Colunista

A temporada 2011–2016 começava com 65 homicídios, a criminalidade já vinha numa onda crescente desde 2004, atingindo o seu máximo em 2016 — cento e vinte homicídios. O jornal português Diário de Notícias[1] informava “o aumento da criminalidade é uma preocupação crescente em Cabo Verde”. Este número fora apresentado[2] pelo Procurador Óscar Tavares ao Excelentíssimo Senhor Doutor Basílio Ramos Presidente da Assembleia da República, tínhamos ultrapassado o ponto de não retorno, a outrora pacata cidade da Praia tornara-se numa das urbes mais inseguras do Mundo. O baque desta hecatombe foi sentido por todos, para a história fica o massacre de Monte Txota e uma média horrível de 1 jovem assassinado por semana.

A questão era que durante uma década ninguém entendia bem este fenômeno, alguns exacerbavam que o problema estava relacionado na fraca iluminação pública, o Governo pegou na batuta investiu[3] centenas de milhões de euros na produção energética, numa lambança do dinheiro público nunca visto, só ultrapassado pela mamata da construção das moradias do programa Casa para Todos [200 milhões de euros para construção de +8000[4] moradias, nem 4000[5] foram construídas]. O José Maria Neves anunciava ao país “irá construir cerca de 8 mil e 500 fogos de raiz, sendo que mil serão edificados no meio rural.”

Estes dois investimentos públicos ultrapassaram a fasquia dos 500 milhões de euros. Era dinheiro que dava para comprar a Holanda e liquidar a dívida da nossa maior herança empresarial colonial - a TACV: a dívida na folha do aval dos fornecedores da TACV correspondia à um valor astronômico de 110 milhões de euros[6]. A situação era tão desesperadora que a empresa em 2014[7] viu-se na situação de desfazer do seu maior ativo — os nossos ATR's, vendidos por tuta e meio. Uma atitude de sacanagem com a Nação. Em 2016 com a prisão do nosso Boeing na Holanda, o país viu-se sem um único avião. Aproveitando da queda da TACV, a BINTER anunciava em 2015[8] a sua entrada no mercado cabo-verdiano. Na festa de abertura da sede da BINTER no ano de 2015, a Ministra Sara Lopes[9] apregoava que a empresa das ilhas Canarias iria ajudar a TACV.

E há uma pessoa que sabe disto tudo, Senhor Procurador tem conhecimento que a TACV foi desmantelada em 2015. Em 2015, a BINTER entrava no mercado cabo-verdiano e só o fez depois da TACV ter fechado as portas. Nas palavras do ex-administrador da TACV, João Pereira da Silva: “disse que, durante a sua gestão, a Binter Canárias lhe manifestou que só operaria em Cabo Verde sem concorrência nos voos domésticos[10]”.

[1] https://www.dn.pt/mundo/cabo-verde-registou-120-homicidios-em-12-meses-5410146.html
[2] https://expressodasilhas.cv/pais/2016/10/01/cabo-verde-registou-120-homicidios-num-so-ano/50388
[3] https://noticiasdonorte.publ.cv/38777/governo-de-cabo-verde-cria-empresa-de-energias-renovaveis/
[4] https://www.governo.cv/casa-para-todos-ja-tem-financiamento-para-mais-de-8-mil-fogos/
[5] https://anacao.cv/2015/04/29/casa-para-todos-com-menos-2-mil-habitacoes/
[6] https://newsavia.com/tacv-tem-uma-divida-acumulada-de-110-milhoes-de-euros/
[7] http://anacao.cv/2014/11/05/tacv-vende-dois-avioes-atr72/
[8] https://anacao.cv/2015/06/19/binter-cabo-verde-vai-criar-mais-de-50-postos-de-trabalho/
[9] https://noticiasdonorte.publ.cv/34456/sara-lopes-espera-que-a-binter-ajude-a-tacv-na-sua-relacao-com-os-clientes/
[10] https://expressodasilhas.cv/economia/2018/02/01/binter-so-vinha-para-cabo-verde-sem-concorrencia-da-tacv-joao-pereira-da-silva/56421