Estamos em pré-campanha eleitoral e as hostes se munem de ferramentas visíveis e invisíveis para trucidar o adversário. Todo o mundo quer ganhar, sabemo-lo. Custe o que custar, dirão os oportunistas. A conta, muitas vezes, vai para quem sequer está preparado para pagar o jantar.
Não tenho camarote, portanto, assisto à decadência política.cv num boteco qualquer, onde oiço genuínas almas em riste apoucando quem sazonalmente nos pede o favor de o eleger. É nesses ambientes puros e sinceros que percebo o quão baixo jazem os nossos políticos, claro, com devidas excepções.
Adiante. Os candidatos, a qualquer trono, são amáveis e dóceis, amargam nossas vidas enquanto não houverem eleições e só voltam a adocicar-se quando precisam de nosoutros, os eleitores, seu néctar. E isso é eufemismo, porque, na prática, quem hoje concorre a um cargo político lambeu ou espera ser lambido.
A decadência de discurso e debate político de que vos falo nota-se, ab initium, na impenetrável despreocupação de haver um programa e um compromisso eleitoral que seja cabível, alcançável, tangível. Corrompe mais o facto de, por não existir uma sociedade civil crítica (não confundir com mandar fanáticas bocas nas redes sociais), participativa e exigente, esses projectos eleitorais se demoverem de qualquer responsabilidade do que prometem. Por isso, prometem, sem contas a prestar no fim.
A meu ver, esse comportamento que fez escola persiste porque tiveram, no passado, alunos - que é como quem diz seguidores – obedientes, disciplinados, manipulados. Uma das formas mais subtis de condicionar o pensamento livre é colá-lo a um grupo concatenado, como fizera em tempos meu amigo Olavo Correia, quando chamou de boiada de serviço àqueles que opinaram contra seu viés. Ou o PAICV que, sempre que cutucado, mete o milho e o farelo no pilão do MpD.
Recentemente alguém sugeria aos eleitores que aceitem todo e qualquer dinheiro que se lhes ofereçam durante e campanha, mas que votem em consciência. Que consciência? Ensinar pessoas a serem desonestas, falsas, corruptíveis? É esse eleitorado que se quer, manipulável, submisso ao escudo, vassalo da sua própria incompetência.
Há dias, num post na rede social Facebook, escrevi que por causa da forma radical e virulenta como os partidos.cv vêm fazendo política, qual terra queimada, muitas pessoas estão a fugir das assembleias de voto. Gualberto do Rosário, antigo vice-primeiro ministro e um dos grandes cérebros deste país, comentou que seria por causa disso que até competentes quadros nacionais (ele não o disse nestes termos nem com estas palavras) estarão fora da política. Concordo. E digo mais: os melhores já não suportam a não-política cabo-verdiana, estéril de ideias, oca de pensamento e beligerante de si mesma.
E porque há fuga de cérebros na política doméstica, rareiam projectos eleitorais, inexistem ideologias (se é que os houve a partir de 2000). Porquê nos descemos tão baixo, quando todos os índices internacionais nos colocam lá em cima em democracia? Porquê atacar sem nada para defender? Podemos sempre inverter esta queda, porque, ao fim e ao cabo, o nosso único recurso endógeno somos nós mesmos. Só isso para sermos felizes e prósperos. Haverá jantar.
Comentários
Manuel Graciano Moreno Rocha, 1 de Nov de 2024
kkkkk, interessante, caríssimo
Tens razão, também, nesta tua análise
kkkk
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António Amorim, 31 de Out de 2024
Na democracia cada um um pode expressar as suas ideias.
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Ernesto Rodrigues, 30 de Out de 2024
GOSTEI DO ARTIGO!!
Seria ÓTIMO se os "nossos políticos", refletissem com o que foi dito neste ARTIGO.
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Casimiro centeio, 30 de Out de 2024
* Na contramão ...
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Casimiro centeio, 30 de Out de 2024
Concordo plenamente com conteúdo do teu raciocínio, Caro Hermínio!
Mas... só que tenho a dizer que esses ditos "democratas" ( desta vez não menciono os nomes) são como um sinal de trânsito proibido, que indica para onde não se deve ir, mas que nunca o respeitam. Metem sempre nessa direção perigosa e proibida! No contramão que pode ser, por vezes, letal...
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