Cabo Vede é hoje um Pais da Mentira. Um país de Passadores de Pau, como diria o médico/escritor Arsénio de Pina. A mentira foi institucionalizada, começando nos altos dignatários da Nação até aos vagabundos das urbes. O espertalhão roubou lugar ao inteligente. O que importa é poder passar pau hoje, não importa a quem. E amanhã logo se vê.
Mohamed ElBaradei, antigo Diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (1997/2009), Prémio Nobel da Paz 2005, dizia há anos, depois de deixar essas funções na AIDEA, que esta é a “Era da Mentira”, no seu livro com o mesmo título.
Em Cabo Verde, acostumados que estamos em que o mal só acontece aos outros, ainda que seja o nosso vizinho, aqueles que tiveram a felicidade de ler as palavras sábias de ElBaradei, talvez tenham pensado que se passa apenas com os outros países lá distantes, os grandes e alimentadores dos grandes conflitos internacionais. Nada mais falso. Nós, Cabo Verde, estamos inseridos nessa Era da Mentira, sendo apenas que as nossas mentiras parecem pequeninas, à nossa dimensão, porque essa Era é também pandémica. Infeta-nos a todos.
Cabo Vede é hoje um Pais da Mentira. Um país de Passadores de Pau, como diria o médico/escritor Arsénio de Pina. A mentira foi institucionalizada, começando nos altos dignatários da Nação até aos vagabundos das urbes. O espertalhão roubou lugar ao inteligente. O que importa é poder passar pau hoje, não importa a quem. E amanhã logo se vê.
Nesta época de pandemia do Covid19 esta outra pandemia da mentira tomou dimensões perigosas. Nessa lógica de que todos podem ser enganados, a mentira nacional sobre a pandemia de Covid19 começou logo que foi anunciado em 2020, com o chefe do governo a proclamar para a Nação: “Cabo Verde está preparado para a pandemia”, quando o país nem sequer podia fazer um teste à Covid19; quando nenhum dos países ricos do Mundo estava preparado, como se viu. E daí em diante tem sido uma sequência de mentiras, como a sobreposição de blocos de cimento numa grande construção. Enquanto os ricos metiam na arena internacional todas as suas forças – serviços diplomáticos, serviços secretos e outros – primeiro para garantir a compra do máximo de testes; depois para compra do máximo de vacinas, mesmo antes de se saber da sua aplicabilidade, porém, aqui, o Rei e seus servidores, limitavam a garantir ao Povão - este que ama ser enganado - que não faltava dinheiro para compra, só que o mercado não oferecia o necessário. Sem jamais mexer o rabo da cadeira.
Uma Pandemia é uma guerra. E estando em guerra o país não pode esperar sentado para que lhe venham vender as armas. Na estratégia de combate tem que se ter em conta necessariamente o aprovisionamento.
Perguntava-me há dias um jovem porque Portugal nomeou para dirigir o Task Force para a vacinação um Contra-Almirante. Disse-lhe: é que Portugal desde cedo entendeu que estava em guerra contra um vírus terrível. E numa guerra a estratégia é determinante. E as altas patentes militares são estrategas, que tiveram como disciplina nuclear nas Academias Militares a estratégia. Ninguém melhor!
Aqui não podíamos fazer o mesmo porque a estratégia não é considerada, pois tomou o seu lugar o compadrio, que também assenta na mentira.
Vacinas
Vivo em S. Vicente. Ainda há pouco ouvia o primeiro-ministro exortando todos aqueles que tenham mais de 45 anos a se inscreverem para vacinar e que não deixem de ir vacinar. Mas cadê vacina? – Faço 69 anos à 16 de junho. Sofro de, pelo menos, duas patologias que em outras paragens conferem prioridade na vacinação. Inscrevi na plataforma, por telefone, à 26 de março. Aguardei, aguardei, sem qualquer sinal. Entretanto fui sabendo por conhecidos que tinham sido vacinados. Alguns mais novos do que eu e sem qualquer patologia. Então, em fins de abril, resolvi ir ao Centro de Saúde da minha área de residência. Enquanto esperava, falei com um rapaz, mais novo ainda que o meu filho codê, e este disse-me que tinha tomado a primeira dose uma semana antes. Reinscrevi e mandaram-me aguardar porque, diziam, na altura já não havia mais vacinas. Na semana seguinte o Diretor Nacional de Saúde, em conferencia de imprensa, dizia que iam começar a vacinar pessoas com 65 ou mais anos. Porém, acabo de chegar (hoje 28/05) do Centro de Saúde onde me informaram, mais uma vez: “neste momento não temos vacinas e ainda estamos na faixa dos 75 e mais anos”. Continuo à espera. Ou não?! Pois, acreditar em quem?
Em S. Vicente não há vacinas ou ela é aplicada secretamente aos “espertos” desta ilha, enquanto a Comunicação Social vai propagando a Mentira Oficial, alimentando a esperança do povo com a mentira institucional.
É admirável a cadeia da mentira instituída e cultivada em Cabo Verde. Porém, falando da Pandemia de Covid19, do que não podemos queixar é da SORTE.
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