Stribilin (47ª parte)
Cultura

Stribilin (47ª parte)

CXCVIII CENA

Dário e Diana estão sentados num banco da Avenida Marginal.

DÁRIO – Imagino o teu sofrimento, querida. Mas o meu não é menos do que o teu.

DIANA – Fiquei muito magoada com a tua madrasta. Chocada mesmo. Não sei como é que um homem como o teu pai merece uma mulher daquelas. Uma bruxa de mulher! O meu pai é calmo, mas quando lhe contei, ele ficou fulo e disse que se fosse com ele teria dado uma boa sova à velha.

DÁRIO – O meu pai só é bruto comigo.

DIANA – Bruto contigo?! Ele parece tão sossegado!

DÁRIO – Sossegado só perante a Maria Berta. À ela ele venera.

DIANA – Deves ter passado maus bocados com a tua madrasta!

DÁRIO – Para dizer-te a verdade, ela nunca me bateu. E não era preciso. Tinha o carrasco do meu pai que cumpria regular e assiduamente as ordens dela.

DIANA – O teu pai batia-te?

DÁRIO – Não. Bater-me é favor.

DIANA – O quê?! Conta-me lá então, rápido. Estou ansiosa para ouvir a tua triste estória.

DÁRIO – Sou uma pessoa muito fechada. Não sou de dar conversas a qualquer um. A minha criação fez-me um tímido. Lá em casa, cada opinião minha custava-me um espanto ou um sopapo no focinho.

DIANA – Que o teu pai te dava?

DÁRIO – Exatamente. Desde que a minha mãe morreu… tinha eu ainda, dez anos apenas.

DIANA – De que padecia a tua mãe e com que idade ela morreu?

DÁRIO – A minha mãe não tinha nada. Morreu de parto.

DIANA – Que pena!… (Depois de abraçá-lo) É deveras muito triste!

DÁRIO – Ela era 19 anos mais velha do que eu. Aos 29, quando ia ser mãe pela segunda vez, ia ser mãe de uma menina, mal esta chegou ao mundo, a minha mãe já era um cadáver.

DIANA – Chegou a ter o bebé?!… O bebé nem chegou a nascer?

DÁRIO – Dizem que também faleceu poucos dias depois. (Limpa as lágrimas) Não consigo esquecer as últimas palavras que ela me dirigiu, segundos antes de sua morte. Agarrou com força o pulso frágil de um menino franzino e disse, quase já em sussurro: – «Dário meu filho, Deus te acompanhe… te dê sorte neste mundo» Ela tentou apertar-me com força, mas não conseguia. E continuou: «Já não tenho forças! Faltam-me forças para te abraçar. Sinto que me faltam forças para me despedir de ti, meu filho! A vista está a ficar-me turva, sinto a alma esvair-se… a distanciar-se e a afugentar do meu corpo. Mas não me cansarei de pedir… de perto… a Deus que te proteja! Que te faça um homem feliz. Meu menino… meu Dariozinho! Sê feliz neste mundo!» A boca da minha mãe nunca mais se abriu para dizer mais nada.

DIANA – São deveras dolorosas, meu amor. Mas não chores. Quero ouvi-las.

DÁRIO – Pra muita gente a morte da minha mãe envolve-se em mistérios.

DIANA – Mistérios?! Como assim? Não disseste que ela morreu de parto?

DÁRIO – Depois de alguns anos, uma fotografia dela foi encontrada na ribanceira da casa de um famoso curandeiro da atura. E sempre se desconfiavam da minha madrasta por que as duas não se davam bem e a D. Berta gosta de ir às bruxas. Basta não gostar de ti, dá-te por palavra.

DIANA – Meu Deus!

DÁRIO – Logo que o meu pai levantou a esteira da minha mãe, (soluça-se) ele vendeu a casa que era dela e levou-me para irmos morar com a minha madrasta. Fui crescendo e a D. Berta sempre muito minha amiga na presença do meu pai. E na ausência ela me injuriava. Sempre que os dois se privavam ela enchia a cabeça ao meu pai, com queixinhas contra mim e, com lágrimas nos olhos dizia-lhe que filhos dos outros não prestavam, que não se lhes reconheciam esforços e que eu só lhe pagava ingratidão pelo amor que me dedicava.

