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O discurso do Diretor Nacional da Educação é pura demagogia!
Ponto de Vista

O discurso do Diretor Nacional da Educação é pura demagogia!

De cada vez que vêm à comunicação social acusar-nos de falta de responsabilidade ou de direitos dos alunos, estão a desrespeitar-nos! E não vale a pena tentar mencionar um ou outro sindicato, como se fosse um grupo restrito de professores afetos a um sindicato apenas que está a manifestar-se. É preciso que todos nós estejamos cientes: a grande maioria dos professores nem sequer está filiada num sindicato. Quem está a manifestar-se e a dizer BASTA! são os PROFESSORES de Cabo Verde. Não há sindicato, não há cor, não há raça, não há religião. HÁ PROFESSOR DE CABO VERDE!!!!

Não há qualquer preocupação com os direitos dos alunos e muito menos respeito pelos direitos dos professores. Senão, vejamos:

            1 – TODOS os alunos foram avaliados. Todos os elementos de avaliação foram elaborados, corrigidos, classificados e entregues.

            2 – TODOS os pais/encarregados de educação que se dirigiram à escola tiveram informações sobre as notas e comportamento dos seus educandos através dos diretores de turma e dos professores das diferentes disciplinas.

            3 – TODAS as aulas foram dadas e as planificações cumpridas, como de costume. Não houve alunos sem aulas, à exceção dos dias de manifestação e greve, que são direitos salvaguardados a todos os trabalhadores pela Constituição da República de Cabo Verde. E, mesmo assim, nenhuma matéria ficou por dar!

Sendo assim, em que momento foram prejudicados os alunos? O que aconteceu é que as notas não foram lançadas no Sistema (SIGE)! Porquê? Porque o professor está CANSADO, SATURADO e ESGOTADO! Diferentemente daquilo que tem pregado o Ministério da Educação, não é apenas a questão salarial a reivindicação da classe docente. As promoções ou a atribuição de subsídios pela não redução de carga horária constituem exigências dos professores. Ainda faltam condições materiais para o trabalho dos professores e o aproveitamento dos alunos.

Está em causa a bola de neve de desconforto e desorganização construída pelo próprio Ministério da Educação. Reparemos: 

            1 – Prevalece falta de materiais e equipamentos.

Até há uns meses, quando se atingiu o ponto de saturação e os professores alertaram que não continuariam a utilizar os seus próprios meios para fazer os trabalhos de escola, como lançamento de notas no SIGE, nem sequer havia computadores e internet disponíveis para os professores na grande maioria das escolas. De repente, nos conselhos de notas do 1º trimestre, apareceram todos os meios necessários. 

            2 – Falta de programas.

Até hoje, no 11º ano, há pelo menos três disciplinas sem programa: TIC, Geografia, Programação e Literaturas de Língua Portuguesa. São os próprios professores, na sua boa-fé, que estão a criar os conteúdos para lecionar. E, por incrível que possa parecer, no final do ano, haverá provas nacionais…

Como será isso possível se não há uma orientação sequer do Ministério ou de qualquer responsável?

Onde está o tal respeito pelos alunos e pelos professores?

Como salvaguardar a tão propalada “educação de qualidade”, quando nem o programa disciplinar ainda é elaborado?           

          3 – Lançamento de disciplinas no plano curricular sem pessoal formado e preparado para as lecionar.

Por exemplo, a disciplina de espanhol. Deveria ter começado no 10º ano, no ano letivo anterior. Os alunos inscreveram-se e a disciplina foi colocada nos horários. Estes mesmos alunos estão agora no final do 11º ano, com um buraco no plano curricular. O professor nunca apareceu e o Ministério não ofereceu qualquer alternativa!

            Onde está a preocupação com os direitos dos alunos?

            É desta forma que se pretende equiparar o nosso sistema educativo com os países da OCDE?

            É deste modo que se quer preparar os alunos para competir a nível global?

            E o respeito pelos direitos dos professores? Como é que estamos?

          1 – Carreiras congeladas.

 Há professores com mais de 20 anos de serviço que nunca tiveram uma única promoção! NADA!

         2 – A reestruturação curricular.

A maioria das disciplinas sofreu uma modificação de 3 para 2 tempos semanais. O que é que isto significa para o professor? Um acréscimo significativo do número de alunos para poder cumprir a carga horária letiva semanal, muitas vezes, forçado a deslocar-se de uma escola para outra e a percorrer certas distâncias tipo bola de ping pong, para um lado e para o outro.          

         3 – A saturação.

Com tantos alunos e tantos itens de avaliação obrigatórios, os alunos estão sistematicamente a responder a itens de avaliação (testes, trabalhos práticos, trabalhos individuais, trabalhos de grupo…) e os professores a elaborá-los e a corrigi-los. O professor trabalha de dia, de noite, de madrugada, aos fins de semana, nos feriados, para ter tudo pronto atempadamente.

Que outra classe é que faz isso?

Com hora para entrar e sem hora ou dia para sair?

Portanto, é preciso que TODOS entendam que a questão aqui está muito para além daquilo que está a ser dado para ver.

Os professores estão cansados, saturados de trabalho, e ainda têm de levar com intimidações, ameaças, intransigências e falta de respeito.

Não pode ser! Não pode continuar desta forma!

Nós queremos ser valorizados pelo trabalho que fazemos e isso traduz-se também num salário digno e condizente com as nossas funções! Para poder estar numa sala de aula a lecionar um conteúdo, há tudo isto que está por trás! Quem tem coragem de dizer que os professores não têm o direito de estar indignados com a tutela?

De cada vez que vêm à comunicação social acusar-nos de falta de responsabilidade ou de direitos dos alunos, estão a desrespeitar-nos! E não vale a pena tentar mencionar um ou outro sindicato, como se fosse um grupo restrito de professores afetos a um sindicato apenas que está a manifestar-se.

É preciso que todos nós estejamos cientes: a grande maioria dos professores nem sequer está filiada num sindicato. Quem está a manifestar-se e a dizer BASTA! são os PROFESSORES de Cabo Verde.

Não há sindicato, não há cor, não há raça, não há religião. HÁ PROFESSOR DE CABO VERDE!!!!

Abril de 2024

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