Um terço dos cabo-verdianos considera “preocupante” casos de assédio sexual nas escolas – Afrosondagem
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Um terço dos cabo-verdianos considera “preocupante” casos de assédio sexual nas escolas – Afrosondagem

O estudo da Afrosondagem revelou que um terço dos cabo-verdianos consideram “preocupante” casos de assédio sexual registados nas escolas, em que as meninas são vitimas dos professores, informou hoje o director-geral, José Semedo.

A mesma fonte avançou estas informações à imprensa, à margem da cerimónia de lançamento dos dados de um inquérito conduzido pela Afrosondagem/Afrobarometer sobre a qualidade da democracia e governação em Cabo Verde, realizada na cidade da Praia.

“Há um aspecto preocupante, que tem a ver com a questão do assédio sexual nas escolas. Cerca de um terço dos cabo-verdianos consideram que as meninas são vítimas de assédio sexual por parte dos professores.  Esse é um aspecto, provavelmente, dos mais preocupantes nesse estudo e que deverá ter atenção por parte das autoridades ligadas ao Ministério da Educação”, declarou.

Adiantou que o estudo revela que a maioria dos cabo-verdianos considera que as mulheres devem ter igual direito que os homens em ter acesso ao emprego e que, por outro lado, não há nenhum impedimento de parte dos familiares em discriminar os indivíduos de sexo feminino de terem acesso à educação.

“A educação é um bem básico da população.  Há muitos sucessivos governos que têm dado prioridade a esse setor.  Com claros resultados, nós vemos que as mulheres têm mais mulheres na educação e concluíram o ensino secundário comparativamente aos capazes”, indicou.

Outro aspecto que o estudo revela, prosseguiu, é a mulher na política, em que 21% dos cabo-verdianos consideram que as mulheres têm o mesmo direito que os homens de serem eleitas para cargos políticos.

“A lei de paridade de uma forma geral está a ser observada. Tanto é, os cabo-verdianos de uma forma geral, independentemente da lei, já têm essa cultura, pelo menos já estão a ter essa cultura, de que há ou deve haver uma paridade entre as mulheres e os homens para serem eleitos nos cargos políticos”, salientou, afirmando que muitas mulheres não estão na política porque essa área tem sido considerada “agressiva” pela classe feminina. 

Mas, por outro lado, apontou o director-geral da Aforsondagem, mais de 60% dos cabo-verdianos consideram que a polícia e os tribunais são entidades deveriam ter um “papel importante” na protecção do primado da lei, ou seja, deveriam fazer mais para proteger o direito das mulheres.

Questionado sobre recomendações extraídas do referido estudo, disse que no que se refere a protecção do direito das mulheres, as autoridades devem agir “o mais rápido possível”, evitando assim casos de feminicídios em Cabo Verde e combater neste sentido a morosidade da justiça.

José Semedo informou ainda que o referido estudo abrangeu 1.200 cabo-verdianos das ilhas de Santiago, São Vicente, Sal e Fogo, com um intervalo de confiança de 95% e uma margem de erro de mais ou menos 2,5% e foi realizado entre 27 de Agosto e 10 de Setembro de 2024.

Por seu turno, vez a coordenadora de área de autonomia na tomada de decisão, do Instituto Cabo-verdiano de Igualdade e Equidade do Género (ICIEG), Anilsa Gonçalves, ao abordar a problemática do assédio sexual, disse que a instituição está ciente sobre a existência desse fenómeno que tem afectado meninas e mulheres em todo o mundo em geral e Cabo Verde em particular.

“É um tema que estamos a trabalhar e nós reconhecemos a preocupação, a gravidade da situação e a necessidade de debater e sensibilizar esse tema sem tabu, de forma descomplexada, para que possamos realmente construir políticas e medidas, porque é um tema que preocupa e que clama por medidas assertivas e eficazes para responder a essa questão”, frisou.

Por sua vez, a presidente da Associação Cabo-verdiana de Luta Contra Violência Baseada no Género (ACLCVBG), Vicenta Fernandes, lamentou o facto de essa questão ser tratada com morosidade e de não haver respostas a tempo por forma a amparar as vítimas.

“É um dado muito preocupante e nós sabemos disso e eu acho que medidas e políticas públicas devem ser tomadas, devem ser cada vez mais incentivadas, pesquisadas para que todos nós possamos viver livre. O importante não é o número nem a percentagem, o importante está aí a vida das pessoas”, defendeu, salientando que muitas vezes as vítimas não denunciam por medo e de a questão ter sido normalizada.

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