Retorno à boa nova: caiu o pardieiro pandialetal, mas o perigo continua à espreita através do (projeto) hORIZONte
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Retorno à boa nova: caiu o pardieiro pandialetal, mas o perigo continua à espreita através do (projeto) hORIZONte

Em matéria linguística podemos ser parceiros soberanos, nunca súbditos de qualquer cagança científica estrangeira, sobretudo se ela nos cheira ao retorno duma trapaça já desmascarada, venha duma argêntea montada em milhões ou do zé da esquina onde bebo os copos. Por isso voltamos a dizer: não aceitaremos a mediocridade e a ignorância de compêndio, inda venha embrulhada em capas doutorais. Ao vir intimar os bravos cabo-verdianos (é certo que os há também pusilânimes e traidores) com diktats supremacistas, a madre do projeto ORIZON deu um tiraço de canhão nos dois pés e, como dizem os brasileiros, conseguiu o impossível, que é chutar o próprio traseiro. Convenhamos, é obra. E, o que é pior, ao hostilizar o poeta José Luiz Tavares, o homem que derrubou o pandialeto e há de enterrá-lo, encomendou o próprio caixão. Há de chegar o tempo da necessária padronização linguística, sem dúvida, mas não é agora no imediato. Quando for o tempo, se não for por via natural, deverá ser um trabalho de largo espetro social com verdadeira abrangência interdisciplinar e suporte legal, e nunca uma risível e desastrada engenhoca linguística revestida de um conhecimento de pacotilha, dado que o verdadeiro mostraram não possuir, ou, possuindo-o, foi-lhe dado um uso bastamente errado. Por ora, que viva a língua cabo-verdiana na sua pluralidade dialetal de Santo Antão a Brava. E para que assim permaneça, a escória linguística tem que ser simplesmente esmagada. E porque é preciso o esmagamento total? Porque apesar da arrasadora e humilhante derrota, não vão desistir, pois há prata, guito, carcanhol, pelo meio. A nós cabe-nos o chumbo mortal que as enterrará, para a história, definitivamente nos monturos da ignomínia.

No rescaldo do processo vitorioso desencadeado e conduzido pelo poeta José Luiz Tavares (publicamente sozinho, em privado com o apoio de poucos que se diziam defensores da língua cabo-verdiana, mas com um assombroso amparo popular, sobretudo entre as camadas mais humildes e desamparadas da população das nossas ilhas e suas diásporas), com o inestimável contributo, a título pessoal, do Dr. Júlio Martins Júnior, bastonário da Ordem dos Advogados, houve a televisão de Cabo Verde por acertado entrevistar o Doutor Saidu Bangura, professor na Universidade de Cabo Verde.

Um primeiro aspeto deve ser claramente salientado: não haveria notícias, não haveria comentários, entrevistas, esclarecimentos de ninguém, de nenhum técnico ou especialista, por mias notório ou notável que seja, se o poeta e cidadão cabo-verdiano José Luiz Tavares não se tivesse levantado, percorrido milhares de quilómetros desde o estrangeiro, e empenhado, num primeiro momento, apenas os seus meios, a sua pena e determinação, e enfrentado essa trupe maliciosa com a última e mais contundente das armas: a da lei e do direito, cuja verdade sua é a justiça.

Posto que as tomadas de posição e o apoio são da livre decisão de cada um, o poeta José Luiz Tavares não sabe, nem tinha que saber onde estava o Doutor Bangura e outros tantos ditos defensores da língua cabo-verdiana, que resolveram desaparecer quando foi preciso dar o corpo às balas, o rosto à luta e um pouquíssimo de apoio financeiro à causa durante os longos sete meses, em que alguns de nós andamos a cutucar e a desmontar o malicioso manual de língua e cultura cabo-verdiana do 10º ano, uma espécie de lustrosa banana linguística, aparentemente inofensiva que, contudo, escondia lá dentro uma bomba atómica destinada a acabar com a língua na sua feição natural e plural: a (anti)norma pandialetal.

