Em Portugal, o novo ano está sendo marcado por uma forte luta dos Professores por melhores condições de trabalho e, sobretudo, por uma melhor Escola Pública. Esta é uma luta do Estado, pelo que estão de parabéns! Na verdade, com Professores em condições precárias de trabalho e com uma Administração Educacional, marcadamente, centralizada, é muito difícil falar numa Educação de Qualidade e, consequentemente, é pouco razoável falar no desenvolvimento, ou no progresso e bem-social.
A situação socioeconómica e cultura de Portugal (o bem-estar social), assim como as condições de trabalho dos Professores é, sem dúvida, muito melhor do que em Cabo Verde. No entanto, mesmo assim, os Professores, indignados com a precariedade laboral e cientes das suas importâncias, enquanto fator-chave para a Qualidade da Educação, como vários estudos internacionais recentes têm indicado, encheram-se de coragem para, neste ano de 2023, se fazerem ser respeitados e valorizados, à semelhança do que aconteceu em países como Alemanha, Holanda, Finlândia, Singapura, Coreia do Sul e a Islândia, para o bem de Portugal.
Em Cabo Verde, a situação de precariedade por que passam os Professores é ainda maior. É uma profissão não adequadamente valorizada pelo Estado e sem qualquer prestígio social, seja de que nível for, o que por si só faz deste Estado um Estado pobre, por não conseguir perceber corretamente qual é o valor de um Professor numa sociedade e num país que almeja desenvolvimento. Tanto é assim que, quase 50 anos depois da independência, o país não conseguiu dispor-se de uma Política Nacional para a Docência. Isto é ilustrador do quanto o Estado não valoriza, como deve ser, o Professor e o seu trabalho na sociedade, não obstante os discursos políticos, por vezes, arrojados em determinadas circunstâncias. A essa contrariedade entre as retóricas discursivas e a prática, configurando-se numa falsidade ideológica, imagino que, eventualmente, não é premeditada, mas sim resultado de um certo desconhecimento técnico-científico em como proceder-se nas Política e Administração Educacional. Aliás, tenho por mim que, uma das nossas maiores fraquezas neste país não está tanto no “saber o que fazer”, mas sim no “como fazer” e “porquê fazer”.
Com Professores a trabalharem em condições de precariedade, marcadamente, por salários que mal chegam para o fim do mês; em escolas, muitas delas, degradadas e, quase sempre, sem condições sanitárias adequadas; e com a “obrigação” de terem que assumir despesas com materiais didáticos e a Internet para o trabalho e, a tudo isso, associado às dificuldades nas progressões e reclassificações na carreira, um problema que se estende do Ensino Básico ao Superior (sendo na Uni-CV um caso gritante!), é muito difícil fazer a Educação cumprir o seu desígnio que é o de qualificar pessoas para que possam ser verdadeiros cidadãos (zelosos de si e do bem-comum) e produtores de conhecimentos indispensáveis ao progresso e o bem-estar de todos nós. Por tudo isto, vale a pena a luta que os Professores de Portugal estão a fazer, na certeza de que Portugal agradece, amanhã, assim como a Alemanha, a Holanda, a Coreia do Sul, a Singapura, a Finlândia e a Islândia estão a agradecer aos seus Professores, hoje. Talvez, um dia Cabo Verde, também, saberá valorizar os seus Professores e agradecê-los.
[1] Arnaldo Brito é Professor Doutorado em Administração Política Educacional, Mestrado em Organização e Administração Escolar. É Professor/Investigador na Universidade de Cabo Verde e é Presidente do Conselho para a Qualidade na mesma Universidade.
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