A direcção da Associação Sindical dos Jornalistas de Cabo Verde (AJOC) classificou de “frágil e imperfeito” o sistema da democracia cabo-verdiana e acusou o Governo de “condicionar o trabalho dos jornalistas”, mediante a “instrumentalização dos órgãos públicos”.
Esta revelação foi feita pelo presidente da AJOC, Carlos Santos, durante a conferência “Desenvolver a promessa democrática: reforçar a formação mediática e o combate à desinformação em Cabo Verde”, ao denunciar a escolha de “comissários políticos” para a gestão da Rádio televisão Cabo-verdiana (RTC) e Agência Cabo-verdiana de Noticias (Inforpress) e “intromissão” do conselho de administração da RTC na esfera editorial das rádios e televisão públicas.
Revelou ainda a prática da “censura em toda a linha” e a “propaganda dos actos dos governos” através dos alinhamentos dos telejornais, a suspensão dos programas de “grande informação” da RCV e na TCV, e a na “captura das grelhas” de informação dos órgãos públicos com programas institucionais “feitos pelos gabinetes de comunicação social dos vários ministérios”.
Os dois primeiros anos da governação do Movimento para a Democracia (MpD, poder) têm sido, para o líder da nova direcção da AJOC, marcados por “postura excessivamente crítica” do ministro que tutela a comunicação social em relação ao desempenho dos meios de comunicação social e aos trabalhos dos jornalistas.
Afirmou ainda que a “troca de galhardetes” entre o ministro que tutela a comunicação social e a classe jornalística atingiu “nível preocupante em 2017”, num episódio que viria a ser recordado pelo “Relatório do Departamento do Estado Norte-americano” que, pela a primeira vez, indicou, inclui a liberdade de imprensa como um aspecto onde o país “parece estar a recuar”.
Na sua intervenção, Carlos Santos disse que o conselho de administração da RTC está a “afrontar os jornalistas” da rádio e televisão públicas com o “Código de Ética e de Conduta”, que para a direcção da AJOC representa “um recuo sem precedente” na liberdade de imprensa e no direito à liberdade de expressão dos jornalistas cabo-verdianos.
Recordou que a anterior direcção já manifestara vários aspectos considerados inconstitucionais no “Código de Ética e de Conduta”, documento que para Santos não tem outra intenção senão “silenciar e chantagear” os jornalistas.
“Para a AJOC e para todos os jornalistas da RTC é cada vez mais evidente que esse código não é uma iniciativa do conselho de administração da RTC é antes uma orientação transmitida pela própria tutela aos gestores da empresa”, elucida Carlos Santos, que acusou ainda a Agência Reguladora da Comunicação Social (ARC) de “enterrar a cabeça na areia” quando chamado a se pronunciar sobre o também conhecido por “Código da Vergonha”.
O relacionamento entre os jornalistas e o Governo, esclareceu Carlos Santos, tem sido marcado por “alguma crispação e tensão” que “não abona e não leva a lado nenhum,” salvaguardando as autonomias, as independências, os papeés e as atribuições do sindicato dos jornalistas e do Governo.
Ao longo da sua intervenção, o novo presidente da AJOC prometeu toda a abertura para trabalhar com o Governo com vista a identificar e resolver os problemas por que passa a classe, no quadro de uma nova plataforma de entendimento quanto ao exercício do jornalismo e a comunicação social no arquipélago.
Apontou o reforço da liberdade de imprensa, a dignificação da profissão de jornalista e a melhoria do desempenho dos bens de comunicação social como metas da AJOC visando a defesa da liberdade de imprensa e o direito dos cidadãos a uma informação rigorosa e de qualidade.
Com Inforpress
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