Convém não cometer esse equívoco que até os do nosso lado, alguns, têm estado a cometer, quase colocando no mesmo plano simples e corrigíveis questões pedagógicas, didáticas ou metodológicas, com a monstruosidade civilizacional, o glotocídio programado, a descarada e ‘criminosa’ tentativa de golpe diatópico supremacista-bairrista, de teor barlaventista (sem que as gentes de barlavento tenham coisa alguma a ver com a tosca marosca, esclareça-se), que é o porcamente denominado, e felizmente já morto legal e cientificamente, pandialeto.

Nunca se ousou, nem no tempo colonial, algo de tal magnitude contra a língua cabo-verdiana. Por isso não cansaremos de nomear as perpetrantes: Amália Melo Lopes, Ana Carina Moreira, Dominika Swolkien, Eliane Semedo e Maria do Céu Baptista. (É desta vez que me vão levar a tribunal? Um conselho, não de amigo, mas de guerreiro que se pela por um bom combate: façam o que tiverem a fazer em silêncio, pois tudo tem chegado aos meus ouvidos. E de cada vez que fico a saber de algo, a minha pena faz a justiça da tapadinha, onde sou imbatível xerife, juiz, acusador, carrasco e cangalheiro, para além de atafulhar-vos em processos legais de que vão demorar décadas a desembaraçar-se. Vou os metendo metodicamente, um por um, não deixando nenhum prescrever. Do vosso lado penso que devem fazer o mesmo, pois também é justo que assim seja, caso entendam haver matéria substantiva para tal, mas não a farsa e assomos de desespero, como a tosca tática de espalharem que iam levar a tribunal, a ver se ele parava, o autor do magnificamente monstruoso poema-manifesto em língua cabo-verdiana, nascido da monumental cagada das pandotóras, o também sumamente monstruoso, pela negativa, pandialeto . Ou então têm que ir procurar nos manuais de leis de guerra o significado de debelatio: não exigimos menos, não aceitaremos menos, pois a façanha e a ousadia foram incomensuráveis.

A origem bairrista e o resultado pretendido com esta tentativa de golpe é tão evidente que o principal rosto do lusotropicalismo político, um beato ideológico e hebdomadário soprador de sentenças, ele que sempre se opôs ao alfabeto oficial cabo-verdiano, sem atendível fundamento científico, social ou outro do que a sua ideologia cultural retrógrada (dizem-me que o jornal desta quarta-feira traz uma teoria gerada pela inteligência artificial e acolhida pela estupidez natural), enquanto usa para o português um alfabeto imposto desde o estrangeiro, mas não sufragado por nenhum parlamento, percebendo bem o alcance mortal da peçonha pandialetal para a língua cabo-verdiana escreveu um afanoso comentário (prestes colocado em linha para apanhar a onda revolta suscitada pelo poeta e determinado pela intervenção determinante da Procuradoria-Geral da República, sobretudo, louve-se, do senhor Procurador-Geral, cuja eficácia e validade, por ter o mandado expirado, é posta em causa por alguns landgrávios a soldo – serão a célebre «boiada»? - esquecendo-se que a prorogatio de cargos públicos constitui um princípio constitucional geral e não apenas uma obrigação legal pontual, quando expressamente estabelecida) dizendo que com jeitinho a coisa podia deslizar pela gorja dos mais renitentes, razão para desconfiarmos mil vezes e redobrar a guarda, pois não vão desistir nem render-se facilmente. Alguns ficarão na sombra por algum tempo a aguardar a oportunidade propícia, ou ativos através do projeto ORIZON, que trabalhemos na frente legal, social, científica e diplomática para o sepultar, com o poderio, a ferocidade, a determinação e a fecundidade poética, frustrando os seus intentos antipatrióticos supremacistas diatópicos ou diglóssicos.

