetivos particulares de manutenção no poder, sem qualquer respeito pelos interesses e a satisfação das necessidades da coletividade.
Há um denominador comum nas atitudes e ações do Ulisses Correia e Silva: Os males do país nunca são da sua responsabilidade. Se algo vai mal, a responsabilidade é sempre dos outros, particularmente da oposição. É surreal, mas é verdade!
Depois de um ano, quando a doença já se alastrou para outras ilhas e as vítimas mortais somam e seguem perante o sentimento de impotência da sociedade e das famílias, Ulisses surge vertendo lágrimas de crocodilo insinuando-se consternado pelas mortes ocorridas, uma desolação que parece cheirar a falso e muito tardia.
A verdade é que Ulisses nunca quis saber da Dengue, tanto assim é que até este momento o seu governo não apresentou uma única medida digna de nota para o combate à epidemia. Os hospitais e centros de saúde continuam sem quaisquer condições para atender os pacientes. Os equipamentos hospitalares e os profissionais disponíveis não conseguem responder à demanda. Os jovens médicos recrutados nos últimos meses estão completamente desmotivados, pois trabalham numa situação de vergonhosa exploração laboral, sem direito à proteção social e às horas extraordinárias, situação essa publicamente denunciada pelo sindicato dos médicos de Cabo Verde.
É este o estado em que labora o setor da saúde em Cabo Verde. Os cabo-verdianos estão completamente desacreditados no serviço nacional de saúde, procurando, cada um à sua maneira e consoante a posse, o caminho do estrangeiro à procura de tratamento, com destaque para o Senegal por eventualmente ser a alternativa mais acessível e barata.
Nada de estranhar, porém! Ulisses Correia e Silva, bem ao seu jeito e atitude, esquiva-se com mestria dos problemas que afrontam a vida dos cabo-verdianos, e em momentos cirurgicamente estudados aparece a dar o ar da sua graça, com um discurso sonso e repetitivo como se fossemos uma cambada de atrasados mentais, sem capacidade de discernir o escárnio, a indiferença e irresponsabilidade de uma entidade, que, infelizmente, devia governar a nossa vida e não faz.
Mais grave que a omissão e a indiferença, é o facto de o (ainda) primeiro-ministro e (ainda) presidente do MpD, andar durante meses aproveitando-se da epidemia para fazer ataques descabelados à Câmara Municipal da Praia e a Francisco Carvalho, diretamente ou através dos seus peões, imputando à autarquia e ao seu presidente a responsabilidade única pela proliferação da Dengue.
Quando a Câmara da Praia resolveu lançar uma grande campanha de combate à Dengue, mobilizando várias instituições nacionais e internacionais para esse propósito, finalmente, o governo e o ministério da Saúde deram sinal de terem acordado do sono profundo e começaram a mexer-se no terreno.
A Dengue foi um pretexto
É hoje consensual em Cabo Verde que Ulisses Correia e Silva demitiu-se da sua função e obrigação constitucional de governar o país, para concentrar-se em “tomar a Praia custe o custar”. Ressalta à evidência que Ulisses e a sua ministra da Saúde sempre estiveram se marimbando para a saúde dos cabo-verdianos. A Dengue foi apenas mais um pretexto para atacar a Câmara da Praia e Francisco Carvalho.
Quando se percebeu que o problema já era nacional e que a imputação falsa de responsabilidades já não colava no imaginário dos cabo-verdianos, procurou-se atenuar a má impressão e insinuar a preocupação (muito tardia) do governo… Ulisses nunca quis saber da Dengue, a sua única preocupação sempre foi o poder custe o que custar.
Daqui por uns tempos, voltada a página das reiteradas tiradas hipócritas e irresponsáveis de Ulisses e deste seu governo, passadas as eleições autárquicas e já em plena ressaca dos estrategos da desgraça (que a ressaca vai ver e será bem forte), se saberá com a clareza devida do que esta gente é capaz, não tendo mesmo pejo em manipular uma doença como instrumento de poder.
Ou alguém tem dúvidas disso?
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