Ulisses não tocou na base central das suas âncoras de suporte desde que, em 2016, chegou ao poder. Mantém os vices do MpD no governo, muito mal avaliados pelos eleitores, e chutou aliados circunstanciais que o suportaram durante estes anos, não se inibindo, porém, de reduzir os poderes do seu número dois, esventrado de competências, mas mantendo o pomposo e injustificado cargo de vice-primeiro-ministro.
Afinal, ao contrário do que vinham dizendo, Ulisses Correia e Silva e o MpD não desvalorizam o resultado eleitoral de 01 de dezembro, tão-pouco os estudos de opinião.
O governo que era o suprassumo da competência e das boas práticas políticas, tão do agrado dos cabo-verdianos (segundo a narrativa ventoinha), foi reciclado. Uma reciclagem, aliás, que foi buscar aos porões da história velhas figuras da política cabo-verdiana, principalmente ex-membros do PCD – que passam a ser o núcleo central do governo.
Sem fazer juízos de valor sobre as personalidades em questão, esta “remodelação” confirma o que há muito se sabia: do partido-raiz, fundado no início da década de 90, já só restam a sigla e o símbolo. O velho MpD foi suicidado e enterrado por Ulisses, anos atrás, e tomado de vez pelos cisionistas do passado que, já não sendo há muito trotsquistas, não abdicaram da velha tática entrista. É o regresso do PCD com outro nome.
A “remodelação” anunciada pelo primeiro-ministro não visa corrigir e melhorar o desempenho do executivo, a intenção é apenas transformar o governo numa “task force” eleitoral que, dificilmente podendo inverter a tendência do eleitorado para impor mais uma derrota ao MpD em 2026, no mínimo, possa atenuar os danos. Por isso, é o governo mais político que a história da governação cabo-verdiana regista.
Cosmética apenas procura esconder o problema de fundo
É uma operação de cosmética que procura apenas esconder o problema de fundo: o irreversível divórcio entre o eleitorado e o partido do governo, a suas lideranças e as suas políticas.
Ulisses não tocou na base central das suas âncoras de suporte desde que, em 2016, chegou ao poder. Mantém os vices do MpD no governo, muito mal avaliados pelos eleitores, e chutou aliados circunstanciais que o suportaram durante estes anos, não se inibindo, porém, de reduzir os poderes do seu número dois, esventrado de competências, mas mantendo o pomposo e injustificado cargo de vice-primeiro-ministro.
A reciclagem levou por arrasto a presença feminina no governo, deitando por terra a narrativa de que o MpD é o pai da igualdade e equidade de género e revelando a sua verdadeira natureza misógina.
De todo o modo, o problema de fundo está lá queimando como ferro incandescente. A “task force” repescada dos alçapões da história, pese a reconhecida experiência política que lhe assiste, pouco poderá fazer para além da conversa de circunstância e da agitação e propaganda que estes derradeiros meses de governação irão trazer para o espaço público.
Comentários
Duete Alfama, 4 de Fev de 2025
E quem era o encomendador quando Paicv esteve no powder???
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Artur Semedo, 4 de Fev de 2025
Senhor Pinho, estava a gostar da sua pena. Razoável no peso e medida…mas agora, perdeu a asa? Atacar pessoas sem mais mais sem porquê…chavões e baboseiras? Afinal os teus artigos são encomendados?
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