A sumamente ridícula, por espúria, manobra de diversão para disfarçar a rotunda derrota e desautorização das pandiabretas, que é a invocação, em nas páginas do órgão oficial do lusotropicalismo irredento, nascida da cabeça  (desculpem, da cabeça não, que o cheiro nauseabundo da patranha não autoriza a suposição de que tenha provindo de tal parte anatómica) do seu teólogo mais talibã e vocal (como diria um bom amigo meu «uma pretensão caricata») da constitucionalidade do Alupec, que mais não é que o sistema oficial de notação gráfica de todas as variedades dialetais da língua cabo-verdiana, não se confundindo, por isso, nem de longe, pela sua magnitude deletéria, com nenhum ato de criação ilegal pelas impetuosas evas do pandialeto de variedades linguísticas artificiais, ainda que manhosamente camufladoras da tentativa de preponderância ou até exclusividade de variantes minoritárias de barlavento e a aniquilação da variedade-matriz da língua cabo-verdiana, é a prova final de que não olharão a meios para subjugação da língua-mãe de todos os cabo-verdianos das ilhas, e por vezes das suas diásporas, aos interesses supremacistas, num caso diglóssico, noutro diatópico.

Voltando à entrevista ao Doutor Bangura: estimo imenso a Margarida Fontes, quer do ponto de vista pessoal, quer do profissional, por isso o que vou dizer tem estrita aplicação à circunstância concreta da entrevista, não extrapolável para nenhum outro caso ou contexto, e tem intuito pedagógico, coisa estranha em mim, pois, nietzscheano que sou, a minha pedagogia é a do martelo, o escaqueirar como forma suprema de edificação.

Com relação à entrevista a Saidu Bangura, na minha ignorante opinião, ela fez exatamente o que não se deve fazer num caso destes. À entrada impetuosa da jornalista «em carrinho, e com os dois pés» (que já não é permitido, e por isso motivo para cartão vermelho), como se refletindo o ponto de vista das autoras do manual ou tivesse sido o entrevistado a fazer a monumental cagada, o Doutor Bangura não se retraiu, tendo sido assertivo, substancioso e esclarecedor, diria até «brutalmente brilhante», mesmo com a jornalista insistindo em pontos que Bangura já tinha elucidado e que ela deveria conhecer perfeitamente, porquanto eu próprio forneci-lhe elementos de trabalho numa outra ocasião. Mas ainda bem que assim sucedeu, pois as investidas da jornalista proporcionaram o cabal esclarecimento pelo linguista, ao mesmo tempo que revelava a perigosidade da ALMA-CV/KV para a língua cabo-verdiana (se pessoas conhecedoras, com ética e genuinamente empenhadas na causa, e não fazendo-a instrumento de um condenável bairrismo supremacista, não tomarem conta da organização, que está nas mãos das engendradoras do monstruoso pandialeto e seus, agora, silenciosos sequazes), acabando a entrevista no registo certo, que deveria ter sido o adotado desde o início.

(Agora aguardamos a ida do Dr. Júlio Martins Júnior à televisão, o único autorizado a falar com conhecimento de causa dos aspetos legais do caso).

Quem tem que ser confrontado, e contundentemente, para execração pública, social e científica, para má lembrança da história, e não como oportunidade de espalhar mentiras, ou as agora chamadas «verdades alternativas», sobre o processo legal vitorioso, são as autoras concetoras e revisoras do malicioso, desacreditado e derrubado manual, o diretor nacional da educação que mentiu desavergonhadamente, o coordenador nacional da língua cabo-verdiana que introduziu maliciosa e ilegalmente um simulacro de pandialeto (na verdade uma reconhecível variedade do norte do arquipélago) na prova de exame do 11º ano, quando sequer havia manual aprovado, o ministro da educação que, além das mentiras e,  antes, talvez aconselhado por algum tosco e relapso assessor, tentou tirar um miserável, morto e murchérrimo coelho da cartola pouco mágica na televisão dizendo que o «grande poeta José Luiz Tavares não tinha enviado o seu contributo» e, depois de bastamente ridicularizado, desesperado resolveu fazer chantagem dizendo que se o manual (um tiro que lhe saiu pela culatra) for suspenso acaba a disciplina, o que vem apoiar a teoria de que a língua cabo-verdiana foi introduzida no ensino da forma desastrada que foi para provocar o caos e todas essas reações negativas, para assim inviabilizar por largos anos nova proposta da sua introdução, no que parece haver a mão pouco disfarçada, e é apenas uma teoria, sequer conspiratória, dada a sua pública atuação (e agora vou usar o termo que os ofende basto, conforme confessou há dias o lustroso beato editorialista) dos lusotropicalistas amargurados da nossa terra, adjacentistas e outras excrescências históricas, com o seu natural direito de existir, opinar e expressar-se, como é óbvio, por sermos todos cabo-verdianos,  livres e com os mesmos direitos, ainda que muitos achem ou pensem que ainda somos ou deveríamos ser colónia. Ninguém é morto aqui, preso ou perseguido por ter ideias e ideais divergentes, ainda que certos como eu, por pensarem diferentemente e expressarem livre e desabridamente possam ser banidos, cancelados ou silenciados no jornal do brioso democrata e liberal-pregador cardoso. Como disse, a prova será apresentada dentro de dias nas instâncias devidas. Aguardem sen fadiga, mas não nos espantaria nada se a manhosa notícia retirada do site do jornal regressasse solertemente, para fazer crer que não estamos a dizer a verdade.

