“Rakatxamentu”. Poder político e desenvolvimento em Cabo Verde
Colunista

“Rakatxamentu”. Poder político e desenvolvimento em Cabo Verde

O arquipélago de Cabo Verde “conquistou” respeito, autonomia e reconhecimento no panorama internacional, após a independência. Considerando que Cabo Verde, conquistou sua “autonomia” em 1975, não se pode deslegitimar os ganhos, vivenciados a partir desse período histórico, porém vale ressaltar que como “estado-nação” semi-colonialista, Cabo Verde ainda apresenta uma ligação política muito tradicionalista, o que tem criado uma barreira ideológica tosca, dificultando assim, melhorias significativas no que tange a aspetos ligados ao IDH - Índice de Desenvolvimento Humano. Para o progresso do processo democrático, considerar-se-á no bojo destes objetivos, mudanças satisfatórias, quer em relação a perseguição política, quer em níveis de disputas simbólicas, da classe política cabo-verdiana e dos cargos do poder à disposição deste segundo. É preciso apostar sim no poder político e desenvolvimento local “participativo”, onde todos possam contribuir de forma consciente, sem favorecimentos, a nível da sociedade civil, das ONG´s e das instituições académicas, numa construção resiliente.

Diante da ausência de uma classe política consciente e preocupada com os menos favorecidos, é visível que a sociedade civil cabo-verdiana precisa encontrar alternativas que dão respostas a tais problemáticas sociais e económicas, como o desemprego, a pobreza e a exclusão social. Uma resposta que só será possível, através de um engajamento de todos nesse processo, na construção de uma sociedade inclusiva, onde se apresentam percentuais de aceitabilidade na melhoria das condições de vida das pessoas, de acordo com a realidade local, de cada sociedade, cujo objetivo primordial é promover o bem-estar social e a qualidade de vida das pessoas. Também é notório que há uma série de exigências que carecem de serem discutidas, sendo que o período das eleições se avizinham e há uma necessidade de discutir possibilidades com a sociedade civil e seus quadros, de forma honesta e perentória, que provoque uma mudança no sistema administrativo, com vista a resoluções de problemas concretos, tais como, a falta de infraestruturas, consolidação da economia, dos recursos humanos, da educação e da saúde.

É sabido que a concentração de poder desigual provoca um desequilíbrio social gritante. Estar ciente disso é basilar, porém é preciso fazer mais e melhor, discutir com seriedade e propor medidas ajustadas para resolver situações conflituais e não fazer de um problema social tão importante um arremesso político eleitoral. Em todas as circunstâncias, convém ressaltar que é preciso manter a paciência, a fé, e apostar de forma consciente e inteligente nas decisões e escolhas dos representantes, sérios compromissados com os problemas do eleitorado, bem como participar ativamente na construção dessa mudança social.

É inegável que dentro de poucos anos teremos uma revolução dos atores sociais na política, em todas as suas esferas e níveis, uma renovação parcialmente aceite, dentro do quadro vigente. As vozes femininas, os estudantes universitários nacionais e estrangeiros, os emigrantes e todas as vozes subjetivizadas pelo medo, da barbárie, cuja força do poder político partidário, tem menosprezado categoricamente, precisam se posicionar caso almejam uma sociedade mais inclusiva e desenvolvida em todo o território nacional. Grupos esses com vozes mais ativas e assim possam contribuir, significativamente, para melhoria das condições de vida das pessoas. Em Cabo Verde, tradicionalmente, há os filhos da terra e os abastados, e essa realidade não mudou por enquanto e precisamos discutir sobre isso.

As mulheres rabidantes do Plateau, já não expressam o calor de otimismo doutrora. Estamos assistindo o fim de viragem política nacional. Nunca se fez tantas manifestações em Cabo Verde. As manifestações em São Vicente, Tarrafal, Ribeira Grande de Santiago, Brava, são sinais notórios de descontentamento e expressam o calor da mudança, a antipatia ao modelo de governação atual, e não só. É nesse momento que todos os grupos e forças populares devem se unir e derrubar o poder uni-vertical. É hora de começar a unir as vozes e abater os agressores, os semi-colonialistas e seus lacaios.

É preciso combater toda e qualquer forma de opressão, e apoiar as forças socialistas da bancada do progresso, demonstrar coragem e capacidade de pensar Cabo Verde, pensar a juventude e a mudança, numa perspetiva holística e endógena, de unidade e amor a pátria, empatia com as pessoas, defender a democracia e a autonomia do povo cabo-verdiano.

*Sociólogo – UNILAB - Brasil; Email: semedojoao@aluno.unilab.edu.br; Facebook: https://www.facebook.com/TubaronJoaoSemedo

Partilhe esta notícia

SOBRE O AUTOR

Redação

    Comentários

    • Este artigo ainda não tem comentário. Seja o primeiro a comentar!

    Comentar

    Caracteres restantes: 500

    O privilégio de realizar comentários neste espaço está limitado a leitores registados e a assinantes do Santiago Magazine.
    Santiago Magazine reserva-se ao direito de apagar os comentários que não cumpram as regras de moderação.