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Cabo-verdianas abandonadas desde sábado no aeroporto de Casablanca. Sem comida, sem água e debaixo de intenso frio
Sociedade

Cabo-verdianas abandonadas desde sábado no aeroporto de Casablanca. Sem comida, sem água e debaixo de intenso frio

Um grupo de nove mulheres comerciantes cabo-verdianas que viajaram na madrugada de sábado para domingo com a Royal Air Maroc da Praia para Casablanca, Marrocos, de onde seguiriam para Paris, foram impedidas de entrar na sala de embarque porque, segundo as autoridades marroquinas, o governo francês não aceita entrada no seu território de cidadãos não-europeus. Desde então dormem no chão frio do aeroporto, em condições desumanas, equanto a companhia propõe levá-las ainda hoje até Dakar e dali assumirem as despesas para o seu regresso a Cabo Vede ou aguardarem até dia 29 data do próximo voo directo Casablanca-Praia. Nenhuma das opções lhes satisfaz.

São nove comerciantes que, durante anos fazem o percursos Praia-Paris-Praia nos aviões da TAP. Mas devido às restrições causas pela pandemia da Covid-19, em que várias fronteiras vêm sendo reencerradas ou forçadas a apertar os níveis de controlo, tiveram que recorrer à Royal Air Maroc, que lhes deu garantias de que não haveria quaisquer problemas em embarcarem de Casablanca para a capital da França. Puro engano.

"Saímos da Praia por volta das 2h de sábado para domingo e chegámos a Marrocos às 8h locais de domingo, sendo que tinhamos voo para Paris uma hora e tal depois. Quando fomos para a sala de embarque a polícia de fronteira nos barrou, impedindo que subissemos nesse voo porque tinham recebido uma notificação do governo francês a proibir a entrada em seu território de cidadãos não-europeus, excepto americanos e canadianos", começa por contar ao Santiago Magazine a empresária Sónia Ortet.

Só que, segundo Ortet, depois de exigirem para ver essa tal "notificação", descobriram que não havia nada do que a policia marroquina lhes dissera constar do documento. "Essa notificação não menciona em lado algum a proibição de passageiros com documentação cabo-verdiana de entrarem em França", diz, irritada, Sonia Ortet, para quem toda a culpada nesta estória é a Royal Air Maroc.

"A responsabilidade disto estar a acontecer é da companhia, porque foi a Air Maroc que nos deu garantia de que não haveria empecilho qualquer, ou seja, que podiamos viajar com eles para Paris. Aliás, contactamos a Air Maroc na Praia que reafirmou tudo mostrando estranheza em relação à tal notificação que garantem não conhecer". E a companhia, lá em Marrocos, não lhes liga nenhuma. "Deixaram-nos aqui ao relento, completamente abandonadas", elucida Ortet.

De facto, desde o dia que viajaram do aeroporto internacional Nelson Mandela, na Praia, essas nove comerciantes estão a dormir no chão frio do aeroporto de Casablanca, sem cobertores e sem poderem trocar de roupa, já que não puderam chegar perto das suas malas, previamente embarcadas.

"Marrocos faz frio nessa época, é um frio como na Europa, não podemos continuar nessas condições, sem apoio de ninguém", desabafa Sonia Ortet, notando que, além do intenso frio, a companhia nãos lhes dá comida nem água. "Uma senhora que, depois de tanto insistirmos, nos veio dar sandes de tomate e garrifinha de água já passava da 1h desta segunda-feira".

Neste momento, essas comerciantes continuam por si só, sem poderem viajar e sem poderem sair do aeroporto, até que uma solução seja encontrada. A Royal Air Maroc propôs suas hipóteses: levar as nove cabo-verfdianas até Dakar de onde elas assumiriam as suas despesas de instalação e da viagem para Cabo Verde; ou espararem no aeroporto, ao frio, sem comer e sem tomar banho, até o dia 29, daqui a quatro dias, para regressarem a Praia no voo directo da Royal AIr Maroc.

Nenhuma das propostas agrada ao grupo cabo-verdiano. "Ir a Dakar implica pagarmos as despesas de hotel e de passagem para Cabo Verde, o que é um esforço financeiro demasiado pois já gastamos muito nessa viagem. Ficar aqui no aeroporto é desumano, não podemos ficar num hotel, não podemos sair para tomar banho, nem comprar comida. Veja, para usarmos a casa de banho as empregadas nos pedem dinheiro, imagina para irem nos comprar comida de verdade que não pedaço de pão com tomate", ilustra Sonia Ortet, que exige rápida devolução do seu dinheiro por parte da Royal Air Maroc e clama por intervenção urgente das autoridades nacionais.

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SOBRE O AUTOR

Hermínio Silves

Jornalista, repórter, diretor de Santiago Magazine