Oficialmente, abre-se hoje o ano judicial em Cabo Verde, em cerimónia pública, sendo conveniente e oportuno relembrar aos "chefes" deste país que, há dias, Agostinho Lopes, Secretário-Geral do MpD, tentou dar ordens à justiça para parar o autarca da Praia e presidente do PAICV, Francisco Carvalho. São sinais evidentes – e preocupantes, diga-se de passagem - de que o MpD não consegue perceber o Estado Democrático e de Direito. Como é que um dirigente partidário se acha no direito de mandar parar um outro dirigente político, eleito pelo povo, só porque não concorda com a forma como este está a exercer as suas funções de opositor ao governo instituído? Mas mais: Agostinho Lopes não só tenta dar ordens ao poder judicial, como assume o duplo papel de procurador e juíz, acusando e condenando o presidente do PAICV e candidato a Primeiro Ministro de Cabo Verde nas eleições legislativas de 2026. Dá para entender? Evidentemente que não! É isto aceitável? Também não. Que fazer, então? É mandar essa gente para oposição, já não têm nada para dar ao país, se é que algum dia tiveram...
Desde a sua ascensão ao poder em 1991, o MpD nunca escondeu a sua antipatia à liberdade de expressão e ao escrutínio popular. Na década de 90, muitos foram os casos de confrontos com a comunicação social e os jornalistas protagonizados pelos Dimokratas, bem ao estilo dos regimes totalitários que, embora nos discursos condenam, na prática defendem, copiam e seguem com a honestidade de um cão obediente ao dono.
Ficaram registados para os anais da história política deste país dezenas de processos judiciais contra jornalistas, sendo as queixas contra o semanário A Semana, o caso mais grave, pois este jornal saía às sextas-feiras, e logo nas segundas os seus responsáveis eram notificados para responder na justiça, tal era o controlo do executivo sobre o judicial.
Entre 1991 e 1996, período que marca o primeiro mandato dos Dimokratas, a palavra que mais se ouvia entre os funcionários públicos era “Transferência”, e logo a seguir vinha “Demissão”.
Comandado pelo então ministro da Administração Pública, segundo homem na cadeia alimentar do movimento, Eurico Monteiro, as transferências de um concelho para outro e de uma ilha para outra, bem como as demissões arbitrárias de chefes de família, muitos deles funcionários de baixo escalão, com salários de miséria, foram seguramente o maior atentado aos direitos fundamentais dos cabo-verdianos imposto por um governo da República desde a independência nacional.
Entranhado no DNA do movimento, esta tentação de “mandar” no Estado, sobretudo pela via da justiça, é até hoje o que melhor caracteriza o MpD, uma agremiação que, parafraseando Eurico Monteiro, “se assume como um partido-Estado, alimenta-se do Estado, vive do Estado, vive da Comunicação do Estado, vive do medo dos funcionários e da chantagem que sobre eles é feita constantemente, vive do dinheiro do Estado, vive sob autoridade do Estado."
Estas declarações foram feitas em 1994. Eurico Monteiro, atual super-ministro de Ulisses – veio tomar o lugar do Olavo Correia, caído em desgraça, eventualmente por obra e graça dos resultados desastrosos nos setores de transporte, finanças, privatizações, sobretudo quando a conversa é transparência e legalidade das suas ações enquanto governante, deixando na sociedade um vergonhoso rasto de corrupção e proteção de interesses privados em detrimento do interesse público – havia entrado em dessidência com o movimento e fundado o PCD, e nessa guerra de “compadres” resolveu trazer toda a podridão dos Dimokratas para a arena pública, não poupando nas palavras e nem se lembrando das suas responsabilidades enquanto um dos fundadores do partido ventoinha.
A fúria do Eurico Monteiro era tanta que, certo dia afirmara no defunto jornal Correio Quinze, referindo-se a Carlos Veiga, então líder do movimento, que Cabo Verde “tem um Primeiro Ministro que falseia a verdade dos factos, manipula a informação e... fabrica relatórios para salvar a face dos amigos que abusam da miséria da população”, acrescentando que "Carlos Veiga de fato e gravata é Primeiro Ministro, de mangas de camisa é um arruaceiro."
Eurico descreveu com conhecimento de causa o MpD, que, segundo o seu entendimento, é um partido arruaceiro, vingativo, insensível, sem qualquer compromisso com o interesse público e o bem-estar social.
Sendo verdade, como, de resto, o próprio MpD veio a demonstrar com o tempo, é muito grave para Cabo Verde. Porém, mais grave ainda é o facto de o partido arruaceiro então descrito por Monteiro continuar ainda com as mesmas características e as mesmas práticas, decorridos mais de 30 anos.
Nem os longos 15 de oposição foram capazes de mudar o perfil e a identidade do MpD. Definitivamente, essa turma não percebe a liberdade como um direito natural e fundamental do ser humano, e por isso mesmo despreza a separação de poderes e ataca as instituições democráticas.
Recentemente, creio que em 2018 se a memória não me falha, um grupo de antigos dirigentes ventoinha foi constituído arguido e acusado de vários crimes, no mediático processo conhecido como “Máfia dos Terrenos da Praia”, e não é que um dos acusados, fundador do MpD e ex-governante – desempenhou o cargo de secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro no primeiro governo de Carlos Veiga – apareceu na comunicação social a aventar a necessidade de se parar o Ministério Público.
Esta proposta do antigo governante ventoinha, que é uma perigosa tentativa de interferência num órgao do poder do Estado, é também a promoção do caos, em tudo semelhante à má imagem e práticas dos rabentolas nos anos 90.
E, para não variar, há dias, apareceu o Agostinho Lopes, Secretário-geral do MpD, tentando dar ordens ao Ministério Público, no sentido de parar o Presidente da Câmara Municipal da Praia e líder do maior partido da oposição em Cabo Verde – o PAICV – só porque não concorda com a forma como Francisco Carvalho exerce as suas funções políticas.
São sinais evidentes – e preocupantes, diga-se de passagem - de que o MpD não consegue perceber o Estado Democrático e de Direito. Como é que um dirigente partidário se acha no direito de mandar parar um outro dirigente político, eleito pelo povo, só porque não concorda com a forma como este está a exercer as suas funções de opositor ao governo instituído?
Agostinho Lopes vai mais longe, não só tenta dar ordens ao poder judicial, como assume o duplo papel de procurador e juíz, acusando e condenando o autarca da Praia, presidente do PAICV e candidato a Primeiro Ministro de Cabo Verde nas eleições legislativas de 2026. Dá para entender? Evidentemente que não! É isto aceitável? Também não. Que fazer, então? É mandar essa gente para oposição, já não têm nada para dar ao país, se é que algum dia tiveram...
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Comentários
Casimiro Centeio, 26 de Set de 2025
Ingénuos aqueles que acreditam, piamente, nas afirmativas do Mpd. Os contos de fada são mais verdadeiros ou verosímeis do que as narrativas da democracia de Ulisses e os seus acólitos.Democracia de lavandaria ! Confiar nesses "führeristas" é como beber veneno para matar sede ou comer raticida para matar a fome .
Casimiro Centeio, 26 de Set de 2025
Não podemos continuar confiando nesses pseudemocratas, é como dançar nos convés do TITANIC, sabendo que o iceberg já o havia atingido! Só que, nesse caso, quem se afoga são os passageiros sem salva- vidas !Responder
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