O Azul marinho dá lugar à cor da lama quando as cheias fazem-se dona das ribeiras e das praia seus estuários para fertilizar o mar.
Aqui se assiste a mais um fenómeno natural que nossa condição de território de baixas e irregulares precipitações questiona e põe em causa, induzindo o Estado e seus Governantes a mobilizar milhões para desenvolver projectos estruturantes de retenção das águas, com o forte argumento de que a água de rega é uma prioridade e que a agricultura é a principal atividade económica rural, tendo até uma delegação administrativa e técnica em cada município do país. Entretanto, é sempre, tecnicamente, prudente, considerar o factor equilíbrio e a transversalidade da sustentabilidade ambiental, ecológica, económica e social ao tratarmos do processo de desenvolvimento de um sector, sem pôr em causa a fragilidade de outros de igual ou relativa importância.
"A terra é que fertiliza o mar."
Conhecer este principio, básico nos permite rever o ciclo natural da água e concluir que com a queda das precipitações, auxiliado pela gravidade e a topografia do relevo com fortes e ou moderadas pendentes, a água se direciona sempre para o mar, transportando consigo toda a matéria orgânica em decomposição e ou já incorporadas ao solo, contendo elementos essenciais necessários ao aproveitamento das plantas- Nitrogénio ou Azoto (N), Fósforo (P), Potássio (K), Sódio (Na), Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg).
Sucede que o mar, tal como a terra, são ecossistemas dinâmicos e produtores de vida, por isso, suas funções de regeneração, respeitam o princípio da complementaridade ecossitémica, depositando desta forma, no mar o fertilizante através da torrente das cheias.
O ecossistema marinho e costeiro agradece, na medida em que os ovos depositados em seus fundos arenosos geram nossas vidas em ambiente fertilizado e estas por sua vez encontram o fitoplanton (vegetação marinha)- limo e outras plantas marinhas, da qual os alevinos se alimentam, crescem para formar espécies adultas, prontas para satisfazer a demanda do sector pesqueiro costeiro artesanal e consequentemente o rendimento das populações costeiras, a restauração, o setor turístico, enfim, aqui se forma uma cadeia que acaba por afetar o Produto Interno Bruto da Nação.
Agora sim, os tubérculos, leguminosas, cereais, hortaliças e frutas, encontram alternativa à carne e aos ovos, no balanceamento necessário à segurança alimentar, como determinam os objectivos gerais da base de manutenção de alguns Ministérios suportados pelo Estado e seus orçamentos em nome do Povo.
É preciso perseguir e encontrar o equilíbrio na gestão, onde as decisões e suas ações respeitem os princípios do equilíbrio ambiental e ecológico, da transversalidade integral dos ecossistemas e da segurança e autosuficiência alimentar, todos ao serviço do bem-estar coletivo, da justiça, felicidade individual e social.
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