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Há lodo no cais I
Colunista

Há lodo no cais I

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O título desta peça não tem absolutamente nada a ver com o filme produzido nos anos 50, nos Estados Unidos da América, protagonizado pelo famoso ator Marlon Brando. Não! O presente exercício de participação cívica quer trabalhar sobre o estado em que se encontra a governação de Cabo Verde, liderada por Ulisses Correia e Silva. Não é ficção, é realidade. Não retrata crimes de sangue, assassinatos, conspirações mafiosas, dirigidos por gangsters sanguinários. Não! Retrata, sim, factos de responsabilidades políticas e governativas, protagonizados por políticos gananciosos, egoístas, e que terão vitimizado o país na sua identidade, nas suas aspirações, na sua autoestima e no seu desenvolvimento económico e social. A democracia exige que façamos, todos nós, a nossa parte. É o seu fundamento, a sua identidade!

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A ministra da Educação bateu com a porta. Deixou o governo, quando faltam 4 meses para as eleições legislativas. “Por razões pessoais”, escreveu o primeiro-ministro, na sua página do facebook, numa sombria tentativa de se convencer a si mesmo, porque, por cá, ninguém anda distraído o bastante para acreditar nessa explicação. Convenhamos! Não há razões pessoais com força suficiente para explicar a demissão de um membro do governo nos últimos dias do mandato, que não sejam conflitos internos insanáveis. Ao abandonar o barco a poucas milhas do caís, Maritza Rosabal exteriorizou o que muitos vem aguentando calados, – o ambiente no interior do governo e do partido que o sustenta, o MpD, não está de feição, a situação é explosiva e chegou o momento do salve-se quem puder. Não querendo se aquilatar do discernimento da sua decisão, há que reconhecer que esta senhora, tida por muitos como um dos mais fracos membros deste governo, só superada por Gilberto Silva e Luís Filipe Tavares, conseguiu de algum modo esquivar-se do lodo amontoado no cais. Cobardia, traição, coragem, dignidade, só o tempo dirá…!

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Casa arrombada, trancas à porta. De repente este ditado popular torna-se o principal fundamento da ação política do presidente do MpD. Já colocou de molho o primeiro-ministro e puxou da cartola o presidente dos rabentolas. O general finalmente acordou. A ordem é limpar a casa, arregimentar os soldados para a batalha que aí vem. O nervosismo é latente, e corre-se o risco de lançar o bebé com a água do banho. Há cabeças a prémio. O grito da ministra da Educação, é apenas o prenuncio do funeral. Aguardemos! É sabido que para agradar a prole desmalhada, o chefe tem que arrancar o pão de algumas bocas para espetar em outras. E não havendo - como efetivamente não há - pão que chegue para tantas bocas, muitos vão ficar apenas com a água na boca, o que certamente há de provocar dores e rangeres de dentes!

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Cremos ser consensual que a democracia é o regime da participação, da inclusão, da transparência, da legalidade, da prestação de contas e da satisfação coletiva. A nova Câmara Municipal da Praia foi instalada no dia 20 de novembro, uma sexta-feira. Logo na segunda-feira, 23, os novos inquilinos apresentaram-se nos Paços do Concelho para a passagem da pasta, nos termos da lei. Passados 14 dias sobre essa data ainda não foi possível a passagem dos dossiers. Entretanto, Francisco Carvalho, o novo edil, resolve convidar os seus colaboradores diretos para a primeira sessão ordinária, e os rabentolas abandonam o encontro, alegando que é violação da lei. Será que o partido que se arroga ser o pai da democracia cabo-verdiana quer inventar o seu próprio conceito de democracia? Efetivamente, há lodo no cais.

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