DIANA – E o teu pai… o que te dizia?

DÁRIO – O que me dizia ou o que me fazia?

DIANA – Certamente não vou acreditar no que me vais dizer!

DÁRIO – Mas é verdade. Ele batia-me pior do que no cão da Maria Berta.

DIANA – O Quê?!

DÁRIO – Pior do que no cão da minha madrasta.

DIANA – Nem procurava saber se era verdade o que ela lhe contava?

DÁRIO – Quando uma pessoa, mormente uma criança, é tida ou conotada por malcriada, qualquer mentiroso se sucede em acusá-la.

DIANA – Disseste que ele te batia pior do que no cão da tua madrasta?

DÁRIO – Só para teres uma ideia: um dia, enquanto o meu pai almoçava, esse cão peidou. E felizmente peidou-se. Porque se tivesse bufado e apenas o cheiro fosse sentido, sem o estrépito das ventosidades anais, o culpado de peidorreta seria certamente eu. Entretanto, o meu pai deu um chuto no traseiro do bicho, a minha madrasta atirou-lhe com uma garrafa que, por sorte, foi embater contra a parede.

DIANA – Ela é mesmo bandida. Desculpa lá. É desgraçada.

DÁRIO – Ela é muito mais do que isso. Olha: quando fiz o segundo grau, matriculei-me no Ciclo Preparatório. Preparado para começar as aulas, na véspera, ela deu voltas à cabeça ao meu pai, este não me deixou ir.

DIANA – E agora que acabaste o curso, devem estar todos envergonhados.

DÁRIO – Vergonha não é o apanágio de todos. D. Berta não sabe o que é a vergonha.

DIANA – Vê-se na cara dela!

DÁRIO – Aos 18 anos de idade, fui para a tropa e saí aos 20. Aos 22 fiz o 2º ano do Ciclo Preparatório. Para fazer as inscrições para o exame, um irmão meu, 10 ano mais novo, deu-me umas calças jardineiras que eu vendi pelo preço do selo correspondente às inscrições. Tive a melhor nota do concelho. Fui retomando o gosto pelos livros e em quatro anos concluí os Liceus. Consegui uma bolsa e, precisamente, este ano acabei o curso de Agronomia. É por isso que a minha madrasta está revoltada porque no fundo, ela perdeu a aposta de que eu nunca seria alguém na vida.

DIANA – É assim mesmo que se deve dar respostas a muitos. Bofeteá-las com a mão fechada.

DÁRIO – Contigo hoje, foi mais uma jogada que ela tentou contra mim. Mas desta vez penso que o pai já se apercebeu que tipo de mulher ele tem.

Diana abraça-o e beijam-se com ternura.

CXCIX CENA

Rosalina tem um ramo de flor no regaço. Amândio aproxima-se dela, trajado de caçador. Retira o chapéu da cabeça e pega na mão.

AMÂNDIO – Boas tardes, Rosalina…

ROSALINA – Deus te dê as mesmas, Amândio.

AMÂNDIO – Tua avó ralhou-te ontem por minha causa?

ROSALINA – Nada, Amândio. Não me disse a mínima coisa, e até me parece que não soube que esteve aqui. E ficou contente com a galinha… disse-lhe que foi um amigo que ma ofereceu e ela nem me perguntou quem era.

AMÂNDIO – Ainda bem; ser-me-ia de bastante pesar se sofresses o mais leve desgosto por minha causa.

ROSALINA (segura na flor) – Olha… tenho aqui esta flor para lhe dar. É a paga do seu presente de ontem. Uma recompensa bem insignificante… mas não tenho outra melhor.

AMÂNDIO (com a flor na mão) – É muito linda esta flor, e estimo-a por vir das tuas mãos. Mas ainda assim, não é com flores que se retribuem paixões!

Ela não responde, ele retira-se.

CC CENA

Dário e o pai conversam-se na sala.

DÁRIO – Não percebo por que é que a minha madrasta trata-me tão mal! Senti vontade que o chão abrisse e eu entrasse.

