• Praia
  • 29℃ Praia, Cabo Verde
Vamos armar o cabo com conhecimento   
Colunista

Vamos armar o cabo com conhecimento  

E em conversa com um amigo, ele definiu cidadão do bem da seguinte forma “É um cidadão que vai ter chances de conseguir porte de arma, e consequentemente puder comprá-las, e são os mesmos que criaram os guetos por causa das suas políticas discriminatórias, que levaram a que "filhos da mãe" não tivessem boa educação e caíssem na má vida e no crime.

Li um artigo no jornal A Nação, da autoria de Billy Balton Brito, onde pretende abrir o debate sobre a posse de armas pelos “cidadãos do bem”, e confesso que fiquei sem perceber o que são cidadãos do bem em Cabo Verde, e quais os fundamentos para justificar a necessidade de um debate sobre o tema.

 

Segundo o Atlas da Violência, a maioria dos estudos revelam que a proliferação do porte de arma fez aumentar o risco de homicídios, feminicídios, suicídios e acidentes envolvendo crianças.

 

Não é novidade nenhuma, e nem precisamos ser especialistas, e como disse a jornalista Clara Ferreira Alves, “mas tens uma biblioteca em casa” para pesquisarmos as consequências da posse de armas. E os resultados não são nada animadores porque a maioria dos massacres e homicídios são nos países onde existe o porte de armas. Como exemplo, se procurarmos por massacres nas escolas ou tiroteios os resultados, na sua maioria, são dos EUA.

 

E em conversa com um amigo, ele definiu o cidadão do bem da seguinte forma “É um cidadão que vai ter chances de conseguir porte de arma, e consequentemente poder comprá-las, e são os mesmos que criaram os guetos por causa das suas políticas discriminatórias, que levaram a que "filhos da mãe" não tivessem boa educação e caíssem na má vida e no crime."

 

Esta tentativa de debate, que não é debate nenhum, é nada mais do que uma tentativa de camuflar outros problemas, retirando o foco sobre as principais causas do problema da criminalidade em Cabo Verde. A falta de oportunidades e as más políticas sociais são as causas que impedem o combate a criminalidade - precisamos entender isso -, e não equipar o Cabo.

 

Sendo um deputado municipal eleito pelo MPD, e que apoia o partido no governo, partido este que afirma que o país nunca esteve mais seguro e que as políticas sociais estão a funcionar e não aceitam posição contrária, então podemos questionar o motivo de, agora, falarmos sobre porte de arma?

 

Porque não falamos abertamente que o País não está seguro e que as políticas sociais não estão a funcionar. O que vejo neste artigo é que a violência no país aumentou e da parte do autor não existe frontalidade para questionar abertamente o Governo sobre esta situação ou estamos perante um texto populista.

 

Por falar em populismo, todos devemos recordar que Trump e Bolsonaro ficaram conhecidos, em parte, pelo incentivo ao porte de armas, inclusive, Trump chegou a criticar publicamente o controlo de venda de armas e pediu que se "armem os cidadãos" e Bolsonaro comemorou o aumento do porte de armas e tinha prometido aumentar ainda mais esse número, caso fosse eleito.

 

Mas neste país aceitamos tudo sem qualquer olhar crítico. Este assunto será considerado por outros como uma possibilidade, sem questionar as principais causas de estarmos a colocar esta possibilidade.

 

Nos Estados Unidos, os tiroteios ou os massacres são um flagelo recorrente que os sucessivos governos nunca conseguiram conter e sempre foram incapazes de adotar qualquer lei sobre o assunto, em particular devido ao poder dos 'lobbys' pró-armas.

 

Acredito que antes de falarmos do cabo desarmado deveríamos focar nos principais problemas que criam desigualdades sociais e levam muitos ao mundo do crime e a melhor forma de os combater é com um melhor sistema de ensino e a criação de oportunidades para todos.

 

Portanto, a legítima defesa não pode ser considerada uma manifestação da dignidade humana, para justificar o porte de armas, mas sim uma consequência do falhanço de todas as políticas sociais e de uma sociedade em falência.

 

 

Partilhe esta notícia