Toda essa gente do ministério da educação, a esta hora, num país sério, já teria pedido a demissão, e caso não o tivesse feito deveria ser corrida, não só por aquilo que ousaram, mas por também terem mentido repetidamente à nação quando já sabiam que o manual estava suspenso, e por terem insistido nesse projeto anticientífico, glotocida, supremacista-bairrista e divisionista - um suicídio para o governo e o partido que o sustenta -, quando a contestação científica e social era geral e ruidosa, causando graves prejuízos ao erário público, sobretudo à nobre causa de dignificação da língua cabo-verdiana. No primeiro caso terá que haver consequências legais, pois vamos avançar com uma participação junto da PGR para investigar as responsabilidades cíveis de todos os envolvidos nesse processo, pedir esclarecimentos à ARAPE e exigir aos inúteis dos deputados (isto é sério e é para ofender até smaiar) uma Comissão Parlamentar de Inquérito para esclarecimento total desse caso, que tem o primeiro momento estranho no facto de a equipa da Unicv, que perdeu o concurso, acabar a fazer o manual, segundo informações não oficiais que nos chegaram. No segundo, temos que fazer de novo o reagrupamento das vontades criando uma nova organização de defesa e promoção da língua cabo-verdiana a partir do grave cisma provocada pela atuação autoras do manual, que continua, agora por desespero, autoras essas que em nenhum momento pensaram recuar nos seus intentos de aniquilação, que visava sobretudo a matriz santiaguense, diga-se claramente, porquanto se fosse a variedade de Santo Antão ou de qualquer outra ilha também o diríamos, por sermos cabo-verdianos de corpo inteiro e alma total, e a tentativa de aniquilação está há largos anos teorizada num livro de uma das aracnídeas rainhas de toda essa mortal trama, caso gente esclarecida como eu não se tivesse levantado para combater até derrotar a monstruosidade pandialetal, esse nome arrevesado para a tentativa de linguicídio/glotocídio, que os cabo-verdianos de todas as ilhas e suas diásporas jamais deverão esquecer.

O posicionamento de Saidu Bangura leva-nos a duas conclusões, uma inquietante e outra bastante interessante. Primeiro, a conclusão inquietante: que há uma instituição e uma organização que devem ser ‘monitorizadas’, A Uni-cv e a ALMA-CV/KV, porquanto os principais ataques à feição natural e à integridade plural da língua cabo-verdiana provêm do interior delas, como no presente caso do manual e do projeto ORIZON (o projeto ORIZON é da Universidade de Lisboa, mas as cabeçorras cabo-verdianas estão na Uni-cv) este financiado com dinheiro estrangeiro e integrando quase todas as autoras do manual (exceto Elvira Reis, aparecendo um nome novo, Ana Luís Costa), capitaneadas pomposamente pela portuguesa Fernanda Pratas, sendo a Uni-cv a instituição que fornece o suposto know-how local, não sei se oficialmente ou não; segundo, a conclusão interessante: que, se os principais ataques têm mão estrangeira* (Dominika Swolkien, Eliane Semedo e Fernanda Pratas) acolitada por traidoras e traidores nacionais, também alguns dos seus grandes, irredutíveis e brilhantes defensores, neste processo e além dele, são estrangeiros: Dulce Pereira, Nélia Alexandre e Lonha-Heilmar. Aqui omito os nomes dos e das nacionais, porquanto é apenas o nosso natural e patriótico dever.

