À minha e nossa Cidade Invicta
I
Bonita sina tem a Cidade do Porto! Foi ontem “Melhor Destino Europeu de 2014”. Hoje, a Torre e a Igreja dos Clérigos, os ex-libris da Cidade Invicta, venceram o Prémio Europeu Nostra Conservação. Canta-se que São João devolveu a Torre à Cidade e ganhou o mesmo esplendor de 1779, com os pretos e cinzentos, acumulados pelas rugas e sinais do tempo, de tanta poluição, a darem lugar aos rosas, dourados e brancos. (É a cultura e o culto de mãos dadas a conquistar o mundo!)
II
Na Invicta não quero lembrar da narrativa simbólica da Metamorfose de Frank Kafka que reflete sobre a angústia individual, a solidão e a desesperança humana porque, ali, ninguém sente a sensação de claustrofobia nem impotência do homem moderno perante a realidade absurda e labiríntica que o envolve e as forças exteriores que escapam ao seu controlo.
III
Escolherei para ler na Cidade “O Cândido” ou “O Otimismo” de François – Marie Aroust, Voltaire em que o seu herói confronta-se regularmente com o otimismo veiculado pelas teorias de Leibniz (o melhor dos mundos possíveis a ideia da candura que o otimismo gera na adversidade através da existência do mal e da justiça divina.)
IV
Na Invicta cidade há histórias d’encantar D’Ouro rio e da Ribeira. Das históricas Livraria Lello ou Livraria Chardon e do Café Majestic. Há noutra margem a Afurada linda e mulheres que afinam-se as vozes no lavadouro D’Ouro das lavadeiras e peixeiras que dão vida aos tanques como museu vivo com o ritual de torcer a roupa bem torcida. A Afurada bate recorde nas festas de São Pedro. Perguntai à Rosa Dias ou ao chefe da cozinha da taberna do São Pedro d’ Afurada?
V
Ó Afurada linda da tradição antiga! Ali, apercebe-se que há uma certa ternura como a do homem e do animal aquela relação de lealdade e fieldade. Ó lembrar o lavar no rio com vista para o Douro é puro e otimista. Logo, eu esqueço-me da quinta dos animais de George Orwell todos os animais são iguais. Através fabula distópica “Animal Farm” digno da fábula intemporal do homem-bico que se encontra refém da sua condição.
VI
Conjetura-se na Invicta que a cripta encontrada nas obras de requalificação da Torre e da Igreja dos Clérigos que remonta ao século XVIII e pode conter os restos mortais do arquiteto italiano Nicolau Nasoni. Nota-se que estas obras emprestam à Cidade o seu impacto, o seu esplendor, a sua complexidade e a estranheza das formas, em particular ao Norte de Portugal.
VII
Na Foz D’Ouro escolhia o poema “AS GAIVOTAS” no caderno “ Com o Sol em Cada Sílaba” de Eugénio de Andrade, e suplicava a uma gaivota para me dar uma única pena para reescrever a poesia: As gaivotas. Vão e vêm. Entram.\ Pela pupila.\ Devagar, também os barcos entram.\ Por fim, o mar.\ Não tardará a fadiga da alma.\ De tanto olhar, tanto olhar.\
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