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“Tempo perdido jamais se recupera”
Colunista

“Tempo perdido jamais se recupera”

Para mim, padre Boaventura foi um primo, amigo, mestre, reitor e conselheiro. Foi ele quem me levou para conhecer o mar da Ribeira da Barca, pela primeira vez, aos 6 ou 7 anos. Enquanto seminarista de 1983 a 1987, por diversas vezes, quando eu ía para pagar as mensalidade, a pessoa responsável pelo recebimento me dizia que ele já tinha pago a minha mensalidade. Por isso, sou-lhe eternamente grato por esse gesto de tamanha generosidade e benevolência! Rogo a Deus que reserve um canto na glória para que esse ilustre homem cujo tamanho de suas obras e realizações rompeu as fronteiras de sua aldeia e de seu tempo repouse na eternidade na companhia dos santos!

No ano lectivo 1986/87, frequentava o seminário diocesano de São José, na Praia, e o padre Boaventura Lopes era o nosso reitor.

Na altura, meus colegas do antigo 5 ano (atual 9 ano) e eu éramos adolescentes com 14 para 15 anos e parecia que o mundo estava à nossa espera para quando quisessemos estudar ou fazermos o que deveriamos fazer.

Eis que quando estavamos a jogar cartas ou a conversar fora dos horários convenientes, o padre Boaventura aparecia para nos alertar com uma frase filosófica e sábia: “tempo perdido jamais se recupera!” Ele nos ensinava e encentivava a aproveitar o tempo da melhor forma possível e não a desperdiçá-lo.

Ele tinha uma forma pedagógica de ensinar que nos obrigava a refletir em cada uma das palavras de suas frases, pois, eram ensinamentos para vida toda.

Nos seus 74 anos de vida, padre Boaventura foi um grande pioneiro e realizador: praticamente começou as infra-estruturas físicas de suporte do zero nas Paróquias de Nossa Senhora do Socoro na Achada de Santo António e da Paróquia de Imaculada Conceição de Maria em Achadinha e Bairro onde foi Pároco, segundo o padre Costantina.

Eu mesmo pude testemunhar que ele foi o principal criador e dinamizador do grupo de  escuteiros em Assomada, quando fora professor do liceu Amilcar Cabral da disciplina de filosofia e convidou e teve adesão imediata e quase unânime dos seus alunos para integrarem o primeiro grupo de escuteiros de Assomada nos aos 1990/91.

Ainda foi o primeiro da família Tavares Alvarenga e Lopes e da zona de Lém Grande e Gil Bispo a obter diploma de nível superior.

O Cardeal e Bispo D. Arlindo Furtado, em sua homilia fúnebre, definiu o padre Boaventura como um homem que se pautava pelo que era essencial e que era parco em suas palavras e priorizava aquilo que era o essencial.

Padre Boaventura tinha muitos e bons amigos e colegas, gostava muito da sua família e de seus amigos e colegas e estes também o amavam e o respeitavam muito.

O Conselho de Santa Catarina perdeu um de seus filhos mais ilustres na passada quinta feira, 29/02/24, e a sua partida deixou uma dor profunda nos corações de seus familiares, amigos, colegas, vizinhos, paroquianos, conhecidos e esse vaziu será difícil de ser preenchido.

Padre Boaventura era um homem bem humorado, gostava de contar passagens engraçadas, tinha um sorriso fácil, era benfiquista, tinha uma consciência política sintonizada com o povo. Certa vez, estávamos juntos e o telefone tocou e ele viu quem tinha chamado e disse que ele era a única pessoa que chamava o Cardeal (Bispo D. Arlindo) por “tu” e conversaram rápidamente.

Para mim, padre Boaventura foi um primo, amigo, mestre, reitor e conselheiro. Foi ele quem me levou para conhecer o mar da Ribeira da Barca, pela primeira vez, aos 6 ou 7 anos. Enquanto seminarista de 1983 a 1987, por diversas vezes, quando eu ía para pagar as mensalidade, a pessoa responsável pelo recebimento me dizia que ele já tinha pago a minha mensalidade. Por isso, sou-lhe eternamente grato por esse gesto de tamanha generosidade e benevolência!

Rogo a Deus que reserve um canto na glória para que esse ilustre homem cujo tamanho de suas obras e realizações rompeu as fronteiras de sua aldeia e de seu tempo repouse na eternidade na companhia dos santos!

 

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