O  Peso da Educação no Bem-Estar de uma Nação
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O  Peso da Educação no Bem-Estar de uma Nação

Centra-se demasiadamente no ensino dos conteúdos, numa perspetiva bancária de transferência de conhecimentos, deixando de lado o próprio aluno e questões importantes para a sua Educação/Formação, como: o Saber Conhecer; o Saber Ser, o Saber Fazer e o Saber Viver Juntos. Ora, nenhuma sociedade vive bem sem esses saberes e esses têm de ser aprendidos e trabalhados em algum sítio. Quando nós olharmos, cuidadosamente, para a Constituição da República de Cabo Verde, no seu artigo 78.º, números 1 e 2, e quando fizermos o mesmo, em relação à Lei de Bases do Sistema Educativos, particularmente, nos seus artigos 5.º e 11º, havemos de perceber a grande contradição que vivemos em Cabo Verde, em matéria da Educação, representando uma grande falsidade ideológica, pois colocamos na lei algo muito interessante, mas, depois, praticamos o outro. O caso da Educação é um exemplo paradigmático.

Diz-se que o Futuro de uma Nação joga-se nas Escolas e que a principal função da Educação é humanizar-nos, de modo a nos tornar humanos, úteis a nós próprios, aos outros, à sociedade e à humanidade. Países que entenderam tudo isto estão ali, como exemplos, e porque não olhar para eles?

Acaba de ser lançado um novo Relatório de Felicidade no Mundo (WHR+23.pdf (happiness-report.s3.amazonaws.com), espelhando a lista ordenada de países, de onde as pessoas vivem mais felizes a menos felizes. Por acaso, Cabo Verde não faz parte da lista, não obstante tanta FELICIDADE prometida, há 8 anos, atrás, e tenho dúvida se estamos, realmente, mais felizes.

A ordem da lista desse Relatório está muito ligada ao grau do desenvolvimento económico, social e cultural dos países, resultantes dos fortes investimentos feitos na Educação, com focos na excelência e na abrangência nacional. Uma Educação de alta qualidade e abrangente é o diferencial!

Os responsáveis em Cabo Verde e a sociedade, no geral, não podem continuar a ignorar este facto, fingindo-se de que, também, estamos a cuidar bem da nossa Educação. A realidade social, económica e cultural do nosso país não nos engana e está à nossa testa. O nível de pobreza, ainda, é elevado; a criminalidade e a insegurança são preocupantes; e a perda de valores sociais básicos, como o respeito, a honestidade, o trabalho e a honra, é significativo. Todos esses dados estão em cima da mesa e representam um fardo pesado para todos nós, pois são custosos, financeiramente, e representam um forte passivo ao processo do nosso desenvolvimento.

Estabelecer uma ligação direta, entre a qualidade da Educação que o nosso Sistema Educativo (do pré-escolar ao superior) oferece e o estádio em que o nosso país se encontra, de ponto de vista social, económico e cultural, é um imperativo, para que possamos perceber o quanto vai mal a nossa Educação.

É evidente que este exercício não é tarefa fácil para muita gente. Simplesmente, há quem entende que são fenómenos dos tempos em que vivemos e consequências da globalização. O pior é que há muita boa gente que está convencida de que há uma “grande aposta” na Educação em Cabo Verde e que a qualidade está a melhorar. É compreensível, de algum modo, mas nada mais falso!

Tenho escrito e continuo a escrever, a respeito da forma muito AMADORA como a Educação é compreendida e administrada em Cabo Verde. Em abono da verdade, este é um processo que se arrasta desde a independência. O Estado pouco  investiu em matéria que tem que ver com a compreensão, efetiva,  da Educação e em como Administrá-la, tendo em conta o seu impacto e toda a sua externalidade para a sociedade. Foi sempre considerada como um setor, entre os vários setores, embora, de maior despesa, é certo, por estar por todo o país. Faltou e continua a faltar uma visão de profundidade, na intervenção, para além da de extensão.

A Educação não é apenas um dos setores da nossa vida coletiva, é o CENTRO, é o mais importante, e, como tal, ela deve estar no centro de todas as Políticas Públicas, no pressuposto de que, se ela falhar, tudo vai falhar. Será complicado entender isto? Sim, com pessoas muito mal preparadas a administrar continuamente a Educação, todas as políticas e o quadro geral de administração e operacionalização ficam comprometidos, e o pior, é que entram num espiral de reprodução da mediocridade em que já, quase, ninguém (governantes, administradores gestores e professores) consegue ver os males do sistema (porque já são eles próprios os males), deixando, no entanto, todo o ónus para as novas gerações que vão chegando às nossas escolas.

É claro que essa realidade tem comprometido, enormemente, a nova geração, pois muitos estão a chegar ao ensino superior, com graves problemas em escrita, leitura e interpretação de textos simples, questões que deveriam ser resolvidas no ensino básico.

Por outro lado, muitos abandonam o sistema, porque sentem-se que este é inadequado para a sua educação. Os poucos que conseguem atingir os anos de escolaridade elevado, fazem-no com grandes sacrifícios e recheados de lacunas, porque o sistema educativo é demasiadamente tecnicista, desagradável e funciona numa visão muito estreita e limitada sobre o que é a Educação e como se processa a aprendizagem.

Centra-se demasiadamente no ensino dos conteúdos, numa perspetiva bancária de transferência de conhecimentos, deixando de lado o próprio aluno e questões importantes para a sua Educação/Formação, como: o Saber Conhecer; o Saber Ser, o Saber Fazer e o Saber Viver Juntos. Ora, nenhuma sociedade vive bem sem esses saberes e esses têm de ser aprendidos e trabalhados em algum sítio.

Quando nós olharmos, cuidadosamente, para a Constituição da República de Cabo Verde, no seu artigo 78.º, números 1 e 2, e quando fizermos o mesmo, em relação à Lei de Bases do Sistema Educativos, particularmente, nos seus artigos 5.º e 11º, havemos de perceber a grande contradição que vivemos em Cabo Verde, em matéria da Educação, representando uma grande falsidade ideológica, pois colocamos na lei algo muito interessante, mas, depois, praticamos o outro. O caso da Educação é um exemplo paradigmático.  

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