Viveiro Golf Resort. Nasce no Sal o primeiro campo de golfe relvado de Cabo Verde   
Desporto

Viveiro Golf Resort. Nasce no Sal o primeiro campo de golfe relvado de Cabo Verde  

Foi em 2000 quando surgiu a ideia de se criar na ilha do Sal um campo de golfe, com relva natural. Na visão de Giannino Mariani, antigo sócio do Hotel Crioula, o projeto seria uma excelente oportunidade para Cabo Verde apresentar ao mundo mais uma oferta turística. Hoje, 21 anos depois, através da filha Paola e do genro Camilo, o sonho do investidor italiano está prestes a se tornar realidade. As obras iniciadas em 2019 estão a decorrer a todo o vapor para, em abril deste ano, Cabo Verde ganhar o seu primeiro campo de golfe relvado de nove buracos. Vai se chamar Viveiro Golf Resort e terá capacidade para empregar diretamente 30 pessoas.

Giannino Mariani é um desportista nato. Por toda a sua vida aventurou-se em praticamente todos os tipos de desporto, até encantar-se com o golfe. Viajou o mundo para jogar, fez várias amizades, mas nunca conseguiu convencer os amigos a virem conhecer Cabo Verde. Porque os seus destinos de férias eram sempre países onde tinham a possibilidade de praticar o golfe. Foi assim que surgiu a ideia de construir um campo na ilha do Sal.

Erguer no Sal um campo de golfe seria para o italiano, matar dois coelhos com uma só cajadada: atrair turistas e amantes da modalidade e poder também praticar com os amigos no país onde passava largos períodos de estadia por causa dos investimentos. O projeto foi apresentado às autoridades locais e nacionais logo no ano de 2000. Mas a ideia não foi muito bem acolhida. Naquela época, segundo a filha Paola Mariani, não se acreditava piamente de que o Turismo seria um dia o motor da economia nacional. E muito menos o Turismo Desportivo.

O sonho de Giannino teve de ser engavetado.  Mas nunca esquecido. O projeto sobreviveu à crise de 2008, sofreu inúmeras alterações ao longo dos anos e, com o passar dos tempos, foi se adaptando aos novos conceitos arquitetónicos. Mas tudo tem o seu devido tempo para acontecer, no entender de Paola. Em outubro de 2019, finalmente o projeto saiu do papel com as primeiras movimentações de terra.

Contudo, entre março e setembro de 2020 os trabalhos ficaram paralisados devido à pandemia do Covid-19. Após a retoma no último mês de outubro, as obras já caminham para o fim. “Estamos na fase de colocação de relvas, arborização, criação de espaços de lazer e administrativo, bem como de zonas de acesso e parqueamento”, informa.

O Viveiro Golf Resort

O primeiro campo de golfe de Cabo Verde com relva natural fica situado em Santa Maria. Além das zonas de prática - que vai desde local do tee (suporte onde se coloca a bola para a tacada inicial) aos espaços greens (onde ficam cada um dos nove buracos) -, o projeto contempla um Club House com bar, restaurante e receção, parques de estacionamento, zona de trocas, espaço para venda e armazém de equipamentos, entre outros.

O mais novo campo de golfe de Cabo Verde terá inicialmente nove buracos, mas o projeto final é ter ao todo 27 buracos, avança Paola Mariani.

Rodeado por 33 hectares de terreno, o campo caracteriza-se por uma paisagem semidesértica, com dunas artificiais, matérias primas como jorras, terra, pedras e areia extraídas localmente, árvores e plantas autóctones da região, relvas naturais próprias para infraestruturas do tipo, um lago artificial, além de vistas para o mar, Pachamama Eco Park e para toda a cidade de Santa Maria.

“Vai ser um campo de golfe semidesértico, já que haverá relvas naturais apenas nas zonas de prática. Os espaços sem relva estarão adornados com jorras, terra e todos os materiais extraídos localmente. Usaremos todas as cores das nossas matérias primas, que vão de branco a cinzento ou preto e que, conjuntamente, vão resultar em um produto final muito bonito para os olhos”, garante.

Um jardim gigante, ecologicamente sustentável

Aliás, o aproveitamento do que é local vai de encontro com a visão de Giannino de apostar em projetos green, que respeitam a sustentabilidade ambiental. A construção final do campo, segundo Paola Mariani é baseada num projeto arquitetónico, que acabou sendo executado levando em conta as características do solo.