JOÃO DA CRUZ – Assisti a tudo, meu filho.

DÁRIO – E não disse nada!

JOÃO DA CRUZ – Não disse nada para não constranger mais a garota.

DÁRIO – Pelo menos uma palavra só deveria ter dito em minha defesa.

JOÃO DA CRUZ – Preferi calar-me, pelo teu bem. Quis preservar o amor que a moça te dedica. Mas a Berta vai ter que me explicar por que é que te fez isso.

DÁRIO – Pelo menos uma palavra só.

JOÃO DA CRUZ – Eu sei que tu achas melhor se eu tivesse intervindo logo. Mas não. Seria pior. Olha que a moça não nos conhece ainda bem, se eu tivesse respondido à tua madrasta, entraríamos numa grande discussão e a rapariga ficaria muito mal impressionada. Estás a perceber?

DÁRIO – Não consigo perceber.

JOÃO DA CRUZ – Mas tens que perceber, meu filho. Não é sempre que se defende, atacando.

DÁRIO – Quando eu era criança você me batia por tudo e por nada por causa da D. Berta. Bastava que ela inventasse algo contra mim, ela tinha logo razão. O meu pobre couro pagava. O momento em que ela se sentia mais feliz era quando se apercebia que eu estava triste. Hoje, pelo menos, você presenciou! E continuou incólume, sem dizer nada, esquecendo-se de que sou órfão de mãe, órfão de uma mãe que, certamente, defenderia seu filho em todas as circunstâncias.

JOÃO DA CRUZ – Não sejas injusto. Posso ter-te maltratado algumas vezes, mas hoje, só deves concordar-te comigo. Tens estudos, mas não te esqueças que orelha é mais velha do que chifres. Que sou eu quem te pariu.

DÁRIO – E daí?

JOÃO DA CRUZ – Se tivesse respondido à tua madrasta logo, a moça ficaria desiludida, pensando, desde já, vir enfrentar uma família de brigões. Como não respondi, ela vai desapontada apenas com a Berta.

DÁRIO – Pode ser até que o pai tem razão.

JOÃO DA CRUZ – É verdade que há muito me apercebi que tenho sido cruel contigo… desrespeitando a alma da tua mãe, que Deus a tem num canto da Glória. Apercebi-me de que tenho sido levado pelos caprichos da tua madrasta a maltratar-te. Pois, do jeito que ela me dizia como lhe fazias traquinices… como ela te amava e tu a maltratavas, fazia-me acreditar piamente.

DÁRIO – Quer isso dizer que reconheceu os erros e quer pedir perdão?

JOÃO DA CRUZ – Ela sempre soube direcionar-me contra ti. Abraçava-me, beijava-me e dizia: – «João da Cruz, vai comigo ao kobon». [Fazer necessidade na achada] – E aí ela dizia-me que tinhas cabeça-rija, argumentava e chorava.

DÁRIO – Mas você não poderia ter sido no mínimo menos injusto? Ter pensado primeiro e depois agir? Por que não falava comigo antes de me bater? E você batia-me todos os dias, e não me batia como um filho, nem como uma criança. Batia-me aos murros e pontapés, por onde acertasse, com chicote da verga do boi, cinto de couro ou vara de marmeleiro.

JOÃO DA CRUZ – Não quero que me fales mais nisso, Dário.

DÁRIO – Pai, quem pede perdão, é por que confessa o seu pecado. E quem perdoa deve saber o que, e por que está a perdoar. Sei que agora o pai sofre por ouvir estas verdades. Mas eu sofri em aceitar-me, levar e conformar-me. A minha madrasta apostou na minha desgraça e jurou tudo fazer para ganhar a aposta. Pai, lembro-me claro do dia em que a minha mãe morreu. Tinha eu dez anos de idade. Eu conhecia as rixas entre vocês. Sei que o pai nunca dava razão à minha mãe quando brigava com suas amantes. E ela morreu de parto, com um filho seu no ventre dela. Um irmão que, do resto, foi mais feliz do que eu, por não chegar a conhecer a D. Berta.

JOÃO DA CRUZ – Se não paras de me torturar, levanto-me daqui e deixo-te sozinho.

