Sou cabo-verdiano e sou da diáspora: uma Utopia Necessária
Ponto de Vista

Sou cabo-verdiano e sou da diáspora: uma Utopia Necessária

Subtil, mas repetidamente, sente-se perpassar na atmosfera político-nacional, da importância da nossa diáspora, a sua força e capacidade, mas também, ao mesmo tempo, ouvem-se lamentos, de desinteresse e falta de participação dos emigrantes, nos planos de recenseamento, nas organizações e manifestações de cariz patriótico etc. Porém esta pode ser uma das soluções, para os nossos problemas que, apesar das múltiplas vantagens, parece que os nossos sucessivos governos teimam em não dar importância. Senão vejamos: mesmo que fosse como um exercício teórico, as virtudes de uma aliança ou anexação da diáspora, plena de direitos e estatuto, pactadas constitucionalmente como sendo a 11° ilha do Estado de Cabo Verde extraterritorial, a criação de um ministério do emigrante, dotado de plenos poderes, com órgãos próprios criados de raiz para satisfazer as necessidades dos nossos emigrados, como o Itamaraty Brasileiro, ou numa vertente mais mercantil e virada para o comércio a made in spagna, made in italy, são apenas alguns exemplos de sucessos.

Todos os prognósticos e cálculos eleitorais em Cabo Verde apontam para um horizonte instável e de incertezas: com um próximo governo débil, sem uma maioria coerente no parlamento, para aventurar sequer reformas estruturais, submergido numa eminente crise económica mundial, protagonizada pela pandemia e sem nenhum partido neste momento, como seria idóneo, que goza de credibilidade, liderança e respaldo total da sociedade civil, para em solitário sacar as profundas reformas que se requer para tirar o Pais da crise- oxalá uma reforma constitucional.

A total desordem que nos sumiu a pandemia, requer que se enuncie a todo o tempo, instruções para amainar a confusão, e manter o aparente controle. A “peste” mudou completamente os nossos hábitos, maneira e sobretudo ameaça a nossa liberdade.

O desconforto social e económico da população, exigem respostas contundentes e eficazes, livres da burocracia e de promessas que penhoram a nossa dignidade. Evitar o colapso económico-financeiro, o deterioro do estado de direito e dos valores democráticos deviam ser meta a alcançar do próximo governo eleito, para a salvaguarda do nosso estado social.

Coincidência ou não, os recentes casos de escândalos nacionais, o do cidadão Amadeu Oliveira, e do empresário Venezuelano Alex Saab, vieram trazer a luz alguns dos maiores problemas que assolam o nosso país: a desaforada competência, abusos de privilégios e, sobretudo, uma gravíssima perda de valores por parte de uma elite que, numa sociedade sana, devia ser referência e vanguarda.

Muitas das dificuldades que hoje enfrentamos em Cabo Verde tem a ver com o fracasso das elites, a ruptura entre a elite urbana refugiada na sua bolha moral e o resto dos cidadãos, lutando diariamente e de sol a sol pela sobrevivência.

Cabo Verde precisa reforçar a sua estratégia diplomática(através de um pacto de Estado), no plano geopolítico, com uma visão clara, e por uma defesa consistente dos interesses nacionais, mas também criar outras fórmulas para garantir a estabilidade, através de um forte incentivo na investigação académica e científica, para promover a inovação como solução para a crise económica.

Criar um fórum capaz de reunir quadros, incluindo cientistas e investigadores (tambem da diáspora), com o propósito de promover a troca de informação, redes de solidariedade e a procura de contributos para a salvaguarda do sistema cientifico e tecnológico nacional.                                                                        

Tornar a economia humana, baseada numa ecologia de saberes, e que não seja pensada fora das pessoas, dos seus reais interesses e actividades.

Descomplexar e incentivar um mapeamento de todos os bairros, transformar as nossas ruas e cidades em patrimónios materiais e bens comuns da populacao, se queremos apostar num turismo de qualidade, e criar postos de trabalho para os jovens. Outro senão continuamos na mira, apenas do turista de sol e praia.

Criar um mecanismo independente que avalie as prestações dos nossos actores políticos, dando lugar ao mérito e excelencia, erradicar assim de vez, a cultura do padrinho e conluio das estruturas do poder.

Subtil, mas repetidamente, sente-se perpassar na atmosfera político-nacional, da importância da nossa diáspora, a sua força e capacidade, mas também, ao mesmo tempo, ouvem-se lamentos, de desinteresse e falta de participação dos emigrantes, nos planos de recenseamento, nas organizações e manifestações de cariz patriótico etc. Porém esta pode ser uma das soluções, para os nossos problemas que, apesar das múltiplas vantagens, parece que os nossos sucessivos governos teimam em não dar importância. Senão vejamos: mesmo que fosse como um exercício teórico, as virtudes de uma aliança ou anexação da diáspora, plena de direitos e estatuto, pactadas constitucionalmente como sendo a 11° ilha do Estado de Cabo Verde extraterritorial, a criação de um ministério do emigrante, dotado de plenos poderes, com órgãos próprios criados de raiz para satisfazer as necessidades dos nossos emigrados, como o Itamaraty Brasileiro, ou numa vertente mais mercantil e virada para o comércio a made in spagna, made in italy, são apenas alguns exemplos de sucessos.

As características desta aliança, passam primeiramente por uma directa representação dos emigrantes, e dos seus interesses no parlamento, uma vez que os representantes partidários pouco ou nada resolvem ( peca pela ausência e desinformação dos reais problemas), porque aporta uma visão diferente da realidade, que pode ser resto aplicável no interior do país, além de poder servir como um contraponto, na medida em que revisa as condições oferecidas por parte de todos os países que acolhem a nossa comunidade emigrada. E já que a sua representação seria proporcional ao número de eleitores inscritos, de resto como defende o nosso código eleitoral.

Contudo vale a pena lembrar que as condições para este pacto são fáceis, traduzidas no imenso orgulho do povo cabo-verdiano de contribuir para o desenvolvimento do nosso Pais, e a repercussão seria vantajosa. Os benefícios seriam não só a nível económico, mas também cultural, científico, de intercâmbios e no plano integracional.

Existem dezenas de casos de sucesso nesta matéria, e gostaria de aqui sublinhar o exemplo da diáspora judaico-cristã, que mesmo estando fora da Palestina ocupa um papel importante no palco internacional e prontificando-se como os verdadeiros guardiãs do Estado-hebreu.

Aquele que viria a ser o Pai fundador da nacionalidade Guineense e Cabo-verdiana, nasceu, viveu e morreu fora de Cabo Verde.

Lucca, 15/03/21

*Membro da diáspora, Politólogo

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