A sexta Edição do Grito Rock deu o seu pontapé de saída nesta terça-feira, 27 de março, Dia da mulher Cabo-verdiana, com uma singela homenagem às Mulheres. Pela segunda vez, consecutiva, o Festival Grito Rock, na cidade da Praia, abriu com o “Grito Rock Mulher” que trouxe uma produção teatro-musical de Vera Cruz que aborda a evolução da Mulher desde os primórdios da escravatura á data de hoje. Um show diferente e uma bela forma de inaugurar o Grito Rock 2018 que este ano promete, com um cartaz variado e com vários nomes internacionais.
A sala de espetáculo do Centro Cultural Português foi pequena para receber e conter tanta energia, beleza, poesia e muita música, nas belas vozes de Zubikila Spencer, Sílvia Medina, Ellah Barbosa, Nilde Mulongo e a pequena Alícia Freitas, como também da diretora Vera Cruz e Vera Figueiredo que comandam a narrativa como duas radialistas.
A peça, precisamente, retrata a condição feminina e a luta universal das mulheres pela igualdade e equidade de género desde os primórdios da escravatura aos dias atuais, através de uma encenação de um programa musical de rádio em que Vera Cruz e Vera Figueiredo fazem uma abordagem histórica e crítica da condição feminina e da luta do dia-a-dia da mulher, através de várias canções nacionais e internacionais conhecidas.
Da escravatura ao feminismo, de mulheres “objetos” para líderes nas várias vertentes da vida social, a peça mostra a força da mulher, lembrando figuras como a pintora Frida Kahlo ou a estilista Coco Channel, e ainda Simone Beauvoir ou Betty Friedan nomes incontornáveis do movimento feminista ou a recém-assassinada ativista social e deputada federal brasileira, Marielle Franco, todas elas mulheres à frente do seu tempo e lutadoras de forma indireta pela causa da Mulher. Sem esquecer também a mulher cabo-verdiana, é claro, como Nhanha Bongolon que liderou a revolta de Ribeirão Manuel e ficou celebrizada na música de orlando Pantera, como as muitas Mulheres Combatentes pela Liberdade da Pátria que ajudaram a tornar realidade o 5 de julho de 1975 e as mulheres célebres e anónimas que fazem, nas palavras das radialistas, “a nova versão” da mulher cabo-verdiana, emancipada, dona de si, de seu corpo e de sua cabeça.
Tudo isso à volta de uma rica “banda sonora” que engloba compositores como Milton Nascimento e outros estrangeiros, a gente nossa como os saudosos Orlando Pantera e Renato Cardoso, a Nhelas Spencer ou Alcides Spencer Brito, brilhantemente cantados pelas belas vozes presentes no palco do Centro Cultural Português.
“Uma experiencia única” para Ivan Medina, diretor musical da obra, que agradece à Artikul CJ, promotora do Grito Rock, e aproveita para deixar uma palavra de apreço às mulheres, as cabo-verdianas em particular, que “são a base de tudo, são a nossa força… Os nossos anjos da guarda”, sublinha o músico que reconhece o “machismo” da sociedade cabo-verdiana.
“Nós conquistamos muita coisa, nada nos foi dado de bandeja, muitas foram morrendo pelo caminho para chegarmos até aqui. Ainda não estamos num lugar cimeiro e a luta continua, certamente (…) A ideia é levantarmo-nos cada vez mais e, pela persistência, convicção, chegarmos lá, à conquista, à vitória que será certa, com certeza!”, resume Vera Cruz.
Atriz, cantora e diretora, Vera Cruz tem-se sobressaído pela sua originalidade e irreverencia com vários trabalhos, nomeadamente o projeto «Sakuta» com que participou no Festival Kriol Jazz de 2011, ela que foi vocalista do grupo de reggae Oba com Kwanme Gamal e outros e promotora de várias iniciativas também em poesia e “spoken words”, com várias participações em festivais e produções de teatro e poesia em Cabo Verde e no exterior, nomeadamente «Palavras na Cidade, Lisboa – Gulbenkian, «Caminhos da Poesia, Oeiras e «Cidadi Poesia, Cabo Verde . Saiba mais sobre Vera Cruz na sua página oficial:
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