Paulo Soares, ex-PCA da IFH, confessou à Comissão Parlamentar de Inquérito ao Novo Banco que a Imobiliária pública recorreu a crédito bancário para adquirir 25% do capital do banco. E que os accionistas sempre questionaram os chorudos salários dos gestores.
Começou esta segunda-feira, 10, a primeira de 27 audições previstas pela CPI para ajudar a esclarecer como o Novo Banco, até então única instituição financeira de capitais públicos, caiu na bancarrota até ser extinta pelo Banco de Cabo Verde por perdas de mais de um milhão e 800 mil contos.
O ex-presidente do Conselho de Administração da Caixa Económica, Emanuel Miranda, e os o ex-PCA da Imobiliária, Fundiária e Habitat (IFH), Paulo Soares, foram os primeiros a ser ouvidos pela CPI liderada pelo deputado Manuel Inocêncio Sousa. Destaque para as declarações do ex-gestor da imobiliária pública a assumir que a IFH teve que recorrer a crédito bancário para poder entrar no capital social do NB.
Paulo Soares adiantou que a ideia inicial era que a participação da IFH fosse em espécie, isto é, com terrenos, mas que, devido à demora nas negociações e à exigência do Banco de Cabo Verde (BCV), a IFH teve que ir buscar um financiamento junto da Caixa Económica para entrar para o capital inicial.
“Era um montante de 75 mil contos, 25% do capital inicial que era de 300 mil contos”, precisou, indicando que inicialmente pretendiam um descoberto bancário com um juro de 18%. A ideia, explicou Soares, era de que o Novo Banco viesse a comprar os terrenos para a IFH poder ressarcir a dívida junto da banca.
Só que, passados alguns meses a administração do Novo Banco comunicou que a instituição não iria comprar o terreno, pelo que a dívida foi transformada num crédito com renda a uma taxa de 7,5 para ser amortizada em 10 anos.
Na sequência, Paulo Soares foi questionado pelos deputados do MpD porque é que a imobiliária recorreu ao crédito bancário para investir num segmento que não tinha nada a ver com o seu negócio, e se não terá sido pressionado pelo Governo para viabilizar o negócio da banca que não deu certo.
O ex-PCA da IFH disse que a decisão de participar no capital social do Novo Banco foi tomada na gestão anterior à sua, (que foi iniciada em Abril de 2010), e com anuência da Assembleia-geral, indicando que ele e a sua equipa apenas participaram na operacionalização do processo.
Entretanto, adiantou que a viabilização da participação foi na “firme” convicção de que com a criação de mais uma instituição financeira, haveria maior disponibilidade de crédito para as famílias que assim teriam condições de comprar.
“Para a IFH, o novo Banco era uma oportunidade de negócio já que era direccionado para a economia social, para apoiar as micro e pequenas empresas e principalmente trazer as pessoas da informalidade para a formalidade. Dando oportunidade de financiamento a essas pessoas e essas entidades era uma oportunidade para a IFH. É neste sentido que a IFH apoiou o processo de criação do novo banco”, disse.
Paulo Soares adiantou que estudos de viabilidade apontavam para a rentabilidade do banco a partir do segundo ano de existência, pelo que pareceu ser um bom investimento.
Por outro lado, sublinhou que a IFH tem activos imóveis calculados em 4 milhões de contos que precisam ser rentabilizados pelo que o investimento no sector na banca se ofereceu como uma “grande oportunidade”.
Quando questionado se concordava com os salários que eram pagos aos gestores do Banco, que era de cariz social (mais de mil contos entre remunerações e outros benefícios) Paulo Soares disse que não e adiantou que os accionistas quando souberam dos gastos com a gestão chegaram a pedir explicações, porém sem sucesso.
A experiência mal-sucedida do Novo Banco custou ao Estado cerca de um milhão e 800 mil contos e mais de 60 trabalhadores perderam os seus postos de trabalho.
Nesta terça-feira, 11, vão ser ouvidos o ex-PCA dos Correios de Cabo Verde, Atelano Fonseca, e o ex-administrador executivo do Novo Banco, Péricles Silva.
Recorde-se que mês de Março, o BCV anunciou a medida de resolução que decretou ao Novo Banco, que consistiu na alienação parcial das suas actividades e da maior parte dos seus activos e passivos à Caixa Económica de Cabo Verde (CECV).
Eram accionistas do Novo Banco, o Estado de Cabo Verde que tinha uma participação de 42,33%, o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) com 28,28%, a com CECV 11,76%, os Correios de Cabo Verde com 7,35%, a Imobiliária Fundiária e Habitat (IFH) com 7,35% e o Banco Português de Gestão com 2,94%.
Santiago Magazine/Inforpress
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