As donas pandotóras, montadas na sua cagança de compêndio, enquistadas na sua ignorância especializada, falharam na abordagem holística interdisciplinar, fraudaram todos os dispositivos legais, por isso engendraram um frankenstein linguístico. Não foi só isso: foi um plano que correu mal, e que ainda não está totalmente enterrado.

Não ao mengelismo**disfarçado de investigação, não à charlatanice com intuitos supremacistas disfarçada de ciência. A violência glotocida que esta trupe comandada por estrangeiras e coadjuvada por nacionais traidoras, mais uma vez não terá êxito. O único hORIZONte que lhe reservamos é a rejeição verdadeiramente científica, esclarecidamente cívica e imperativamente soberana.

Em matéria linguística podemos ser parceiros soberanos, nunca súbditos de qualquer cagança científica estrangeira, sobretudo se ela nos cheira ao retorno duma trapaça já desmascarada, venha duma argêntea montada em milhões ou do zé da esquina onde bebo os copos. Por isso voltamos a dizer: não aceitaremos a mediocridade e a ignorância de compêndio, inda venha embrulhada em capas doutorais. Ao vir intimar os bravos cabo-verdianos (é certo que os há também pusilânimes e traidores) com diktats supremacistas, a madre do projeto ORIZON deu um tiraço de canhão nos dois pés e, como dizem os brasileiros, conseguiu o impossível, que é chutar o próprio traseiro. Convenhamos, é obra. E, o que é pior, ao hostilizar o poeta José Luiz Tavares, o homem que derrubou o pandialeto e há de enterrá-lo, encomendou o próprio caixão.

Há de chegar o tempo da necessária padronização linguística, sem dúvida, mas não é agora no imediato. Quando for o tempo, se não for por via natural, deverá ser um trabalho de largo espetro social com verdadeira abrangência interdisciplinar e suporte legal, e nunca uma risível e desastrada engenhoca linguística revestida de um conhecimento de pacotilha, dado que o verdadeiro mostraram não possuir, ou, possuindo-o, foi-lhe dado um uso bastamente errado. Por ora, que viva a língua cabo-verdiana na sua pluralidade dialetal de Santo Antão a Brava. E para que assim permaneça, a escória linguística tem que ser simplesmente esmagada. E porque é preciso o esmagamento total? Porque apesar da arrasadora e humilhante derrota, não vão desistir, pois há prata, guito, carcanhol, pelo meio. A nós cabe-nos o chumbo mortal que as enterrará, para a história, definitivamente nos monturos da ignomínia.

Por isso, podem tentar inventar factos, maroscas ou retorcidas mentiras alternativas, que a realidade não muda nem um átomo. Houve um tempo de cerco e demolição, mas agora falamos para o povo que já percebeu bem o que isto é, e  vamos ignorar os últimos flatos e estertores da trupe náufraga, desde que o atrevimento canudado e a ousadia ignorante não sejam demasiados para a honra e o estômago do poeta, e se for esse o caso, aí a bota da lei e a pena insubmissa e mortífera entrarão em ação. De outro modo, não responderemos, pois a cada flato mentiroso enterram-se ainda mais aos olhos do povo e da lei, e nisso as pandotóras têm sido inexcedíveis, benza-as deus, e porque também estamos acima de qualquer canalha velhaca ou lacraia linguística, mesmo bem acima de qualquer ranho ou piolho ético-científico, por ter obrado o maligno pandialeto, nem lhe daremos o troco de meio tostão, mas se exagerar submetê-la-emos à conhecida justiça da Tapadinha. Arre, carraça!

