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Ligação inter-ilhas. Quem são os culpados?
Colunista

Ligação inter-ilhas. Quem são os culpados?

Hoje ao ouvir o programa dirigido pelo jornalista Carlos Santos referente à ligação marítima inter-ilhas em que muitos intervenientes martelaram no governo anterior, culpando-o pela situação, fiquei a pensar, sem paixão partidária, quem é o mais culpado.

Efetivamente, o primeiro governo pós-independência analisou, com ponderação, a nossa situação arquipelágica, diligenciou no sentido de munir o País de embarcações com vista a que todas as ilhas ficassem suficientemente servidas e não só. Deste modo, com ajudas de países estrangeiros que mesmo durante a luta armada de libertação ajudaram o PAIGC, continuaram na mesma direção, e é neste sentido que logo a seguir à independência, chegaram a Cabo Verde 3 barcos. Arca Verde I, Arca Verde II e Arca Verde III, todos navegando nas ilhas e para fora delas. O governo de então, ciente da situação e para melhor deles cuidar, criou a Agência Arca Verde, tendo nela colocado um cidadão cabo-verdiano para cuidar do assunto que era e é: UNIR AS ILHAS E ESTAS AO MUNDO. Assim, disponibilizou recursos para aquisição de barcos de longo curso, para ligação com o mundo tendo em atenção os nossos emigrantes.

Neste sentido, à data de 1991, Cabo Verde dispunha dos seguintes barcos de longo curso: BRAVA, FOGO, SANTIAGO, MAIO, BOAVISTA, SÃO NICOLAU, SÃO VICENTE, ILHA DO COMO, SANTA LUZIA E AS ARCAS VERDE I, II e III. Queria salientar, dizendo, que esses barcos de nomes correspondentes aos das ilhas foram negociados e comprados por uma única pessoa (o então responsável da Arca Verde), em quem, infelizmente, o governo de Pedro Pires havia dispensado total confiança ao ponto de aceitar sem pestanejar o preço dos barcos adquiridos que o comprador apresentava.

Chega o ano de 1991 e o governo de Carlos Veiga encontra aqueles barcos todos navegando de Norte a Sul, de Este a Oeste.

Aquele governo, baseando-se na filosofia de que o estado não deve possuir e gerir bens, mandou vender aqueles barcos todos, dizendo que aquela incumbência estava destinada aos privados. Durante o mandato de 10 anos daquele governo nenhum privado assumiu aquela suposta obrigação pelos motivos óbvios - falta de condições financeiras!

Assim, em 2001, entregou ao governo de José Maria Neves o país naquela condição, ou seja, sem barcos e sem dinheiro da venda deles, situação que até hoje intrigam a muitos cabo-verdianos. Durante os 15 anos do governo do PAICV, nem os privados e nem o governo conseguiram contornar a situação, até ao ano 2016 em que o MpD novamente chegou ao poder.

Este, tentando redimir-se, está a tentar repor a situação por ele criada quando, na primeira governação, acabou com os barcos que vinham navegando sem que os cabo-verdianos nas ilhas ou na diáspora tivessem razão de queixa.

Pelo exposto, penso que o PAICV e o seu governo não são os únicos culpados pela situação e não merecem os "encómios" que vem recebendo de certas pessoas.

Caboverdianamente

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Redação