DÁRIO – Desculpe-me.

Dirige-se ao pai e dá-lhe um abraço.

CCI CENA

Amândio e Rosalina encontram-se no mesmo sítio e à mesma hora.

AMÂNDIO – Rosalina, os momentos são-nos preciosos e, antes que tua avó venha, como da outra vez, roubar-me a preciosidade destes poucos instantes, é preciso que nos declaremos. Lembra-te, que aqui neste lugar, não há muito te declarei francamente quais eram os reais sentimentos do meu pobre coração. (Rosalina inclina a cabeça para o peito) Nada me respondes? Não serei digno de uma só palavra tua?

ROSALINA – Amândio…

AMÂNDIO – Sê franca, minha querida; não faças tão desesperados esforços para me ocultares o teu amor. De que vale isso? Torturas-te, e torturas-me. Eu sei o que se passa na tua alma; sei que também no teu coração se insuflou um sentimento terno e sublime; sei que…

ROSALINA – Meu Deus… quem lhe ensinou adivinhar?

AMÂNDIO – Ninguém, ninguém. Adivinhei-o eu sozinho.

ROSALINA – Sozinho?!

AMÂNDIO – Sozinho! E admiras-te disso? Porque foges de mim e evitas todas as minhas frases de amor?

ROSALINA – Amândio, tudo isso é verdade e seria loucura negá-lo; você disse que me tem amor, que a sua felicidade depende de mim. Pois oiça: eu também o amo. Também senti no meu coração, um não sei quê de irresistível que me impeliu a si desde o momento em que declarou ter-me um amor sincero. Tentei desviar de mim, quanto pude, essa afeição que senti por si, fiz mais os inauditos esforços para lhe ocultar o que se passava em meu peito, fugi-lhe muitas vezes para não me trair, e estava resolvida, por fim, a morrer com o meu segredo. Afinal, como fraca que sou, deixei-me vencer, e digo-lhe: Amo-o. Agora, que da minha boca ouviu esta custosa confissão, não me escarneça.

Ela chora, Amândio toma-lhe as mãos e cobre-as de beijos.

AMÂNDIO – Ah, minha querida, eu, escarnecer-te? Podes ficar sossegada. Para quê tantas lágrimas e tantas angústias?

ROSALINA – Amândio, eu sou uma pobre rapariga, que tenho apenas, por únicos bens de fortuna, os meus braços. Vivo do meu trabalho e, faltando-me ele, tornar-me-ei talvez tão desgraçada que morrerei à míngua. O senhor, pelo contrário, é rico, filho do Sr. Morgado, dono de uma casa que Deus beneficiou com avultados haveres.

AMÂNDIO – Vãs insinuações, Rosalina. Eu amo-te e esse amor é suficiente para te tornar rica. Pois, ele é sincero.

ROSALINA – Mas de que valerá isso se daqui a pouco me abandonará, para dar o seu coração e talvez até o seu nome a outra mais digna do que eu?!

AMÂNDIO – Rosalina!…

ROSALINA – É este o motivo por que tentei sempre afastar de mim o seu amor, e que me obrigou a ocultar-lhe até hoje o segredo mais íntimo da minha alma; por fim, como vê, não pude ser mais forte do que mim própria. Fui fraca demais para vencer os impulsos do coração e confessei-lhe tudo. Mas sei que sou indigna do seu amor; vejo até que cometi uma grande imprudência em lhe amar, porque é imensa a distância que nos separa.

AMÂNDIO – Que loucura a tua, Rosalina! Dizes que não és digna dos meus afetos, que és pobre, e que um dia te trocarei por outra!

ROSALINA – Menti?!

AMÂNDIO – Como tu enganas, pobre criança!… Pois quem será mais digna de mim, senão tu, a quem amo loucamente? Que me importa que tu sejas pobre? Olha, minha Rosalina, para mim, possuis tu os dotes mais preciosos que uma mulher pode ambicionar. As tuas riquezas são esses olhos, que roubaram a cor azul do céu; são esses cabelos de ouro; são esses lábios finos como pétalas de uma rosa; são essas faces de cetim; são essas formas angélicas; são finalmente os sentimentos desse teu coração virgem.