As topetudas falsárias pensaram que tinham vencido, quando do nada caiu-lhes em cima uma chuva de prata estrangeira, e prepararam-se para encher novamente a pança. Não contaram foi com a agilidade e a mortífera determinação do poeta, que ainda não entenderam (e nem vão entender, porquanto como lhes expliquei em escrito transato «em Roma nasce todos os dias um imperador; um poeta nasce de mil em mil anos) que desbaratou essa «manobra das ardenas»*** linguística. Povo de Cabo Verde, neste torrão ou espelhado pelo mapa, percebes agora a sanha ronronada desde o esquife onde as tenho encurraladas? É que sem o manual, sobretudo sem o pandialeto, o projeto ORIZON morreu, e então adeus prata.

No meio de tantas más notícias para as pandialetudas, mais uma, pois como diz o ditado popular uma catástrofe nunca só: a Doutora Elvira Reis abandonou a barca das náufragas e a fileira por não querer ficar associada, para a história, a essa tentativa insana de glotocídio. Nós não temos o poder de antecipar os juízos da história, mas essa decisão não nos surpreende, pois ficaramos agradavelmente surpreendidos pela sua esclarecida intervenção no caso da selvajaria civilizacional da Escola Portuguesa. Da nossa parte retiraremos o seu nome da queixa que apresentámos contra as autoras do manual e excluímo-la dos próximos procedimentos administrativos e legais que vamos tomar.

E como vivemos sempre em poesia, mesmo em tempos de catástrofe, encerramos a ensaboadela de hoje com um poema do livro a sair brevemente «Reportório de Ruínas – Panfleto Ético Contra o Pandialeto», que precede a grande obra «Um Crime Contra a Cabo-verdianidade – o livro-resumo da tentativa e derrota do golpe linguístico», ambos a serem editados pela Pretomau.

O ferro frio que malho hoje nada tem de soberbo:

são apenas destroços duma má ciência, e não a vida

viva, que na palavra só vivesse, por sabê-la movida

por um sangue que, pulsando, desse o tom acerbo,

 

chicote de rijas raízes de que se guarnece meu verbo,

caroço que, limpo, inda me pede o gosto a sal e saliva,

à gosma por que, poetando, me faço a aracne viva,

chulo dessa lasciva beleza que me retesa como nervo

 

para a pugna, contra o requentado duma tal ciência

abstrusa. (Bem mais limpa é a poesia que trago presa

à bossa, e borbulha de vida & verdade nas suas várias

 

declinações. Bruxuleando, pede-me apenas a paciência

de aguardar que se equilibre sobre a pré destinada mesa,

contra as porcinas patas dessas tão façanhudas alimárias).

 

[Contactei a jornalista Margarida Fontes depois de este artigo estar escrito, e ficou explicada a sua leonina entrada: tinha a informação, errada (daí a necessidade de se estudar bem os dossiês e cruzar fontes num assunto sensível como este) de que o Doutor Bangura fizera parte da equipa que concebeu e validou o manual, tendo-a abandonado durante esse processo. Terá havido, possivelmente, confusão da fonte com o Doutor Eleutério Afonso, que terá feito inicialmente parte da equipa, mas por, justamente, se opor ao golpe linguístico foi corrido. Sagazes leitores, imaginem por quem. Aliás, não imaginem muito, pois está visto quem foi o pai da marosca. Quem acertar terá direito a uma banana biológica, das da nossa querida terra, de Santo Antão ou de Santiago, sem a peçonha pandialetal dentro. Aguardo palpites].

No próximo episódio o beato pregador Humberto Cardoso e o acólito  sacristão serventuário Brito-Semedo são convocados à arena da Tapadinha, cujas duas primeiras leis são: para cada burra uma surra, para caba burro um duro. Haverá notícias da monitorização feita ao site do Expresso das ilhas durante dois anos, para provar o que queríamos provar, sendo a prova mais robusta o que fizeram há pouco na notícia da suspensão do manual, que depois tentaram esconder sem sucesso, retirando-a, pois a edição em papel e os motores de busca não permitem. Agora que já sabem do que estou a falar, durmam tranquilos e andem na rua de cara despreocupada. Será feita denúncia à ARC e à PGR, pois discriminação é crime tipificado e as condutas quer das jornalistas, quer do jornal, preenchem os requisitos. Não percam o próximo episódio. Digladiar aqui na Tapadinha é um prazer, e sempre de borla.

