A ciência já provou 'N' vezes que os animais, sobretudo cães, são inteligentes, sentem dor e têm vidas sociais complexas. Os servidores da Câmara Municipal da Praia terão, porventura, essas qualidades? Algum dia sentirão remorsos pelo exterminio público de seres indefesos, cujo único crime foi terem nascido num lugar errado?
Se capturar os cães nas ruas da Praia para os ir deitar no lixo já é feio, matá-los é indecente e a forma como a Câmara Municipal da Praia os executa - choque de 280 volts no ânus - é de uma crueldade extrema, um acto vil e hediondo. Só no ano passado, a autarquia de Óscar Santos torturou e matou 1600 cães!
Mas não vou debruçar-me sobre esta barbárie porque muito já se escreveu sobre o assunto, perante a insensibilidade grosseira e baixa da CMP.
Opto desta vez por alumiar a um aspecto também ele reprovável: o desprezo que a CMP tem para com as pessoas da Praia. De facto, não é de hoje que os bosses do principal município do país foram avisados e aconselhados acerca do seu método de redução da população canina, mas sempre fizeram orelhas moucas e, na maior parte das vezes, sequer reagiram às denúncias de associações e grupos que querem resgatar esses animais, dando-lhes lar e merecido afecto.
Pelo contrário, a Câmara capitalina, depois de assinar um acordo com o MCCR, o movimento que leva carinho para as ruas da cidade, insistiu em abater os cães que encontra na rua, muitas vezes à socapa, e outras tantas descaradamente, sem o mínimo de consideração para as associações de defesa dos animais e até de respeito para com países e cidades estrangeiras amigas que são altamente sensíveis a esta matéria.
A desconsideração da CMP para com a imprensa local e a população da Praia chegou, enfim, a um ponto em que a comunicação só foi num sentido, ficando os autarcas em arrogante silêncio sempre que chamados a capítulo. De repente tudo mudou, ou seja, bastou a imprensa estrangeira (sobretudo a portuguesa que fez eco da barbárie municipal em Cabo Verde) tocar na ferida para um enverghonhado vereador António Lopes da Silva sair da toca tentando justificar o injustificável.
Bem, Tóber deveria ter ficado calado, mas perante a dimensão internacional do massacre animal que vem patrocinando, resolveu esclarecer que tudo não passa de "manobras de manipulação" da oposição, mesmo depois de ele mesmo confirmar a morte, pelas mãos do seu município, de 1600 cães só em 2018. Porque, disse, esta é a melhor solução: matar para reduzir. E mais uma vez ignorando quem quer ajudar a cuidar, criando condições, pedindo ajudas... seja o que for. Fosse sensato, o vereador não diria o que disse, pois coloca toda a comunidade que luta em prol dos animais no mesmo pacote do PAICV, como se ninguém gostasse de cães, como se nada mais existisse, todo o mundo é tapado. Importa é a luta política entre PAICV e MpD, o resto (animais e praienses) que se lixe.
A Provedora de Animais de Lisboa já prometeu ajudar (que é para isso que servem os amigos), agora é esperar pela reacção da CMP.
Enquanto isso, cabras e vacas deambulam nesta Praia cosmopolita a procurar comida em contentores de lixo - e em bairros ditos nobres - na barba cara dos autarcas dog killers. Animais que depois são abatidos pelos desconhecidos donos e as suas carnes vendidas a esses carrascos caninos com sintomas de elitismo exarcebado. Do Ministério da Agricultura nem sinal. Claro, há que defender os amigos, ainda que à custa da saúde pública.
Eis, enfim, o exemplo que a Praia do Jazz, do AME, das ruas coloridas, dos pedonais dinâmicos, esta Praia elitista e ultraurbana, que mal vê para os subúrbios, dá para o mundo.
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