...o Parlamento, sendo o centro do sistema, bem que podia aparecer como uma tábua de salvação para o país. Mas não! Ali o país não tem assento. A marginalidade é o centro de todos os debates. As discussões se convergem nas estratégias para se ganhar as eleições e permanecer no poder, vencendo o adversário, mesmo que seja sobre o cadáver do povo. Ganhar o país e vencer a fome, desemprego, a degradação social, as assimetriais locais e regionais, para potencializar os recursos estratégicos nacionais e promover a competitivade do país, não está no programa deste órgão legislativo do Poder do Estado, com competências para fiscalizar a ação governativa e fazer com que, em parceria, acima de tudo, com o poder judicial, a República fosse respeitada e salvaguardada. Verifica-se, como é evidente, uma acentuada degradação ao nível da confiança que naturalmente deve existir entre esses Órgãos do Poder do Estado e a Nação que propõem servir. Até quando os cabo-verdianos vão aguentar esta situação? É a pergunta que fica! Uma coisa é, todavia, certa: com este alerta, ninguém terá a legitimidade de dizer que não foi avisado.
Tudo a complicar-se neste país. E não é por causa da crise que o mundo atravessa. Não! Quando a crise chegou, Cabo Verde já dava sinais de um barco à deriva. Os discursos oficiais e as práticas de governação já se tratavam como ilustres desconhecidos, cada um andando por seu canto, e nos raros momentos que eventualmente se cruzaram, não há testemunho de que sequer se cumprimentaram. E o país descobre-se mergulhado numa onda de palavreados sem quaisquer correspondências com os seus desafios e com os seus sonhos mais legítimos.
Aqui vai o alerta! Os cabo-verdianos sofrem sobremaneira com o funcionamento do Estado de Direito Democrático que este país anda a dizer ao mundo que ele é.
As últimas estatísticas dizem que 10 cabo-verdianos em cada 100 passam fome e 180 mil vivem na pobreza, sendo que 11 mil agregados familiares precisam de uma casa para morar.
É claro que esses números atingem cidades, vilas e aldeias um pouco por todo o arquipélago.
Porém, uma análise um pouco mais cuidada vai certamente dizer que este universo de esfomeados, de famílias sem rendimento e sem uma casa para morar pertence ao mundo rural. Um mundo onde não se vê qualquer sinal de políticas públicas tributárias de soluções, ainda que a médio ou longo prazos, para pôr cobro a essa calamidade social, ou para promover programas e projetos capazes de gerar empregos e rendimentos que coloquem o prato na mesa das famílias do campo.
Cabo Verde é um país com uma população bastante jovem. Consta que os jovens atingem a taxa de 60 por cento do total dos cabo-verdianos residentes nas ilhas. O desemprego tem residência fixa no seio desta importante camada da sociedade cabo-verdiana, onde os dados oficiais dizem que em 100 jovens pelo menos 33 vivem no desemprego, e desses mais de 80 por cento não frequenta uma escola ou formação e não tem qualquer ocupação, remunerada ou não. De certeza que esses jovens pertencem aos 46 mil agregados familiares que neste momento enfrentam situação de carência alimentar.
É evidente que um país com este quadro social é um país deprimido. Um país incapaz de responder aos desígnios do seu povo, agravados por um desiquilibrio social que fere os direitos fundamentais da pessoa humana e faz estremecer os princípios fundantes da República.
Os Órgãos do Poder do Estado, que devem representar a Nação, sobretudo para defender o equilibrio e o bem-estar coletivo, estão dando visiveis e incompreensiveis sinais de incompetência no exercício das suas funções.
A justiça caiu num descrédito tal, que já ninguém acredita que irá levantar a cabeça. Os casos do ministro Paulo Rocha, envolvido num crime de homicídio, do deputado e advogado, Amadeu Oliveira, preso ilegalmente pelo poder judicial com a conivência do próprio parlamento, e do venezuelano, Alex Saab, detido e enviado para EUA, em situação jurídico-legal ainda por esclarecer, são exemplos acabados da promiscuidade e adulteração dos princípios e normas que uma sociedade que se afirma das Leis não deve admitir ou tão-pouco tolerar.
O Governo é o que todos os cabo-verdianos já viram - muita parra e pouca uva. A situação económica e social do país piora todos os dias, com a dívida pública em crescendo, já atingindo 150 por cento do PIB, sem quaisquer impactos na melhoria das condições de vida das famílias, e no crescimento económico do país.
O Presidente da República, aquele que detém o Poder de Falar para a Nação, tem se posicionado em cima do muro, magistralmente resguardado no conforto e comodidade que o cargo lhe conferem. Sendo árbritro do sistema, devia ao menos animar os cabo-verdianos com palavras de incentivo, em como num dia que de certeza há de vir, as coisas mudarão. Para alimentar as esperanças, que, como se costuma dizer, é sempre a última a morrer!
O Parlamento é uma fraude! Neste cenário inóspito de abandono e desprezo para com as massas, o Parlamento, sendo o centro do sistema, bem que podia aparecer como uma tábua de salvação para o país. Mas não! Ali o país não tem assento. A marginalidade ocupa a centralidade em todos os debates. As discussões se convergem nas estratégias para se ganhar as eleições e permanecer no poder, vencendo o adversário, mesmo que seja sobre o cadáver do povo. Ganhar o país e vencer a fome, o desemprego, a degradação social, as assimetriais locais e regionais, para potencializar os recursos estratégicos nacionais e promover a competitivade do país, não está no programa deste órgão legislativo do Poder do Estado, com competências para fiscalizar a ação governativa e fazer com que, em parceria, acima de tudo, com o poder judicial, a República fosse respeitada e salvaguardada.
Verifica-se, como é evidente, uma acentuada degradação ao nível da confiança que naturalmente deve existir entre esses Órgãos do Poder do Estado e a Nação que propõem servir. Até quando os cabo-verdianos vão aguentar esta situação? É a pergunta que fica! Uma coisa é, todavia, certa: com este alerta, ninguém terá a legitimidade de dizer que não foi avisado.
A direção,
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