 

NOTAS

*Conceptualmente considero estrangeiras, para a questão da língua, todas as pessoas não natas e cujo língua materna não é o cabo-verdiano, ainda que tenham adquirido a nacionalidade cabo-verdiana por uma das vias que a lei prevê. Parecendo que não, este aspeto, que tem que ver com a questão emocional, faz toda a diferença, como se vê no presente processo.

** De Josef Mengele, médico nazi que efetuou monstruosas experiências médicas em prisioneiros dos campos de concentração. Daí a analogia com o monstruoso pandialeto.

*** Referência à contraofensiva alemã, a conhecida batalha das Ardenas, durante a 2ª guerra mundial, lançada na região densamente florestada das Ardenas, situada entre o Luxemburgo e a Bélgica. A resistência americana no flanco norte da ofensiva, em torno da Elsenborn Ridge, e no sul, em torno de Bastogne, bloqueou o acesso alemão a estradas-chave a noroeste e oeste, das quais eles dependiam para o sucesso da operação. Foi o último grande movimento militar alemão. O seu insucesso foi, simbolicamente, o estertor do III Reich, daí a nossa a analogia com a queda do pandialeto, dias depois do fôlego insuflado pela notícia do projeto ORIZON.

JOSÉ LUIZ TAVARES nasceu em Paraíso Apagado por um Trovão, donde divisou as curvaturas de Coração de Lava. Depois, percorrido a Cidade do Mais antigo Nome, desembocou em Lisbon Blues, não sem antes ter atravessado As Irrevogáveis Trevas. Pacientemente perscruta a Pátria Soletrada à Vista do Harmatão, condensada no minirreino (a vir) di Txonbon. Pelo meio, sondando a Agreste Matéria Mundo, por meio de Cabotagem & Ressaca dedicou-se ao Contrabando de Cinzas, registado em Polaroides de Distintos Naufrágios, exposto na Rua Antes do Céu. Vendo Arder a Vida Inteira, cedo soube-a Prólogo à Invenção do Dilúvio. Mas Ku ki Vos/Com que Voz ler as Instruções para Uso Posterior ao Naufrágio? Iluminá-las Com o Fósforo duma só Estrela, ciente ma É ka Lobu ki Fase, mas sim Um Preto de Maus Bofes? Entre causa e coisa, sob o signo do grão zarolho, com as bengalas da literatura e da filosofia atirou-se às fuças do mundo com Uma Pedra Contra o Firmamento, transpirando quantas ganas lhe vaticinaram os mofinos, fodidos fados. Sempre denunciará Uma Selvajaria Civilizacional, futura irmã de Um Crime Contra a Cabo-verdianidade. Apesar de tudo, permanecerá Como um Segredo na Boca do Universo, mesmo se em Sonoru Tenpestadi di Fumu flor i Flexa se dá ao mundo, que jamais saberá quem ele é, sobretudo as dotóras de compêndio.

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Comentários

  • Fannon Bantu, 25 de Set de 2025

    ...

    • Fannon Bantu, 25 de Set de 2025

      Meu caro Tavares! Estava a buscar qualquer forma, de contatar-te, de forma a denunciar a porqueria que os senhores do Expresso das Ilhas (Edição 1243 de 24 de setembro), produziram num artigo escrito por um certo André Amaral (outro Português, diga-se de passagem), tentanto associar, de forma vil e mal intencionada, a tua posição contra o ditoso Manual, com o ALUPEC. Dizem aqueles sem alma que a intentaste uma ação judicial no PGR contra o Manual e o ALUPEC.
    • Fannon Bantu, 25 de Set de 2025

      Nota-se que essa gentinha de mau carácter e sem um pingo de amor patriótico, há muito embarcaram naquela forma suja e pouco ética de combater o avanço di nos lingua. Claramente, fazem parte do esquema montado pela Prateada, e perante a derrota do ilegal e ultrajante sonho pandialectal, cujo o foco, era combater todo o trabalho que acabou por produzir o ALUPEC, estes, vieram em forma da suposta sacrossanta liberdade de imprensa, espalhar a confusão e a mentira com o artigo.

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