Os catadores de lixo que têm nesta profissão a busca do sustento reclamam, em declarações à Inforpress, falta de apoio e de materiais de higiene para uma vida mais saudável.
“Somos os catadores de lixos que vão aos contentores recolher restos de alimentos para porcos, garrafas de vidros para venda e materiais recicláveis para transformação, mas a nossa profissão é pouco valorizada já que não temos apoio para uma sobrevivência mais saudável”, disse Beto, que compartilhou a sua luta diária para ter o que comer.
O homem que diz que esta rotina é a sua vida, seu trabalho e fonte de renda, afirma não ter preocupações maiores, apesar das dificuldades relacionadas às doenças e higiene.
“É o meu ramo de negócio onde encontro o meu sustento e ganha-pão”, indicou.
Nessa profissão, que diz ser o seu pequeno negócio, Beto relatou os obstáculos e problemas enfrentados por não ter materiais adequados para recolha das garrafas, afirmando ter contactado a câmara municipal por várias vezes para que lhe ajudassem com kits de higiene.
Afirma ainda que as cartas enviadas às câmaras municipais e ao Ministério da Família resultaram sem qualquer resposta.
Por este motivo diz sentir-se ignorado por acreditar estar batendo em “portas fechadas”, ou por ser apenas um catador de garrafas.
“Já pedi ajuda para obter kits de higiene, com máscaras e luvas, nas câmaras municipais, no Ministério da Família e até escrevi cartas, mas nunca recebi resposta, sempre me mandam embora da porta e pedem para voltar no dia seguinte” explanou.
O seu “pequeno negócio”, segundo conta, dá para pagar a outros com maior necessidade que lhe ajudam a lavar as garrafas que vende aos clientes fixos, sendo a maioria de São Domingos.
Cada saco de garrafas recolhidas e lavadas, e que contém 156 garrafas, é vendido por 400 escudos.
João, por seu lado, catador de restos de comida para vender às pessoas que criam porcos, relatou situação idêntica e preocupações com o facto de entrar no contentor à procura de sobras para vender.
“Sem ajuda e quem nos instrui sobre o que fazer e como fazer o meu maior medo é apanhar uma doença contagiosa já que não disponho de materiais de higiene para salvaguardar a minha saúde”, disse, salientado o preconceito que tem sofrido por estar a buscar o ganha-pão.
Apesar disso, o ponto mais crucial do lixo, constatado pela Inforpress, são os amontoados de resíduos que se acumula nas ruas do concelho da Praia, por atrasos na recolha e indisciplina dos munícipes.
Estes, mesmo com conhecimento das doenças a que estão sujeitos, lançam sacos com restos das suas residências, em zonas proibidas.
Os contentores são revirados, roubados e até queimados, e a situação se tem agravado com a presença de cães que espalham o lixo pelas ruas.
Todo esse panorama constatado pela população praiense, segundo Maria da Luz, mostra a necessidade de se começar a pensar na separação e coleta selectiva do lixo no município da Praia, que tem sido fustigado pelos resíduos gerados pelos bares, lojas e não só.
“Os bares que operam nos subúrbios da capital quando deparam com os contentores cheios deitam as garrafas, em grande quantidade, no chão”, disse Maria da Luz, afirmando que o cenário é caótico aos fins-de-semana.
A Inforpress tentou por todas as vias falar com a responsável por este sector na câmara municipal, mas até a publicação desta reportagem não obteve resposta.
No entanto, a Inforpress soube de fontes da autarquia da Praia que a instituição camarária está a trabalhar num projeto para a separação e reciclagem do lixo.
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