Para mim a democracia, como conceito criado pelo homem, não é e nunca será produto acabado. Em Cabo Verde somos votados a alimentar e conviver irremediavelmente , ao fim do dia, com um sistema politico partidario bipolar.
Os dois maiores partidos do arco do poder, se revesam na governação de quinze em quinze anos, transformando-se em gémeos heterozigóticos, e em trinta anos comprometem o futuro de uma geração inteira .
Na realidade, estamos a ser conduzidos para um cenário incontornável, de não podermos vislumbrar mudanças estruturais e estruturantes relevantes, dependendo das opções dos dois partidos. Esta é a nossa condição.
Uma leitura possivel é que a democracia, em si, padece de um defeito congénito, quando aplicado no contexto de países com a nossa configuração política, social, economica e cultural; a bipolarização político-partidária em Cabo Verde é perfeita; esta condição é indirectamente sustentada por cerca de 95% da população. Que coisa? Ora, chamemos o animal pelo seu nome: a democracia não favorece os pactos de regime para a tomada de decisões estruturantes no sentido de impulsionar a almejada qualidade de vida dos cidadãos e da sociedade em geral, com saltos qualitativos .
Esta é a verdade nua e crua. Nós não somos e nem podemos ser escravos da nossa própria criação, da mesma forma que recusamos liminarmente sujeições a ditaduras e quejandos. Às tantas, nós consumimos e convivemos com a democracia, quiçá para a nossa satisfação pessoal, sendo portadores de um direito inalienável: o direito de votar, numa direção ou noutra, sem sermos coagidos ou perseguidos ( gó dzide kkk). Os elevados interesses da sociedade, a aspiração legítima da ocorrência de mudanças qualitativas maiores na gestão da coisa pública ficarão adiados sine die; em não havendo consenso em matérias que requeiram dois-terços do Parlamento, os Pactos de Regime, não passam de meras quimeras. Altamente perturbador, não é? Democracia, ê módi go?
*( cidadão )
Praia 4 de Dezembro de 2023
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