ROSALINA – Desculpe-me, Amândio; mas há felicidades tão imensas, há venturas tão supremas, que uma pobre rapariga como eu, quando chegar a pensar nela, olha-as mais como um sonho. Daí partem todas as minhas dúvidas, todos os meus receios e medo de me acordar.

AMÂNDIO – Pois, impele-os para longe de ti. E, se queres provas mais convincentes, pede-me o maior dos sacrifícios, porque te obedecerei como um escravo. Dessa forma não te restará a mais pequena dúvida do meu amor, amar-me-ás sem receio, e convencer-te-ás da realidade de todas essas felicidades e aventuras que crês impossíveis.

ROSALINA – Deus está a ouvir, Amândio.

AMÂNDIO – Rosalina, por quem és, não dilaceres este meu pobre coração com a descrença e a dúvida; Jura que me amas; abre-me a tua alma e deixa-me mergulhar nas suas ondas.

ROSALINA – Amo-o sim; amo-o como nunca amei neste mundo e quero-o mais do que a minha própria vida!

Encosta-lhe a cabeça ao ombro e soluça.

AMÂNDIO – Agora, sim, meu anjo. Agora vejo quanto amor há nesse peito. Já não me resta a mais pequena dúvida… sei que me amas e é isso o bastante para que a minha felicidade seja completa. Ergue esse rosto, deixa-me admirar bem de perto todos os encantos que o enfeitiçam. (Ela levanta a cara molhada de lágrimas) Tu és linda, querida.

Limpa-lhe as lágrimas com um lenço branco.

ROSALINA – E não quererá nunca outra mulher para sua esposa, não foi o que me disse?

AMÂNDIO – Sim, sim. És a única que será capaz de me fazer verdadeiramente ditoso.

ROSALINA – Ah, Amândio! E se um dia você aborrecer de mim?

AMÂNDIO – Acaso desvairas-te, Rosalina?

ROSALINA – Ah, Santa Virgem, se tal suceder, parece-me que morrerei de pesar; dizem que os homens são tão ingratos…! (Ele aperta-a ao peito e beija-lhe. Ela desprende-lhe dos braços) Amândio, vejo que abusa demasiado da minha fraqueza e que a continuação da minha presença neste lugar pode ser-me bem fatal.

AMÂNDIO – Perdão, Rosalina, perdão. Sei a imprudência que cometi. Deixei-me arrastar pelos impulsos do coração, mas, apesar disso, nada temas. Esse beijo que te dei foi como o selo eterno do meu amor; diz que me perdoas, jura ainda que me amas e que não queiras que eu parta com o desespero no coração.

ROSALINA – Não tenho de que perdoar-lhe, Amândio. O que eu temo é se venha a esquecer dos seus deveres.

AMÂNDIO – Amo-te muito para que ousasse… mas diz-me: Não afrouxou por isso o amor que disseste ter-me, não é verdade?

ROSALINA – Oh, não, não! Este fogo que me abrasa o peito, só a morte o poderá extinguir. Juro-lho.

AMÂNDIO – Obrigado, minha querida, obrigado. Mas antes de nos separarmos, tenho que fazer-te um pedido:

ROSALINA – E eis aqui a sua serva, cujo coração jamais permitirá que da sua boca saia uma recusa.

AMÂNDIO – Ora, então, de hoje em diante, principia para nós uma nova época de venturas, e, por isso, espero que não perderás um só momento de nos podermos encontrar a sós, para falarmos sem receio, do nosso amor e do nosso futuro.

ROSALINA – Fique tranquilo.

AMÂNDIO – Adeus, até amanhã.

ROSALINA – Adeus.

Apertam mutuamente as mãos, Rosalina beija-lhe a mão e sai a correr.

AMÂNDIO [V. O.] (caminha lentamente)«Parece que a amo realmente!… Deus do céu! Será que a amo como ela merece? Parece que sim. Não há quem veja essa rapariga que não fica logo apaixonado. Às vezes não entendo por que é que a natureza consegue juntar numa mulher só tanta beleza!» (Matuta um pouco) «Mas a Teresa?… Coitada da Teresa! Já não me lembrava dela».

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