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O mau estado da nação do Governo de Ulisses
Colunista

O mau estado da nação do Governo de Ulisses

Não obstante uma série de indicadores de desempenho negativos abrangendo diferentes setores da economia, da sociedade, da administração e da política, podendo ser expressos em aumento da taxa de inflação, elevado índice de desemprego juvenil, insatisfação com os serviços da Administração, aumento do descontentamento popular com a governação do país medido pelos dados do afrobarometer, o Governo continua surdo e indiferente às manifestações e reclamações legítimas dos cidadãos, dos sindicatos, das representações setoriais e de classe.

Existe o “Cabo Verde” do Governo que está na televisão, em workshop, conferências, viagens e banquetes pelo país e pelo estrangeiro que se apresenta muito bem e é constituído pelos membros do Executivo, altos dirigentes da Administração, deputados e empresários que apoiam o Governo: esse é o estado da nação do “Cabo Verde” imaginário de Ulisses Correia e Silva sem problemas que vive e caminha – “sem djobi pa lado” e “com dinheiro que nunca mais acaba” como dissera o Vice-Primeiro Ministro!

A grande massa do povo, ao contrário, está fustigado pela taxa galopante de inflação que corrói o poder de compra do salário das suas famílias que cada dia que passa vê os produtos da cesta básica mais caros e leva cada vez menos produtos para a casa com o mesmo dinheiro por que os preços de todos os produtos e serviços estão subindo e o seu salário se mantém no mesmo valor.

Os jovens que foram enganados com a promessa dos 45.000 empregos, em 2016, passados sete anos, vendo os poucos empregos existentes sendo destruídos se desesperam e partem em massa para a incerteza da emigração.

A promessa de tolerância zero à criminalidade foi superada pela propaganda populista da agravação da penalidade contra crimes de armas enquanto os crimes violentos de homicídio aumentam e a paz e a tranquilidade públicas foram abolidas pelas elevadas taxas de ocorrências de crimes contra o património. 

A Administração Pública entrou num longo e letárgico período de férias de anos, pois que, não conseguiu detectar no devido tempo as malversações quase 500 mil contos das verbas dos fundos de turismo e do ambiente e que só foram descobertas, a posteriori, através do trabalho sério dos inspectores e denunciadas pela imprensa, após o engavetamento inexplicável e abusivo de meses e contrário ao princípio da transparência e publicidade que presidem a administração pública (art 240º nº 1 CRCV).

A pobreza e a miséria que aumentaram em consequência do período da pandemia da Covid-19 foi transformada em recursos de exploração e de manipulação política eleitoral com a utilização de supostos beneficiários de programas sociais como garotos(as) propaganda nas comunicações de Governo como se estivessem recebendo favores.

As peripécias ocorridas nos sistemas de transporte marítimo e aéreo simbolizam a descoordenação, desfuncionalidade, desgoverno e incompetência administrativa do Governo simbolizados, objetivamente, em avanços, recuos, zig-zags de políticas, imprevisibilidade, ineficiência dos processos, ineficácia dos resultados, prejuízos avultados aos cofres públicos e descontentamento generalizado dos utentes com os serviços prestados.

A dívida pública continuou crescendo a patamares cada vez mais preocupantes pelo destino da sua aplicação em gastos sem retorno visível e nem sentido pelo povo.

As taxas de desigualdade económica e social medidas pelo índice Gini pioraram de ano para ano na governação de Ulisses tornando os poucos ricos cada vez mais ricos e a massa de pobres cada vez mais pobres e miseráveis.

O estado da nação que vai ser debatido no parlamento no final deste mês é de um Cabo Verde heterogéneo e mais complexo económico, administrativo, social e político do que é considerado pelos seus dirigentes. A sua excessiva simplificação e dicotomização por interesses diversos na política na linguagem do «nós» e os «outros» ajuda a alimentar uma realidade ficcional de duas realidades permanentemente opostas e inconciliáveis mas que não deveria ser assim.

Não obstante uma série de indicadores de desempenho negativos abrangendo diferentes setores da economia, da sociedade, da administração e da política, podendo ser expressos em aumento da taxa de inflação, elevado índice de desemprego juvenil, insatisfação com os serviços da Administração, aumento do descontentamento popular com a governação do país medido pelos dados do afrobarometer, o Governo continua surdo e indiferente às manifestações e reclamações legítimas dos cidadãos, dos sindicatos, das representações setoriais e de classe.

Ulisses atua em total contraste aos exemplos de respostas políticas de outros latitudes: António Guterres (PM, Portugal, 2001) e Pedro Sanchèz (PM, Espanha, 2023), no primeiro momento que suas legitimidades políticas foram colocadas em causa através de resultados de eleições infra-nacionais (Autárquicas e Regionais, respectivamente), devolveram a vóz ao povo soberano para decidir se continuavam ou não no poder, sem se submeterem a nenhuma moção de confiança ou censura que, muito provavelmente, seriam vencedores por contarem com maiorias parlamentares na altura.

O candidato a PR apoiado por UCS foi derrotado seis meses após a renovação do mandato dos ventoinhas (2021) sem que o PM tomasse qualquer consequência; pesquisa do afrobarometer de 2022 aponta que 57% dos eleitores caboverdeanos consideram que o país está sendo conduzido no caminho errado mas não há nenhuma consequência para o PM; o Governo submetido a uma moção de censura, o próprio PM resolve ridicularizar a iniciativa que, curiosamente, o seu partido apresentara, em 2006, através dele enquanto líder parlamentar da oposição à época e não há consequência alguma!!!!

Perante essa postura de intransigência e de indiferença do Governo de UCS só resta ao povo utilizar a arma que a democracia e o estado de direito lhe reserva e assegura para a defesa de seus interesses que é o voto nas próximas eleições em candidatos e partidos que ouvem, honrem e respeitem os seus interesses!

 

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