Ambiente

Surge em 2020 na ilha de São Vicente, ao ser selecionado para o Salão Created in Cabo Verde da URDI2020, e que em 2021, ganha território na ilha de Santiago onde assume uma vertente participativa. A distinção com o prémio IIT2020 - Investigação, Inovação e Território - do Centro de Estudos Ibéricos e como projecto satélite da Porto Design Biennale 2021 - com o nome “exploratório com impact: design participativo para o habitat dos 99%” - permitiu às autoras do projecto propor uma ramificação em que pudessem trabalhar com as mulheres da apanha da areia do interior de Santiago.

As distinções do projecto permitiram às arquitectas portuguesas Inês Alves e Lara Plácido, residentes na ilha de São Vicente desde 2015, propor uma estadia continuada ao longo de 3 meses na Ribeira da Barca, onde ambicionaram desenvolver uma abordagem experimental de co-design, desde a concepção à prototipagem, de um novo elemento construtivo.

Neste sentido, entre Abril e Julho, trabalharam junto das mulheres da apanha da areia, ambicionando reinventar uma actividade económica que pudesse contribuir para esta comunidade, que nas últimas décadas forneceu os inertes necessários para fazer frente à demanda construtiva que se impôs. Hoje em queda, devido ao reforço da fiscalização e à introdução da areia de britadeira no mercado, torna-se urgente reinventar as dinâmicas económicas de uma vila piscatória à qual até peixe parece já não chegar, colocando um sem número de famílias vulneráveis em risco eminente.

O processo de trabalho propôs acompanhar as mulheres na labuta da areia - quer no Charco quer na Ribeira - traçando um mapeamento etnográfico do local e, através de sessões informais de trabalho, experimentar formas e composições possíveis para uma lajeta de pavimento, aquele que se tornou o segundo elemento do sistema construtivo impact. Esta lajeta de pavimento pretendeu, por um lado, dar resposta aos plásticos existentes em abundância no território - quer por falta de recolha, quer por falta de consciência ambiental - e, por outro, apelar à identidade santiaguense e cabo-verdiana em geral, através da reinterpretação do padrão do panu di téra. 

Ao longo do período de estadia - que contou com o apoio dos parceiros ICIEG Instituto Cabo-verdiano para a Igualdade e Equidade de Género e Associação Tcheka e Amigos da Ribeira da Barca - foram testados os desenhos e afinado o traço da argamassa, bem como o custo de produção e de venda ao público, sendo que 1 lajeta de pavimento impact equivale a 1 garrafa PET de 1,5L.

De volta a São Vicente, as autoras do projecto têm vindo a trabalhar numa segunda fase para a formalização do impact, promovendo a divulgação do trabalho, nomeadamente junto de novos parceiros, para que se possam reunir condições para estabelecer na Ribeira da Barca uma unidade de produção e venda de lajetas de pavimento produzidas por essas mulheres, maioritariamente chefes de família, e que ao longo das últimas gerações viram na apanha de inertes o único meio de subsistência.

Inês Alves & Lara Plácido

+info: projetoimpact.org