Mariani conta que o lago artificial teve de ser mudado do local inicialmente projetado: “Deparamos com terrenos muito difíceis de se movimentar, zonas rochosas que nem imaginávamos que existia no Sal e muito menos em Santa Maria. Onde estava previsto a construção do lago encontramos uma rocha dura e decidimos então ali construir o Club House”.

Até as plantas utilizadas foram pensadas respeitando o tipo do solo. O Pachamama Eko Park Viveiro - botânico à entrada de Santa Maria -, foi criado há 10 anos já pensando no cultivo de plantas para o futuro campo de golfe.

E é lá que foram buscar as árvores e plantas para jardinagem e paisagismo como palmeiras (imperiais e washingtónia), coqueiros, tamareiras, e ainda catos, cizal e aloe vera (babosa). Apenas as sementes para relva foram trazidas do estrangeiro.

“O meu pai sempre teve uma visão muito ecológica. Ele é muito atento às questões do ambiente. A ideia de criar um viveiro em 2010, partiu dele. O que fizemos foi, a título de experiência, criar um viveiro de plantas e árvores tipicamente da região para ver como desenvolviam e se adaptavam. Só depois introduzimos alguns animais nativos no espaço e fazer do local um eco parque”, esclarece.

E o que vai ser inaugurado no próximo mês de abril será “um jardim gigante, ecologicamente sustentável”, onde, além da prática do golfe, qualquer um pode ir ao Club House curtir o pôr do sol, tomar uns drinks com os amigos ou com a família e apreciar a boa música. Tudo isso com a vista deslumbrante para o kite beach, a baía do algodoeiro e para a cidade de Santa Maria. Sem contar a atração do lago e das pequenas colinas artificias”.

Haverá ainda aulas de golfe para nacionais e estrangeiros, com instrutores que virão das Canárias, Espanha, Itália e Inglaterra.

Nova oferta turística

Para aproveitar o máximo de tempo e atrair mais pessoas, sobretudo os turistas, o Viveiro Golf Resort também vai funcionar à noite, para jogos e entretenimento. Todo o campo será iluminado através da energia solar, informa a nossa entrevistada, para quem neste momento de crise mundial devido à pandemia do novo Coronavírus, é fundamental a aposta em novas ofertas turísticas.

“A população mundial finalmente deu uma pausa e está a dar maior atenção à saúde, ao ambiente, ao desporto, etc. Mudou-se o chip completamente. Até ontem viver numa cidade grande era chique, e agora as pessoas buscam a natureza, buscam a calmaria. A mentalidade em geral está a mudar. E temos que aproveitar este momento para atrair outros tipos de turismo”, salienta.

Porém, sublinha, não se trata de excluir e sim adicionar ao que já existe: “Até porque seria muito injusto, pois o all inclusive é que fez de Cabo Verde o destino turístico que é hoje lá fora. Fez-se um trabalho maravilhoso com esse sistema, porque não tínhamos nem infraestruturas, nem estruturas e, muito menos, pessoas capacitadas”.

Para Paola é importante diversificar e conquistar novos turistas: “temos que ter ofertas para aqueles que querem passar 10 dias dentro de um hotel, para aqueles que querem vivenciar a cultura local, que querem viver novas experiências, que querem praticar o golfe, o surf, o windsurf e o kitesurf. É momento de aproveitarmos para dar ao mundo muitos outros motivos de virem para cá e de voltarem”.

Para a italiana, radicada em Cabo Verde desde 2009, o golfe é um ótimo chamariz para o turismo por ser um tipo de desporto praticado por pessoas de todas as idades. “Tanto as crianças como os idosos podem praticá-lo. Aliás, se for ver a nível de classificações, o golfe é o jogo mais praticado no mundo, justamente por não haver essa limitação de idade, e é praticado independentemente do preparo físico do atleta”.

Além do mais o clima de Cabo Verde ajuda bastante, no entender de Mariani. “A vantagem de jogar golfe em Cabo Verde, é que nunca chove, não faz frio como na europa e não há um calor exagerado. Penso que o clima é provavelmente um dos melhores no mundo. É ameno, nunca se chega a 50 graus do norte da África e nunca se chega a menos de 15 graus da Europa. Temos um clima perfeito, um ambiente maravilhoso, e que da oportunidade para a prática da modalidade o ano inteiro, tanto de dia como à noite”.

Temos um clima perfeito, um ambiente maravilhoso, e que da oportunidade para a prática da modalidade o ano inteiro, tanto de dia como à noite”.

De notar, que o golfe já é um desporto conhecido no universo crioulo. Existem outros campos de golfe nas ilhas de São Vicente e Santiago. No Sal, havia um campo que foi desativado. Este será o primeiro do país a receber relva natural.

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