Os produtores de café classificam a produção de 2024 de nula e apontam que as receitas não chegam para cobrir as despesas com a colheita da pouca quantidade.
Em declarações à Inforpress, à margem da Xª edição do Festival do Café do Fogo “Fogo Coffee Fest”, alguns produtores lamentaram a fraca produção do café em quase todas as zonas de cultivo.
Antonino Rodrigues, mais conhecido por “Nhonhô”, é peremptório ao afirmar que a “produção deste ano é má” e aponta como exemplo o facto do seu quintal, usado para secagem das cerejas, estar, neste momento, “completamente vazio”.
Comparando com anos anteriores a produção deste ano não chega aos dez por cento (%), adiantando que ao longo dos seus 73 anos não tem memória de um ano de produção tão baixa e má como este ano.
Mesmo nos anos em que os produtores queixavam da má produção, a colheita foi melhor do que a deste ano, que é diferente e quase nula, referiu.
“Fazendo as contas a produção é capaz de não cobrir as despesas só com a colheita. As receitas não dão para pagar as pessoas de colheita sem contar com monda e outros trabalhos”, disse Antonino Rodrigues, observando que este ano o preço aumentou em relação ao ano passado, passando dos 700 escudos/dia para até 1.000 escudos/dia.
Este encontra uma explicação para a baixa produção em quase todas as zonas, salientando que em 2023 houve chuvas razoáveis e que depois das chuvas as plantas brotaram, mas em pouco tempo as flores abortaram em todas as propriedades de cultivo do café.
Artur Barbosa, outro proprietário de área de cultivo de café é da mesma opinião em relação à produção, afirmando que “este ano a produção foi nula e de forma generalizada”.
“A colheita é zero e a produção não dá para cobrir as despesas de colheita”, referiu Artur Barbosa que lembra de um ano de má produção, mas como este ano não há memória e por isso considerou-o o pior dos últimos 48 anos.
“Não há ninguém com café no quintal” disse Artur Barbosa indicando que o preço da colheita este ano foi de 1.000 escudos por pessoa e o resultado da produção não chega para cobrir as despesas.
Para o responsável da Fogo Coffee Spirit, empresa ligada ao negócio do café, Amarílio Baessa, a produção “é má e é dos piores anos” de que se tem memória.
“Para além da baixa produção, em algumas zonas temos qualidade de grãos de café com defeitos afectados por praga”, disse o responsável da Fogo Coffee Spirit para quem este ano, e face a má produção, o negócio da empresa fica um pouco comprometido.
A má produção, segundo o mesmo, não constava da previsão inicial porque no ano passado registou chuva em quantidade satisfatória, mas aponta como provável causa da má produção a alta temperatura registada entre o período das chuvas e de floração do café, levando o cafeeiro a ter “aborto floreal e queima das flores”.
A juntar a este factor de ordem natural, Amarílio Baessa acrescenta a colheita inadequada do ano anterior, observando que a colheita deve ser feita de forma adequada e com cuidado para não partir os galhos onde vão surgir novos brotos.
A forma como é feita a colheita leva o cafeeiro a entrar no modo de “stress”, precisando de algum tempo para reabilitar, prejudicando o processo de produção.
Outro aspecto que pode perturbar a produção e a presença de outras espécies de árvores, nomeadamente, as trepadeiras na área de cultivo do café, situação que ainda se regista em algumas parcelas, apesar da maioria dos proprietários terem estado a cuidar de forma correcta dos cafezais.
As plantas trepadeiras encobrem os cafeeiros, reduz o processo de fotossíntese e coloca em stress e mesmo dando algum fruto este fica na sombra criando humidade e retarda o amadurecimento, adverte o responsável da Fogo Coffee Spirit.
“A baixa produção é generalizada e tem zonas com produção praticamente nula e outras que produziram o mínimo do mínimo”, afirmou Amarílio Baessa, advogando que em comparação com a produção do ano passado, a deste ano fica muito inferior a 50 por cento (%).
Há várias propriedades que não produziram e os donos nem sequer estão a fazer as colheitas porque a quantidade é tão irrisória que não justifica pagar mão de obra para fazer a colheita.
“A grande verdade é que a produção do café depende 100% de chuvas, do modo de colheitas e dos cuidados com os campos de cafeeiro evitando ter outras plantas, sobretudo trepadeiras, em excesso”, advertiu Amarílio Baessa.
Para Rosário Rodrigues a produção deste ano situa-se à volta dos cinco por cento em relação ao ano passado e que as receitas do café não são suficientes para cobrir as despesas, sublinhando que actualmente o cultivo de café não dá confiança e garantia.
Com relação ao projecto de desencravamento das zonas altas dos Mosteiros onde se cultiva o café anunciado pela câmara para facilitar o acesso, os proprietários e produtores vêem com bons olhos este projecto que poderá ajudar a minimizar os custos.
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