Completam-se hoje 63 anos da criação da TACV-Cabo Verde Airlines, surgida na sequência da absorvição do então Aero Club de Cabo Verde, num dia que fica marcado também pela retoma dos voos internacionais ligando Praia a Lisboa.
A aventura de voar em Cabo Verde começou no longínquo ano de 1955, quando o País recebeu o seu biplano com dois motores, o Havilland Dragon Rapid, que fez o seu primeiro percurso Praia/Sal/São Vicente/Praia.
Com a viagem inaugural deste avião de quatro lugares, estava assim respondida uma grande aspiração das gentes do arquipélago, porquanto, a verdade é que, sem ligações aéreas, as ilhas pareciam estar ainda mais distantes umas das outras e até do exterior.
Mais tarde foi adquirido um Tiger Moth para a Escola de Pilotagem, enquanto em 1956 chegava o primeiro Dove, um bi-motor de nove lugares. Este aparelho foi trazido pelo falecido Joaquim Ribeiro, considerado o pai da aviação civil cabo-verdiana, pelo piloto Hamilton Fernandes e o mecânico Fernando Mendes.
Dois anos mais tarde, dois “Gruman Widgeon” completaram a frota que passou a assegurar mais duas novas rotas.
Na origem desta iniciativa está o então Aero Club de Cabo Verde que na altura dispunha de um quadro constituído por um director, um piloto e um aspirante.
Entretanto, em 27 de Dezembro de 1958, o antigo Aero Club foi absorvido pelos Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV). A partir de então estavam lançadas as sementes que germinaram e culminaram naquilo que hoje se designa de TACV-CABO VERDE AIRLINES, sigla essa adoptada em 1991 com vista à internacionalização da companhia, uma forma mais forte de identificar esta empresa como transportadora aérea.
Dos 460 passageiros transportados no final da década de 50, em 1962, o número ascendeu a 2.261, para, um ano mais tarde, atingir a cifra de 4.341 passageiros. Nessa altura, todas as ilhas beneficiavam do transporte aéreo à excepção da Brava e de Santo Antão.
O aumento acelerado do tráfico fez com que os TACV conhecessem um novo incremento e melhoria da sua frota. Três Islanders e dois HS-748 chegaram em 1973. Em 1977 e 1980 foram adquiridos dois Twin-Otters. Na década de 90, integravam a frota da companhia dois aviões Casa-212 e um Embraer.
Com o advento da independência, novas perspectivas despontaram no horizonte da TACV. Assim, a aposta é então os voos para o exterior. Logo em 1976 tiveram início as ligações regulares com a Guiné-Bissau e o Senegal, bem como voos “charters” para as Canárias e a Guiné-Conacri.
Em 1995, com aparelho fretado às Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), a TACV inaugurou a sua primeira linha intercontinental. Sal/Lisboa/Sal era o novo destino desta transportadora. Três anos mais tarde, Boston (Estados Unidos da América) era o novo destino ligando a mais antiga comunidade cabo-verdiana no exterior à sua terra natal. Amsterdão, Paris, Frankfurt, Bérgamo e Viena, respectivamente Holanda, França, Alemanha, Itália e Áustria foram os destinos que se seguiram.
A assinatura dos Acordos Multilaterais de Tráfego da IATA e a ligação à rede telegráfica da SITA (Sociedade Internacional de Telecomunicações Aeronáuticas), bem como a criação do centro da SITA na ilha do Sal, revestiram-se de importância relevante para a companhia.
As vitórias somavam-se, mas o maior orgulho da transportadora aérea nacional foi o seu primeiro Boeing-757, adquirido directamente da fábrica, em 1996. Este aparelho de longo curso representou para a empresa o adquirir de uma nova autonomia e um aumento de capacidade de resposta às solicitações do dia-a-dia dos seus clientes nacionais e estrangeiros.
Durante o ano de 1997, a companhia deu um passo importante em direcção ao progresso ao introduzir nos seus balcões de vendas mais um moderno sistema de emissão de bilhetes, o ATB-Automated Ticket and Boarding-emissão automática de bilhetes e cartões de embarque. Esta nova tecnologia permitiu à empresa reduzir o tempo de atendimento aos passageiros.
A sua adesão ao sistema “Gabriel” e todos os serviços de reserva informatizados permitiu-lhe proporcionar aos seus passageiros uma melhor planificação das viagens, aliados a vários outros produtos e serviços.
Com uma frota composta por um Boeing-757, três ATR-42 e dois Twin-Otters, a TACV melhorou consideravelmente a prestação de serviço aos seus clientes.
Entretanto, em 2019, a companhia aérea foi privatizada, tendo o Governo vendido 51 por cento (%) do seu capital por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, uma empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF e em 30% por empresários islandeses com experiência no sector da aviação.
Para além dos 51% da Lofleidir Cabo Verde, o Governo conseguiu ainda alienar, via Bolsa de Valores, mais 10% do seu capital social, dos quais 3% foram adquiridos pelos trabalhadores e 7% pelos emigrantes, estando ainda na posse do Estado os 39% que devem ser vendidos aos investidores nacionais e internacionais.
No início do mês de Julho deste ano a TACV voltou ao controlo do Estado por decisão do Governo, que nomeou um novo conselho de administração presidido pela cabo-verdiana Sara Pires.
O Governo justificou a sua decisão, alegando que a Loftleidir Cabo Verde, SPV do Grupo Icelandair, com o qual havia assinado o contrato de compra e venda das acções da TACV, não estava a cumprir.
E no dia que completa 63 anos de existência, a transportadora aérea nacional retoma os voos internacionais, ligando Praia a Lisboa, com duas frequências semanais, às segundas e sextas-feiras.
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